Em entrevista durante o especial CARAS Inverno, Cláudia Mauro recorda as mudanças de Capitu, sua personagem da Escolinha do Professor Raimundo
Primeira intérprete de Capitu na Escolinha do Professor Raimundo, Cláudia Mauro (55) conta que, quando começou no humorístico sua personagem tinha outra proposta. Segundo a atriz, tudo teria mudado após uma conversa de Chico Anysio (1931-2012) e Roberto Marinho (1904-2003), proprietário do Grupo Globo.
"Quando eu fui fazer a Escolinha, era outro personagem, não tinha nada daquela sensualidade daquela personagem", recorda, em entrevista durante o especial CARAS Inverno. Cláudia Mauro conta que Anysio a conheceu durante a leitura técnica da peça Meu Primo Walter, que teve Eri Johnson (62) e Paulo César Grande (66) no elenco —foi nos bastidores que ela, inclusive, conheceu o futuro marido.
"Eu interpretava uma religiosa, que quando olhava a máquina fotográfica dava um negócio. [Na cena], fui fazer uma foto 3x4, mas quando via a câmera eu saia louca, dançando. A personagem fez o maior sucesso no teatro, e o Chico levou para a Escolinha. Seria a Capitulina, uma tiete do Tarcísio Meira."
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Capitulina era uma religiosa que ficava enlouquecida ao ouvir o nome do veterano, morto em 2021, por complicações da Covid-19. Mauro afirma que, logo no início, sua personagem já foi sensualizada. Porém, a mudança brusca veio após Roberto Marinho reclamar da personagem com o humorista, já que a emissora estava recebendo muitas críticas dos telespectadores.
"Entrei para fazer esse personagem, que deu logo de cara um buchicho", relembra. "Aí [depois] veio a gostosa burra. Lá fiquei cinco anos, acabou que a Capitu foi para as salas de aula com uma certa inocência e ingenuidade. Nessa época eu não fiz nada da Capitu, boneca, playboy. E eu não quis, porque não queria ficar rotulada."
A atriz ainda relembra que teve certa resistência em fazer comédia, já que não queria ficar rotulada como humorista. Ela, que já era bailarina há 20 anos, diz que queria fazer novela e, na época, sabia que o humor não dava prestígio para os artistas. "Você tinha popularidade."
Mãe dos gêmeos Carolina e Pedro (12), a atriz reflete sobre a luta pela equidade de gêneros nas gerações mais novas. "A mulher não precisa fazer o que o homem faz, nós temos coisas diferentes. A luta se confunde muito, porque preciso ser igual? Não vou ao banheiro em pé. É ter os mesmos direitos."
Ela afirma que, apesar de ver mudanças na nova geração, ainda enxerga problemas que persistem ao longo dos anos, como a questão do prazer feminino. "Quando o menino perde a virgindade o pai comemora, quando a menina perde é aquela coisa. O prazer feminino sempre foi muito reprimido, tanto que quando a Madonna foi para o palco com a Anitta foi: 'uau!'."
"Masturbação feminina é um tabu até hoje. A geração delas já está um pouco melhor, elas já falam entre elas com mais liberdade", continua. "As redes sociais ainda são uma questão, chegam muitas informações. Ainda existem músicas objetificando a mulher, ainda os garotos tiram onda... ainda tem tudo isso. É um processo, isso vai aos poucos, vai melhorar e ter um equilíbrio."
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