Atriz da versão original de Vale Tudo foi destaque em Sítio do Picapau Amarelo e esteve em filme francês que ganhou o Oscar
Publicado em 09/04/2025, às 08h00 - Atualizado em 16/04/2025, às 08h15
Na primeira versão de Vale Tudo (1988), a atriz Zeni Pereira interpretou Maria José, a Zezé, funcionária da casa de Bartolomeu (Cláudio Corrêa e Castro). Uma das primeiras atrizes negras a conquistar espaço na televisão, Zeni participou de filme premiado no Oscar e foi destaque nas duas primeiras produções de Sítio do Picapau Amarelo. A intérprete morreu em 2002 após sofrer um derrame cerebral.
Zeni Pereira foi uma das primeiras atrizes negras a conquistar espaço fixo na televisão brasileira. Mesmo em papéis coadjuvantes, como a personagem em Vale Tudo, a atriz marcava presença e representava uma parcela das artistas negras invisibilizadas pelas tramas da época.
No remake, a personagem deixou de existir: Manuela Dias (47), autora da trama, inseriu mais personagens pretos em contextos externos ao trabalho doméstico e optou por não reproduzir o racismo velado da novela original, que tinha somente dois personagens negros — Zezé e Gildo (Fernando Almeida).
Muito antes de fazer parte do sucesso da Globo, Zeni já havia conquistado o coração do público infantil ao dar vida à icônica Tia Nastácia nas primeiras versões do Sítio do Picapau Amarelo, produzidas pela TV Tupi (1955) e depois pela TV Cultura (década de 1960).
A personagem, tão afetivamente lembrada por gerações, teve em Zeni uma intérprete calorosa e maternal. Essa representação lhe rendeu um reconhecimento que atravessou décadas, tornando-a uma das atrizes negras mais marcantes para a história da TV brasileira.
A versatilidade de Zeni também se estendeu às telas de cinema — inclusive, com uma participação histórica em um marco do cinema internacional. Em 1959, ela atuou no filme Orfeu Negro, uma produção franco-brasileira dirigida por Marcel Camus (1912-1982), vencedora da Palma de Ouro em Cannes e do Oscar de Melhor Filme Estrangeiro.
No longa, Zeni interpretou Georgina, participando de uma obra que levou o Brasil às telas do mundo com uma narrativa inspirada na favela carioca e embalada pela música de Tom Jobim (1927-1994) e Vinícius de Moraes (1913-1980).
Ao longo dos anos, Zeni participou de dezenas de filmes, incluindo produções nacionais e estrangeiras rodadas no Brasil, como Feitiço do Rio (1984), Gabriela, Cravo e Canela (1983) e Samba (1965). Mesmo quando não era protagonista, sua presença nunca passava despercebida.
A atriz morreu no dia 21 de março de 2002, aos 77 anos, vítima de um derrame cerebral. Seu falecimento encerrou uma trajetória de mais de cinco décadas de dedicação à atuação, seja em novelas, filmes ou programas especiais. Foi uma artista que atravessou gerações, sempre enfrentando os desafios impostos a atrizes negras em uma indústria pouco inclusiva.
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