Millôr Fernandes morreu aos 88 anos, vítima de falência múltipla dos órgãos e parada cardíaca
Millôr Fernandes morreu nessa terça-feira, 27, às 21h, em casa, no bairro de Ipanema, na Zona Sul do Rio de Janeiro. O escritor carioca tinha 88 anos e teve falência múltipla dos órgãos e parada cardíaca.
Seu corpo será velado no cemitério Memorial do Carmo, no Caju, na zona Portuária da cidade, nesta quinta-feira, 29, das 10h às 15h. Em seguida seu corpo será cremado.
Ele enfrentava problemas de saúde desde o ano passado, quando chegou a ser internado duas vezes na Casa de Saúde São José, no Humanitá. Na época, a família pediu para o hospital não revelar o motivo de sua internação.
A ministra da cultura Ana de Hollanda ressaltou a vida profissional dele em nota de pesar. "O Brasil acaba de perder um dos seus mais representativos escritores. Millôr Fernandes, além de filósofo do nosso cotidiano, com um humor cáustico foi excelente cronista, dramaturgo, tradutor, jornalista e desenhista. Seu pensamento crítico contribuiu para todas as áreas da cultura brasileira. Ele lançou um estilo que influenciou fortemente a cultura brasileira, em especial a de resistência política nos anos da ditadura militar. Faço parte dos milhares de leitores e admiradores que Millor adquiriu em vida e continuará conquistando através de sua obra. Uno minha solidariedade aos parentes, amigos e admiradores, neste momento doloroso".
O secretário de estado da cultura Andrea Matarazzo também enviou seus sentimentos sobre a perda do artista. "Recebi, com muita tristeza, a notícia da morte do escritor e jornalista Millôr Fernandes. Como poucos, ele conseguiu mostrar seu brilhantismo em todos os gêneros em que atuou: nos desenhos, na dramaturgia, na literatura, na poesia, na tradução de clássicos mundiais e até nas breves e irônicas frases, marcadas pelo humor crítico. Seu talento único encontrou espaço tanto em grandes veículos de comunicação como na imprensa alternativa, já que foi um dos fundadores dos jornais “Pif-Paf” e “O Pasquim”. Hoje, perdemos a inteligência e a apurada visão do mundo de Millôr, mas fica sua contribuição para a cultura brasileira".
Já o cartunista Maurício de Sousa revelou a importância de Millôr para a sua formação. "Conheci o Millôr antes de ele ser Millôr Fernandes. Assinava Van Gogo, na revista O Cruzeiro. Eu me alimentava com as tiradas geniais, algumas que, por ser muito jovem, nem entendia. Era um humor atilado, sofisticado. Com o tempo, fui perdendo o Van Gogo e conhecendo a majestade do humor de Millôr. Nos últimos anos, acompanhei como e quando pude, aquela visão de mundo que ele nos passava. E aqui e ali, com críticas super-inteligentes, deixa um legado para a eternidade".
Biografia
A carreira de Millôr Fernandes acumula funções: escritor, jornalista, desenhista, dramaturgo e artista autodidata. Aos 14 anos, ele se tornou colaborador da revista O Cruzeiro. Em 1960, tornou-se um dos fundadores do jornal O Pasquim, conhecido por sua oposição ao regime militar dá época. Ele escreveu várias peças de teatro e traduziu diversas obras de William Shakespeare. Nos últimos anos, ele se dedicava a um site pessoal. Ele também já foi casado com Wanda Rubino Fernandes, teve dois filhos, Ivan e Paula, e um neto, Gabriel.