Em Tarrytown, o galã exalta os musicais
Para o ator e produtor Cleto Baccic (41), viajar a Nova York é diversão tão garantida quanto levar uma criança a uma loja de brinquedos. Nome já consagrado no circuito dos musicais, o carismático pernambucano nascido em Garanhuns preenche seus dias na metrópole com uma verdadeira maratona para assistir a maior quantidade possível de espetáculos da Broadway. A estada mais recente, porém, incluiu providencial pausa. “Meu ritmo em São Paulo é bem puxado e, apesar de querer ver de tudo em Nova York, eu estava precisando desacelerar um pouco. Aqui, recobrei as energias”, conta ele sobre a visita ao Castelo de CARAS, em Tarrytown, a cerca de 40 minutos da Big Apple.
Em cartaz na capital paulista com a versão brasileira de Mamma Mia!, produção que desde a estreia, em Londres, há 12 anos já arrecadou mais de 2 bilhões de dólares e foi vista por 42 milhões de pessoas no mundo, Cleto celebra o crescimento dos musicais no País. “O gênero caiu no gosto do brasileiro. Há opções para crianças e adultos, o mercado está aquecido e para nós, atores, este espaço é valioso”, avalia ele, que iniciou a carreira no teatro encenando Shakespeare (1564-1616), Tom Stoppard (74) e Fassbinder (1945-1982) e brilhou também como o gato Rum Tum Tugger, em Cats, que antecedeu Mamma Mia! no Teatro Abril.
– Na sua opinião, qual é o segredo do sucesso dos musicais?
– A maioria deles tem uma proposta leve, divertida e ao mesmo tempo traz conteúdo. De uns 15 anos para cá, houve uma retomada do gênero. Empresas voltaram a investir, produtores brasileiros compraram direitos de peças bacanas, teatros foram reformados para oferecer uma estrutura mais adequada. Acho que o brasileiro tinha curiosidade, mas não sabia muito bem do que se tratava. Sou agradecido pelo universo nos mandar essa oportunidade agora, porque quando era mais jovem, queria trabalhar nesta área, mas não tinha como. Ou você morria de fome ou fazia outra coisa. Eu fui ser comissário de bordo, porque não dá para morrer de fome! (risos)
– Mamma Mia! é sucesso em palcos no mundo todo e também no cinema, com Meryl Streep, Pierce Brosnan e Colin Firth, que fez o mesmo papel que você. Como lidou com a pressão?
– Fazer um musical já conhecido é recompensador, mas, claro, existe uma cobrança. Na fase de escolha de elenco, você passa por uma banca examinadora de estrangeiros super criteriosos e pensa: ‘Será que eu seguro a onda?’ Invariavelmente, alguns críticos vão tentar comparar o seu trabalho com o do ator que fez o mesmo papel no cinema, mas são produtos diferentes.
– O espetáculo estreou em novembro de 2010 e fica em cartaz até o fim do ano. Você ainda sente aquele friozinho na barriga?
– Temporada longa traz o risco de ‘cair no automático.’ Por isso, a mão firme do nosso diretor residente Floriano Nogueira é tão importante. Ele mantém o espetáculo ‘vivo’, cobra o elenco, exige ‘limpeza’ de coreografia, ‘intenção’ de personagem. O crescimento dos atores é diário, o friozinho na barriga também...
– Como você se prepara?
– Chego no teatro uma hora e meia antes, gosto de repassar as falas e tentar imprimir outra sonoridade ao personagem. Há ainda o tempo da caracterização e a concentração. São seis apresentações por semana... Me preparo com aulas de dança, musculação e canto.
– Você ainda é sócio de uma agência de artistas...
– O Atelier de Cultura é como uma butique de artistas na qual desenvolvemos o gerenciamento de carreira. Temos atores, músicos, maestros, diretores cênicos... Mas não somos um grupo de teatro, cada um tem seus projetos. No fundo, o artista é como um comércio: se abro as portas da lojinha mas ninguém sabe, como espero que cheguem até mim? As redes sociais são ferramentas que estão aí para ajudar, e muito, na nossa divulgação. O contato com os fãs é fundamental.
– Das peças que assistiu em Nova York, o que destacaria?
– Pergunta difícil! Fiquei extasiado com The Book of Mormon, que ganhou nove prêmios Tony, inclusive o de Melhor Musical em 2011. How To Succeed In Business Without Really Trying também me surpreendeu, sobretudo pela interpretação do Daniel Radcliffe. The Addams Family, que sucederá Mamma Mia! no Teatro Abril, e o comovente Billy Elliot também são espetáculos obrigatórios.