A atriz, que está no ar em 'Pé na Cova', fala por que sua personagem em 'Alô, Dolly!' conquistou o público brasileiro e o sucesso do 'casamento' com Miguel Falabella
Diva no teatro, na televisão, no cinema e onde mais estiver. Assim é Marília Pêra(70), que exibe com desenvoltura e nenhum constrangimento um par de pernas bem torneadas em seu corpo leve e esguio. Na semana em que celebra 150 apresentações à frente do musical Alô, Dolly!, aplaudido por cerca de 120 000 espectadores, entre Rio e SP, ainda demonstra invejável fôlego ao anunciar a prorrogação da temporada até 7 de julho no paulistano Teatro Bradesco. “Minha alma é de bailarina. Além disso, acho que tenho alma de estrela. Venho de família de atores muito pobres e pensava ser uma grande atriz e ajudar toda a minha família que não conseguiu sobreviver dessa profissão com mais dignidade”, diz, traçando planos para o cinema e literatura. “Quero ainda fazer uma biografia, principalmente para contar a vida da minha família, toda de artistas”, prevê ela, que estreou aos 4 anos no teatro pelas mãos dos pais, os saudosos Dinorah Marzulo e Manuel Pêra, e se desdobra para dar conta de sua arte e dos filhos, Ricardo (51) — com o autor Paulo Graça Mello, morto em 1969 —, e Esperança (37) e Nina Motta (32), com Nelson Motta (68).
MARÍLIA PÊRA E MIGUEL FALABELLA TRIUNFANTES COM O SUCESSO DAS PARCERIAS
Marília Pêra perde 3 kg ao estrelar o musical 'Alô, Dolly' e quer engordar
Além do sucesso nos palcos com a produção dirigida por Miguel Falabella (56), que divide o palco com ela na adaptação da Broadway, e na TV como a maquiadora de mortos Darlene, do seriado global Pé na Cova, em que também atua ao lado do amigo, a diva se revela feliz no casamento de 16 anos com o produtor de cinema e economista Bruno Faria (50).
– Como a sua Dolly, uma célebre viúva casamenteira, conquistou o público brasileiro?
– A Dolly é engraçada. Articula, mas é do bem. Vai casando todo mundo, pegando dinheiro, distribuindo, mas não tem segundas intenções. Ela socializa, mesmo, o afeto, o amor e a grana. E, fora isso,
as músicas e roupas são lindas. É uma protagonista absoluta.
– E como ela a conquistou?
– O que vou levar principalmente da Dolly é um afeto enorme pelos colegas de elenco. Nos ensaios, eu já dizia para eles que há muito tempo não trabalhava em um local tão amoroso, principalmente com os bailarinos. Eles me ajudaram muito a construir a Dolly. Tenho alma de bailarina.
– E a dobradinha com o Miguel Falabella só rende bons frutos...
– Ele é um grande companheiro. Sou mais velha, então ele não seria um partner natural, mas até envelhece em cena para ser. Nos vemos todo dia, mas no teatro é mais intensa a relação, é ali, com aquele monte de gente vendo, ouvindo... É como um casamento mesmo, é preciso estar atento. Jogamos no mesmo time.
– Como concilia filhos, casamento e essa carga de trabalho?
– É muito difícil, é um período louco, pois não é só entrar em cena. Faço aula de canto, alongamento, fortalecimento das pernas. Meu marido, Bruno, tem uma paciência de Jó, e minhas filhas reclamam. Às vezes, elas querem me ver e digo que não poderei, ou em dias de folga estou muito cansada. É um período rico em criatividade, mas ‘puxadão’. Ao menos meu filho Ricardo eu encontro no palco. Mais um lance de generosidade do Miguel, que criou espaço para o personagem dele e me deu esse presente de contracenarmos.
– E o futuro profissional?
– No teatro são tantos caminhos, nem sei ainda como organizar. No cinema há o filme baseado no livro A Doce Canção de Caetana, de Nélida Piñon, e outros convites. Podemos ter ainda uma nova temporada de Pé Na Cova. E ainda escrevo um stand-up para dirigir e estrelar. Quero falar dos bastidores do teatro e da TV. Há coisas engraçadíssimas! Planejo para minha vida escrever, quero escrever mais. Tenho escrito, depois preciso cortar, cortar... Não sei se vai ser exatamente uma biografia, pois tenho vontade de fazer um roteiro. Quero exercer mais a profissão do escrever, por querer o poder do autor.
– Sua vida pessoal e trabalho sempre estiveram misturados...
– Dentre as possibilidades desse País culturalmente subdesenvolvido, caminhei bastante... Não tenho alma de coadjuvante. Eu acho que preferiria ir parando a ir me tornando uma delas.