Astro de 'Tim Maia - Vale Tudo', Tiago Abravanel visita os seus locais favoritos em Nova York, Estados Unidos
Em 1959, com apenas 16 anos, 12 dólares no bolso e um inglês paupérrimo, Tim Maia (1942-1998) desembarcou em New York decidido a dar uma guinada na sua vida. Ainda no Rio, ele ouvira falar de uma tal “senhora Cardoso”, brasileira amiga de sua família, casada com um americano que vivia em Tarrytown, e decidiu ir a seu encontro levando consigo o endereço dela, uma carta pedindo abrigo e muita cara de pau, afinal, ela sequer o conhecia. Descrita na biografia Vale Tudo, de Nelson Motta (67), a história foi lembrada com especial emoção pelo ator Tiago Abravanel (24) em sua primeira visita ao charmoso lugarejo a 40 minutos da Big Apple, no condado de Westchester, onde também se localiza o Castelo de CARAS. “Ser convidado para a temporada do Castelo, por si só, já é uma grande honra, mas no meu caso vocês podem imaginar o tamanho da felicidade. Visitar os lugares que Tim passou chega a ser surreal”, observa ele, que está em cartaz no Rio como protagonista do musical Tim Maia — Vale Tudo, no qual interpreta com maestria o rei da soul music brasileira.
Tiago começou o seu tour pela Main Street, uma das ruas mais famosas de Tarrytown, com diversas lojinhas, restaurantes e o majestoso Music Hall. Projetado em 1885 pelos arquitetos Theodore DeLemos e August Cordes, que também assinam o suntuoso prédio da loja de departamentos Macy’s, em NY, o teatro hoje recebe shows e espetáculos, mas na época de Tim — para sua decepção — abrigava somente uma sala de cinema. Sem pressa, o neto do apresentador Silvio Santos (81) caminhou até a YMCA, Associação Cristã de Moços frequentada por Tim, se aventurou pelas ruas cheias de casas com jardins floridos e terminou o passeio às margens do Hudson River, de onde se tem vista privilegiada da ponte Tappan Zee.
– Tarrytown é exatamente como você imaginava?
– Que lugar lindo, né? Lindo e com um significado todo especial para quem, como eu, é fã do Tim. Caminhar pelo bairro e procurar lugares que foram parte importante durante a sua estada não deixa de ser uma forma de homenageá-lo. Adorei as lojas charmosas do centrinho, a forma atenciosa das pessoas e a vista do Hudson River. Ficaria horas observando suas águas correndo.
– O Tim viajou para os Estados Unidos aos 16 anos e você, neste ano, se mudou de São Paulo para o Rio. Como lida com a saudade da família?
– Somos muito, muito grudados, e moramos todos na mesma casa, minha mãe, Cintia Abravanel, minhas irmãs, Ligia e Vivian, as três empregadas que eu amo e estão conosco há séculos... Apesar de estar em outra cidade, sinto que aquele é o meu lar. Nos falamos o dia todo pelo rádio e celular e elas vêm me assistir sempre que podem — teve uma semana que veio uma caravana! É importante saber que você tem uma torcida do bem ao seu lado.
– O teatro está sempre lotado, sua torcida lembra muito a de um time de futebol...
– Pois é, parece que a platéia cresce cada vez mais, apesar do número de lugares ser o mesmo! (risos) É muito bacana quando a gente tem um trabalho em que as pessoas esperam de você uma boa performance, mas de uma maneira positiva e não de julgamento. Eu, graças a Deus, consegui conquistar o respeito e o carinho da mídia e do público; as pessoas não vão me assistir pensando “ai, vamos ver o que esse menino vai fazer”. Em vez disso, elas dizem “caramba, eu quero tanto vê-lo!”. Fico muito feliz por estar passando por essa fase, mas o meu trabalho não é nada se eu não tenho essa entrega do público. Recarrego as energias com o brilho dos olhos dos outros.
– Na sua opinião, por que o Tim Maia tem apelo tão forte?
– O Tim ainda está muito fresco na memória de todos nós. Ele, na verdade, é um artista que as pessoas não vão esquecer nunca, sua obra é imortal. Ele se entregou à música de forma completa e aberta. Sofreu preconceito por ser negro, por ser gordo, por ser pobre, mas não desistiu. Quem conviveu com ele diz sempre que era um músico incrível e um ser humano mais incrível ainda.
– Consegue escolher uma música preferida entre as do Tim?
– Difícil! As duas que mais me tocam são Azul da Cor do Mar e Primavera. Mas Azul da Cor do Mar é meio que um resumo do seu trabalho. Como a letra sugere, para ser feliz a gente tem de acreditar no que sonha e ama.