Acendrado: de acendrar, do espanhol acendrar, provavelmente derivado do latim vulgar accinerare, limpar com cinzas, isto é, deixar puro como ficam o ouro e outros metais preciosos depois de submetidos ao fogo, do qual restam cinzas, cujo étimo latino é cineris, caso genitivo de cinis. Acendrado é isento de impurezas por efeito deste processo. O escritor e cartunista Ziraldo Alves Pinto (79) tem fascínio por essa palavra, que cita com reiterada frequência em suas palestras e neste depoimento: “Nos meus cadernos de desenho, que eu abria com meus poemas épicos, meus heróis da pátria, caprichadamente desenhados a bico de pena, custaram a dar lugar aos meus heróis dos gibis. Estes, embora me fascinassem, não fizeram, todavia, arrefecer meu acendrado amor pelo Brasil. Era tão acendrado esse amor que essa palavra nunca me saiu da cabeça: acendrado! Só me livrei dela no dia em que descobri, por dedução de quem escondeu um pouco de latim no ginásio, que a palavra tinha o prefixo de negação a no seu começo e o sufixo de qualidade ado no final e que, no meio, tinha cender, que, em francês, é cinza (deve ser mais ou menos cinza também em latim), portanto acendrado quer dizer: o que nunca vira cinzas.”
Culposo: de culpa, do latim culpa, falta, delito vício, defeito, crime, mal, dano, prejuízo, defeito, falha, imperfeição, negligência, descuido. Vindo do latim, tornouse palavra de muitos significados. O étimo está presente ainda em desculpa, desculpar, culpar, exculpar, inculpar, indesculpável. Em linguagem jurídica, qualifica homicídio sem intenção de matar, ao contrário do homicídio doloso, resultado de crime intencional. O cardiologista Conrad Robert Murray (58) foi condenado a quatro anos de prisão, acusado de, com os medicamentos prescritos ao cantor, compositor e dançarino Michael Jackson (1958-2009), levá-lo à morte.
Demissão: do latim demissione, declinação de demissio, ato de fazer cair, rebaixar, soltar, como aparece já nos textos de Plauto (254-184 a.C.). Depois de submetido à fritura, no plano metafórico, de que é exemplo a expressão “Fulano está frito”, a vítima ou apenas alvo de denúncias é em geral demitida. Estava ameaçado de demissão o ministro Carlos Roberto Luppi (54), ex-jornaleiro em Campinas (SP), trazido para a política por Itagiba de Moura Brizola, mais conhecido pelo pseudônimo de Leonel Brizola (1922-2004), por ter adotado o nome do revolucionário maragato Leonel Rocha (1902-1968). Os dois eram naturais de Carazinho (RS).
Fritar: de frito, do latim frictus. Em latim, fritar é frigere, que deu frigir em português, como na expressão “no frigir dos ovos”, isto é, quando os ovos são fritos, indicando conclusão. Provavelmente por força da influência da Inquisição e do Santo Ofício, que, em processos combinados nas duas instâncias, levavam o réu à fogueira, para literalmente assá-lo, grelhá-lo. A fritura de condenados, até mesmo com azeite, aparece em minissérie de televisão baseada em Shogun, romance de James Clavell (1924-1994).
Maragato: do espanhol do Uruguai maragato, nascido no Departamento de São José e Santa Luzia, cujos ancestrais vieram de La Maragatería, na Espanha. Quem trouxe o vocábulo para a língua portuguesa, em fins do século XIX, foi Júlio de Castilhos (1860-1903), para dar apelido pejorativo aos parlamentares que contra ele e seu governo se insurgiram durante a Revolução Federalista de 1893, no Rio Grande do Sul, liderada por Gaspar da Silveira Martins (1834-1901) e Joaquim Francisco de Assis Brasil (1857-1938), contrário ao partido do então presidente do Rio Grande do Sul, Antônio Borges de Medeiros (1863-1961). Tornou-se, depois, alcunha positiva. Designa também um papagaio muito falante comum entre São Paulo e o norte da Argentina.
Risco: do latim medieval risicum, ligado ao verbo resecare, cortar, pelo francês risque, perigo, com influência do espanhol risco, penhasco. Entre os antigos romanos, risicum designava a sorte ou a má sorte de um soldado. O cinegrafista Gelson Domingos da Silva (1965-2011), da TV Bandeirantes, corria risco de vida e morreu em tiroteio entre policiais e bandidos na Favela de Antares, no Rio de Janeiro, alvejado por bala de fuzil.