No passado, as etapas de um relacionamento de casal eram muito bem definidas e precisavam ser cumpridas. Todos passavam pelo flerte ou paquera, pelo “namorico”, pelo namoro sério e pelo noivado, para, enfim, chegar ao casamento.
Os casais que pulavam fases ou passavam por elas muito rapidamente sofriam o preconceito, a rejeição ou, na melhor das hipóteses, a crítica por parte da família ou da sociedade. Aos poucos, nas últimas quatro décadas, as etapas relacionais sofreram mudanças — resultado de transformações na sociedade e nas famílias, mas também do desejo das pessoas de se sentirem mais livres para agir “do seu próprio jeito”. As fases de avaliação e aprendizagem do relacionamento, consideradas rígidas e antiquadas, foram deixadas de lado. Como terapeuta que acompanha casais em processos preventivos ou curativos, constato que elas fazem falta. Certas dificuldades enfrentadas pelos casais que atendo poderiam ter sido evitadas ou minoradas se aquelas etapas relacionais tivessem sido vividas. Vejamos por quê.
O flerte ou paquera é o momento de mapear, à distância, quem é o outro e o que tem que lhe agrada. É a fase de fantasiar como seria estar junto, que prazeres e que dificuldades poderiam ter juntos. Depois, no “namorico”, o casal pode checar se as fantasias da paquera fazem sentido e avaliar o quanto é bom, de fato, estar na companhia do outro. Também pode avaliar se as diferenças entre o que foi imaginado e a realidade experimentada são possíveis de serem suportadas. É neste momento que um começa a aprender o jeito do outro e a se adaptar ele. Se isso for possível e não excessivamente doloroso, passa-se ao namoro, ou namoro sério, como dizem alguns. É a hora de avaliar o jeito do outro e o seu próprio frente a questões básicas e importantes de um relacionamento estável e comprometido: gostos, manias, projetos de vida, dificuldades, diferenças de jeito de agir e de valores, formas de lidar com o tempo, com o dinheiro, com as responsabilidades, o espaço e a importância que têm os filhos na vida de cada um, as crenças, a fidelidade.
Feita essa avaliação, se concluir que quer realmente ficar junto, o casal passa ao noivado, momento de fazer projetos conjuntos, definir contratos, questionar, flexibilizar e estabelecer modos de enfrentar aspectos da vida em comum.
Tudo bem pensado e resolvido, chega a hora do casamento. Os dois estarão prontos, afinal, para definir como será sua vida relacional — diferente da vida da família de cada um deles, porque esta foi construída, etapa por etapa, por eles mesmos. Terão uma base relacional sólida que correrá menos riscos nos futuros e inevitáveis momentos de crise e nos acontecimentos inusitados que podem surgir na vida de qualquer casal.
O importante, portanto, não são os nomes das fases, nem a rigidez ou a duração delas. O importante é a compreensão de que o relacionamento amoroso estável é o resultado de um processo de construção que deve ser levado a cabo pelas duas pessoas que se amam, em conjunto, e que só se concretiza de forma funcional e saudável se passar pelos momentos de aproximação, avaliação e escolha, que permitem ir ajustando — aos poucos e até que fiquem firmes — os laços que as unem.