Quando existe amor, as marcas do tempo não afetam a relação
Leniza Castello Branco Publicado em 17/05/2006, às 17h01
Nos dias de hoje, a grande ênfase dada ao corpo, à beleza e à juventude faz com que muitas mulheres, mesmo sendo jovens e bonitas, sintam-se inseguras e ansiosas em relação aos parceiros. Se engordam uns quilinhos ou aparece uma ruga, já imaginam que serão trocadas por outra mais jovem e entram em pânico.
É claro que é importante para a mulher e o homem manter o peso, cuidar-se, fazer exercícios, porém com equilíbrio. Muitas pessoas, em especial após alguns anos de casamento, se descuidam da aparência. Engordam, esquecem-se da vaidade e esperam que os cônjuges gostem delas "como são". Mas a verdade é que não eram assim quando se casaram; sempre que iam encontrar o seu amor estavam bem produzidas, bem cuidadas.
Homens e mulheres gostam de ver os seus companheiros bonitos, bem-vestidos. Nos sentimos valorizados quando nosso parceiro se arruma para estar conosco. E não há nada de mal em fazer o mesmo para agradá-lo. Isso, é bom lembrar, não vale só para as mulheres. Elas também não sentem prazer vendo o
namorado ou marido barrigudo e desleixado.
Mas não é apenas para agradar ao marido ou à mulher que precisamos cuidar da forma física e, conseqüentemente, da beleza. Temos ao menos que fazer exercícios e manter o peso em prol de nosso próprio bem-estar, nossa saúde e nossa auto-estima. É preciso que gostemos de nós mesmos.
A insegurança, no entanto, faz com que inúmeras mulheres fiquem excessivamente ansiosas e corram atrás de procedimentos muitas vezes desnecessários para sentirem-se bonitas - ou competitivamente bonitas. Esse comportamento tem resultados desastrosos em várias áreas da vida. Até na financeira. A busca de um padrão de beleza inalcançável pode levar algumas a gastar até o que não têm. Claro: os cabelos precisam ser lisíssimos, a boca carnuda, o bumbum durinho, a barriga de "tanquinho", o nariz arrebitado, os seios enormes. Um padrão que muitas vezes não combina com o delas. E nem precisaria, porque existem muitos tipos de beleza. Um cabelo crespo bem-tratado, um nariz com personalidade, lábios finos também têm seus atrativos. Branca, negra, oriental, todas podem ser lindas, sensuais e amadas.
No filme Linda Demaispara Você, do diretor francês Bertrand Blier (67), Gerard Depardieu (57) é casado com a mulher mais linda do mundo, Carole Bouquet (48). Ela é maravilhosa, chique, rica - e mesmo assim ele acaba se apaixonando por uma secretária mais velha e menos atraente. É um ótimo exemplo. Não podemos nos esquecer de que não somos apenas um corpo - este, inevitavelmente, irá envelhecer. A beleza verdadeira inclui cultivo do espírito, gostar de ler, ser educado, bem humorado, ter equilíbrio emocional, romantismo, sentimento, saber se colocar no lugar do outro, dar e receber amor - valores que o tempo não destrói.
Além do mais, quem quer para companheiro uma pessoa belíssima, mas mal-humorada, egoísta e narcisista, que só pensa na própria beleza? Preocupação excessiva com o corpo e medo exagerado de envelhecer não são saudáveis. Todos envelhecem e, se os parceiros têm bom caráter e se amam verdadeiramente, as marcas do tempo não vão corroer a união. Ao contrário, vão fortalecer a parceria.
Mais do que a celulite ou as rugas, o mau humor, as queixas, as irritações é que ajudam a matar o amor. Então, digo aos maridos e às mulheres: valorizem os seus parceiros, sejam cúmplices, leais, amorosos, carinhosos, cultivem a ternura e o sexo e cuidem da beleza. Mas não só da exterior. Vinicius de Moraes (1913-1980), que disse "as feias que me perdoem, mas beleza é fundamental", também escreveu, no Samba da Bênção: "Uma mulher tem que ter/ Qualquer coisa além de beleza/ Qualquer coisa de triste/ Qualquer coisa que chora/ Qualquer coisa que sente saudade."