De sexta a domingo, os atores Maria Clara Gueiros (47) Lucio Mauro Filho (38) e Malu Rodrigues (18) se dedicam a dar vida aos personagens Bruxa Má do Oeste, Leão Covarde e a menina Dorothy de O Mágico de Oz, musical de Charles Möeller(45) e Claudio Botelho(46), em cartaz no Teatro João Caetano, Rio. Há alguns meses, eles nem sonhavam viver esses personagens, tão conhecidos do público desde o início do século passado, com os livros sobre a Terra de Oz do escritor norte-americano L. Frank Baum (1856-1919) e, a partir da década de 40, com o filme O Mágico de Oz. “Sempre adorei o filme, um ícone, que passou por várias gerações, mas nunca imaginei fazer, ainda mais a bruxa. Estou amarradona, porque tive total liberdade para construir a personagem. O Claudio Botelho fez a adaptação do texto já pensando em mim e me deixou colocar todos os cacos que eu quisesse, confiando no meu bom senso. Estou muito feliz”, fala Maria Clara. “O leão é um personagem especial. Estava com meu monólogo, viajando pelo Brasil e pronto pra fazer uma temporada carioca, quando veio esse convite. De quanto em quanto tempo aparece um convite como esse? Acabei achando uma sorte ser eu o produtor do meu monólogo, só assim foi possível colocar no bolso para fazer em dezembro, tinha que ir ali a Oz rapidinho (risos)”, brinca Lúcio.
Às sextas-feiras, Maria Clara chega às 19h no Teatro João Caetano, para começar sua preparação para interpretar a Bruxa Má. Depois de vestir o figurino com que começa o espetáculo, ela se senta na cadeira da maquiagem para 40 minutos de caracterização. Além de pó e base na pele, são coladas próteses de um nariz e um queixo na atriz. “Estamos experimentando não colar a prótese do nariz nem do queixo, usar com um fiozinho de nylon, para facilitar, por causa da minha pele”, explica ela. No meio do espetáculo, ela se transforma na Bruxa Má do Oeste, com mais dez minutos de maquiagem verde no rosto e uma peruca. Aos 25 anos de carreira, iniciada no Tablado, Maria Clara é praticamente uma veterana em infantis. “É uma delícia fazer esse personagem, estou em casa. Já fiz muito teatro infantil e esse personagem tem uma semelhança, apesar da peça ser para todas as idades, mas tem uma pegada fantasiosa, não é um personagem realista”, diz ela, que de vez em quando tem a companhia do filho Bruno Gueiros (15), nos bastidores. “Ele é fofo, super companheiro. Apesar de ter a vida dele, os amigos dele, a gente sai muito junto também, não é filho?”, fala a atriz. Esse mês, a atriz começa a gravar como outra vilã, da próxima novela das seis, Novo Tempo. “A Neuzinha começa como a camareira da Maria Padilha, tenta tirar o lugar dela e consegue. Engraçado fazer duas vilãs na mesma época. O vilão é sempre mais colorido, dá mais pano pra manga, mais gostoso”, acredita.
Lucio Mauro Filho divide o camarim com Luís Carlos Miele (74), que faz o Mágico e ganhou uma música que não existe na peça original, com letra de Botelho sobre música de Harold Arlen, feita especialmente para ele. No espelho de Lucio, estão bilhetes dos filhos Bento (8), e Luiza (6) além de leões que ele ganhou de presente. “Fiquei meio temático nessa época de Mágico de Oz (risos), tudo de leão que as pessoas encontravam, lembravam de mim. Agora até o chaveiro da minha casa é de leão”, se diverte ele. O pilates e uma fisioterapia especial para o pescoço, peitoral e joelhos tem ajudado Lucio Mauro Filho a aguentar o peso de mais de seis quilos da fantasia do Leão Covarde. “Gravo de segunda a quinta A Grande Família, o que significa trabalhar de domingo a domingo, com requintes de crueldade de sábado serem duas sessões do espetáculo, tenho que chegar a 13h e fico até 23h”, conta Lucio. Aos sábados, ele acorda às 9h para fazer um treino corporal de 40 minutos e mais 30 minutos de aquecimento de voz. “Não é uma peça que você acorda e vai fazer. Nunca tinha feito um musical e descobri que durante esse período tenho que ser um atleta, me cuidar, não tem noitadas, bebedeiras, não pode, são coisas que não batem. Senão, no outro dia, o leão não vai. A fantasia pesa seis quilos, só a cabeça pesa quase dois quilos e ainda tem o suor que vai aumentando o peso”, pontua o ator.
Mas eles ressaltam que são sacrifícios que valem a pena, afinal é um espetáculo lindo, uma superprodução, com 35 atores, 16 músicos, 14 cenários, 300 peças de figurino, 150 profissionais no total e cerca de 9 milhões de reais de investimento na produção. Apesar da pouca idade, Malu Rodrigues está no sexto musical da dupla Möeller e Botelho (A Noviça Rebelde, 7 – O Musical , na temporada de São Paulo, O Despertar da Primavera, no Rio, Um Violinista no Telhado e um mês de Beatles num Céu de Diamantes) e na segunda protagonista. Ela foi a escolhida entre mais de três mil candidatas para ser a personagem eternizada por Judy Garland (1922-1969). “No Despertar, também era protagonista, mas eram quatro, nem se compara a essa, tinha um tempo de coxia, para respirar, ir ao banheiro. É mais difícil porque passo três horas em cena, não saio do palco nem pra fazer xixi, com sapato de salto. Não tenho nem o intervalo que todo mundo tem porque nesse tempo troco para o sapato de led do segundo ato, que acende, além do Totó no palco”, conta Malu. A peruca morena esconde as madeixas loiras tão conhecidas da personagem Bia, de Tapas e Beijos. “Ninguém sabe que sou eu, por causa da peruca. Estou até dezembro lá, o texto é ótimo, todo mundo é super fofo, tem tudo para dar certo sempre”. O espetáculo permanece em cartaz até até 7 de outubro.