Em casa, carnavalesco Paulo Barros revela hobbies e filosofia de vida
Campeão do carnaval carioca 2012 com a Unidos da Tijuca, Paulo Barros (49) vem saboreando seu segundo título literalmente na cozinha de sua charmosa casa em Itaipu, a cerca de 45km do Rio. É no ambiente que o carnavalesco consegue relaxar da massacrante maratona de idealizar um desfile na Sapucaí. Fenômeno desde 2004, quando surpreendeu com as chamadas alegorias vivas, inovações que não se viam desde os anos 1970, com o surgimento de Joãosinho Trinta (1933-2011), Paulo admite que nem nos momentos de lazer consegue perder a vocação para a ousadia. “Realmente gosto de inventar na cozinha. Tenho vários livros de receitas, mas não me conformo com elas. Sempre preciso mudar algo, interferir”, diverte-se ele, que adora pilotar seus fogões, industrial e a lenha, e manusear dezenas de panelas de todos os tipos e apetrechos de cozinha.
– O segundo título tem gosto diferente do primeiro?
– Sempre é a carimbada final. Mas hoje, independentemente do resultado oficial, o que me alimenta é ver as pessoas se divertindo. Isso não tem preço. Sou abordado nas ruas, falam que voltaram a ver o desfile por causa do meu trabalho, é fenomenal.
– É o que leva você a ousar, inovar, arriscar...
– Tenho um conceito: o de fazer sempre diferente. Quero criar.
– Como relaxa antes de retomar a maratona do carnaval?
– Sou bem caseiro. Adoro cuidar das plantas, dos cachorros, da piscina. Sempre invento: pintar alguma coisa, mudar luminárias, trocar uma forração... Mexo em tudo dentro de casa; curto fazer isso.
– E também gosta de viajar?
– Adoro. Agora vou fazer uma viagem rápida, parte de um projeto de começar a escrever um livro, uma obra com relatos sobre o carnaval. Da concepção de um desfile à construção, de como surgem as ideias e são postas em prática. Vou para o interior potiguar com uma amiga. Pensei em descansar, bater papo e avaliar o conceito da obra. Depois, planejo ir a Las Vegas, cidade que ainda não conheço.
– A ideia do show business também exerce uma atração?
– Quero ampliar os horizontes, produzir na área do espetáculo. Venho pensando até bastante nisso. Tenho um projeto ainda bem embrionário de fazer uma Las Vegas por aqui. O conceito será de um espetáculo hollywoodiano com conteúdo brasileiro.
– Mas quer deixar o carnaval?
– Não gosto de fazer previsões. Hoje, não penso nisso, mas o futuro, quem sabe? Passei anos como comissário de bordo, um dia não quis mais saber daquilo. Não sei se isso pode se repetir com o carnaval. Tenho um perfil mutante. Não é que me canse das coisas, mas gosto de mudar o conteúdo.
– E o prazer de cozinhar?
– Sempre foi uma paixão. Gostava de observar minha mãe preparando a comida. Fui aprendendo, até que tomei gosto próprio. Curto ficar no fogão o dia inteiro. É comum amigos chegarem para o café da manhã, depois a gente inventa almoço, sobremesa, jantar... Ninguém vem na minha casa para depois ir comer fora. Meu prazer é reunir e cozinhar.
– O que gosta de fazer?
– Adoro comida baiana, aprendi com meu avô. Sou muito chegado ao dendê, à pimenta. Gosto de preparar moquecas, vatapá.
– Tem alguma frustração, como os vice-campeonatos em 2004, 2005 e 2011, apesar de todo o reconhecimento popular?
– Não. Como disse, o reconhecimento independe do resultado. A satisfação das pessoas não me deixa ficar com esse sentimento.
– Você já teve medo de ousar?
– Medo, até hoje, tenho de montanha-russa. E de alguém da equipe deixar de executar o combinado no carnaval, não cumprir sua responsabilidade e pôr tudo a perder.
– Você está solteiro?
– Sim, por opção mesmo. Sou bem metódico. Entrei em um processo de viver só e estou feliz assim. Acho que por conta do trabalho como comissário de bordo. A aviação isola. Vivi muito tempo dentro de quartos de hotel. Adquiri alguns tiques. Gosto de tudo muito bem arrumado. Não saio de casa se tiver um copo sujo. Então, viver sozinho virou naturalmente uma opção. Me acostumei. Mas isso não quer dizer que vivo na solidão. A casa está sempre cheia de gente, de muitos amigos.
– Você já escolheu o enredo para o próximo carnaval?
– O desfile deste ano abriu um leque de possibilidades. Pos-so fazer enredos próprios ou patrocinados. Vou conversar com o presidente, existe o diálogo. Vamos discutir.
– Você falou que o tema poderia ser ‘chutar o balde’...
– Foi um pouco de brincadeira, a princípio ainda não há nada concreto. Mas já levei enredos como arrepio e segredo para a Sapucaí. Gosto de coisas meio inusitadas.