O cantor e compositor Jorge Aragão festeja seus 75 anos nesta sexta-feira, 29, e em entrevista exclusiva a CARAS Brasil, abre o coração e fala sobre a nova fase da vida
O cantor e compositor Jorge Aragão completa 75 anos nesta sexta-feira, 29. E para comemorar a data em grande estilo, e ainda presenteando os fãs que o acompanham nesses quase 50 anos de carreira, o sambista lança a releitura de uma composição sua, que ficou famosa na voz do grupo Art Popular, a música Até Que Aprendi, de 2022. Em entrevista exclusiva a CARAS Brasil, ele fala sobre esse novo momento, com gostinho de vitória, após vencer um câncer. 'Tenho uma outra ótica da vida', declara.
Em julho de 2023, Jorge Aragão foi diagnosticado com linfoma Não-Hodgkin, um tipo de câncer que tem origem nas células do sistema linfático, e começou imediatamente o tratamento contra a doença. Hoje, ele comemora a remissão completa da doença e celebra seus 75 anos de vida. "Estou muito feliz! Tenho uma outra ótica da vida, do que é olhar o dia, a noite, dormir, acordar... Tudo mudou. E tem muito mais sentido, pincipalmente depois de ter tido a notícia de um câncer, porque geralmente você imagina isso como o fim da linha. Ali terminou tudo para você. Então, acordando agora, sei o quanto devo ter mais cuidado com as pessoas, em especial com a minha família", ressalta.
O sambista também vai completar, em breve, 50 anos de carreira. "Esses anos passaram para mim de uma forma tão natural. Parece tão normal quanto fazer uma comida ou fazer o seu trabalho, seja o que for. Claro, que é um trabalho também diferenciado porque o mesmo tempo que é um trabalho, é também o lazer. Quando saio para trabalhar, saio para encontrar pessoas sorrindo, dançando, se emocionando... Então é tão tranquilo isso e ao mesmo tempo me traz tanta felicidade, que 50 anos passam e a gente nem percebe e não consegue mensurar exatamente o que você fez nesse tempo todo, apenas faz", diz.
E será que o Jorge Aragão de 50 anos atrás imaginaria estar colhendo hoje todos esses frutos? O artista garante que não. "Não mesmo. Há 50 anos, eu não podia imaginar nada disso, até porque a única coisa que sempre falei, e até hoje falo, é que me sinto e sou um compositor. Não sou um cantor que tanta gente fala, quando se referem a mim quando falam da minha profissão. Eu interpreto as minhas músicas porque tive numa época a oportunidade de fazer isso, por conta de união de gravadoras com editoras, que perceberam que você tendo um autor, mas que pudesse também interpretar ou cantar a música dele, ficaria mais barato para todo mundo", fala.
"Então, eu não imaginava nunca poder estar aqui, neste ponto que estou hoje. Em poder olhar para trás e poder ver que 50 anos se passaram dessas músicas, dessa minha escolha em ser compositor. É por isso que declinei de estar no Fundo de Quintal, e graças à Deus pude sair e colocar no meu lugar Arlindo Cruz. Então, tudo foi muito natural, muito orgânico com tudo meu até hoje", completa.
E se pudesse voltar no tempo, lá para época do jovem Aragão, teria apenas uma coisa a dizer: "Só agradecer por tudo isso! Tudo o que está a minha volta, tudo o que eu posso guardar na minha lembrança, foi esse Jorge de 50 anos atrás quem plantou. E até o último instante meu, serei só gratidão!".
GRANDE NOME DO SAMBA
Jorge Aragão é considerado um dos mais consagrados cantores do samba. Ele agradece, mas aponta: "Me sinto consagrado compositor. Cantor não. Acho que muita gente, se não todos, já ouvira eu falar, eu além de semitonar, desafinar, porque não é a minha praia ser cantor, nunca foi a minha vontade ser um cantor. E hoje em dia nós temos a tecnologia ajudando a colocar tudo no lugar. Tem gente que acha isso errado, hoje em dia tem muita cobrança sobre quem canta, quem não canta, quem é afinado... Parece que todo mundo nasceu maestro, ou com o ouvido super afinado para poder opinar".
"Vou ser sincero, eu me sinto assim, estão me colocando para interpretar o que eu fiz, o que escrevi enquanto compositor. Então é isso que estou fazendo. E para isso acontecer, claro que me declaro como compositor e não cantor, só que estou tendo a oportunidade de colocar isso na rua. E cantando num tom bem baixo, como se eu estivesse conversando, fica mais fácil de trabalhar e colocar isso na rua. Saúdo e brindo aos excelentes cantores que temos no nosso país. Principalmente eu, que vem de uma geração que era de ouvir Roberto Ribeiro, Emílio Santiago, Elizeth Cardoso, Cauby Peixoto, entre tantos outros cantando extremamente afinados. Quero dizer, sou uma exceção e continuo andando por aí", continua.
E não para por aí. O artista ressalta: "Claro que hoje sei também que, como todos têm a sua escolha do melhor, pra quem eu estou afetando o ouvido, tenho certeza que ele vai ouvir e não vai deixar de me seguir ou pular uma música minha, que não vai ferir a sua audição. Estou só fazendo o que disponibilizam para que eu possa fazer até hoje. Então me sinto um consagrado cantor, mas sim compositor. É isso que eu sou".
MOMENTO MAIS ÍNTIMO
Apesar de estar completando 75 anos nesta sexta, Aragão declara que não pretende comemorar a data com festa. Ele prefere curtir o momento com ele mesmo, agradecendo pela vida. "Todo mundo que me conhece sabe que sou extremamente desleixado com essa coisa do aniversário, do dia, cantar parabéns, ter bolo, pedir comida para poder comemorar com as pessoas. Sempre fui assim na minha vida. Então, é um dia de agradecimento, mas também um dia normal para mim. É um dia também muito mais de lembranças da minha história, de onde eu vim, da minha vida com meus pais, depois que a gente fica velho parece que a gente nunca teve mãe e pai, que a gente nunca foi criança, né? (risos) Mas não é nada disso não. A gente volta ao passado e busca ficar em paz. É isso. No meu aniversário eu quero ficar em paz, calmo para poder agradecer a Deus por ter chegado até aqui", confessa.
Sobre o hit Até Que Aprendi, que ganhou uma releitura, o artista fala sobre sua expectativa. "É uma música que tenho certeza que vai ser gatilho para muita gente e despertar muitas emoções, porque fala sobre o amor. E dentro dessa temática, Até Que Aprendi vai fazer muita gente refletir e sentir as mesmas coisas que nós colocamos na letra. E, claro, sendo recheada com a melodia, muitas das vezes dói. Mas sempre vale a pena a gente acreditar no dia de amanhã, que vai ser melhor", diz.
E para finalizar, Jorge Aragão revela qual gostinho tem 2024: "O gosto é de vida, vida e vida! Aprendizado e muita vida que está pulsando aqui dentro de mim. Gratidão por isso!".