Em viagem à Terra Santa, o Rei faz tour bíblico, roga a paz no mundo e se comove com o espetáculo da fé
A viagem a Jerusalém foi uma maneira que o rei Roberto Carlos (70) encontrou de agradecer por tudo o que conquista em sua trajetória de sucesso, refletir sobre as sofridas perdas de pessoas amadas e rezar por um mundo melhor e em paz. Muito religioso, o cantor e compositor se emocionou diversas vezes durante as visitas que fez a lugares sagrados, onde também ficou impressionado com a diversidade e com as mensagens recebidas pelos caminhos percorridos e nos vários encontros que teve durante a passagem pela Terra Santa, onde estivera 43 anos atrás. “Vou agradecer”, anuncia, fervoroso, ao repousar as mãos sobre o Muro das Lamentações, lugar mais sagrado e adorado pelos judeus na Cidade Antiga.
Relembrar as mortes recentes da mãe, Laura Moreira Braga (1914-2010), a Lady Laura, e da filha, Ana Paula Rossi Braga Ferreira, aos 45 anos, em abril passado, é uma das poucas coisas que, atualmente, tiram o sorriso do rosto do Rei. “É tudo muito sofrido, mas a gente tem de encarar este tipo de problema, pois é inevitável. Tenho sofrido muito mesmo. Mas tenho conseguido ir em frente, porque é preciso”, avalia o intérprete.
Um dia antes de ir ao Muro Ocidental, como também é conhecido o Muro das Lamentações, Roberto não conseguia dormir bem. Além da preocupação com o espetáculo marcado na capital de Israel, ele, na verdade, estava ansioso para visitar os pontos de peregrinação que fazem parte da história das religiões monoteístas, roteiro que incluiu também a Basílica do Santo Sepulcro, o Jardim das Oliveiras, o Sítio Arqueológico de Ha’Ofel e o Monastério de São Jorge.“Tudo aqui é uma inspiração muito grande. Visitar os lugares sagrados é, com certeza, minha inspiração em ter vindo para Jerusalém fazer este show”, diz o artista. “Cantar aqui tem muito a ver com o que tenho feito sobre este tema da religião e com Erasmo Carlos, meu grande parceiro.”
Diante do muro, Roberto foi saudado pelo rabino Shmuel Rabinovitch (41), mais importante autoridade judaica no limite dos muros que cercam a parte mais velha de Jerusalém, responsável pelo local e por grande parte dos lugares sagrados de Israel. Suas palavras emocionaram o Rei de imediato. “Poucas pessoas têm o dom de cantar. Quem o tem, tem uma alma muito forte e, com isso, sua voz pode alcançar os mundos mais próximos de Deus”, ensina o rabino. “Quando o Rei Salomão construiu o primeiro templo, pediu a Deus que todas as preces e todas as orações de qualquer pessoa, judeus ou não, fossem ouvidas”, conclui o sacerdote.
No Santo Sepulcro, onde, segundo a tradição cristã, Jesus Cristo foi crucificado, sepultado e de onde ressuscitou na Páscoa, Roberto ajoelhou-se para orar em cima da pedra da Unção, acendeu velas, participou de uma missa e percorreu os pontos do tão sagrado local para o cristianismo. Depois, foi à cripta de Santa Helena, local onde a mãe do imperador Constantino diz ter encontrado a cruz na qual Jesus foi crucificado.
Prestes a encerrar a visita, o rei assistiu a outra missa e foi homenageado pela Igreja Católica, recebendo das mãos do Monsenhor Fouad Twal (70), do patriarcado latino na região, a Comenda Cruz de Jerusalém. “Obrigado pela presença e pela missão do senhor cantor Roberto Carlos, embaixador de paz e de fraternidade, que fala, além das línguas que sabe, o idioma universal e internacional da música e do amor, que todos entendem e apreciam”, diz, em marcante discurso o representante católico.
Logo depois, nas primeiras horas da manhã, seguiu para o Jardim de Getsêmani, aos pés do Monte das Oliveiras, local em que, para os cristãos, Jesus reuniu os apóstolos para a última ceia. Roberto, que esteve a maior parte do tempo com o amigo e empresário Dody Sirena (50), um dos idealizadores do projeto na Terra Santa, e do diretor Jayme Monjardim (55), responsável pela concepção do projeto artístico para a TV e pelas gravações na cidade, rezou no local. Logo que chegou ao país, ele foi recebido pelo presidente do Estado de Israel, Shimon Peres (88), e viveu os primeiros momentos de emoção da viagem. O Rei foi à residência oficial do representante israelense, em Talbia, onde ficou 30 minutos. As primeiras palavras de Peres, segundo Roberto, foram poéticas: “Sua voz chegou a Jerusalém antes do seu corpo”, fala o líder, famoso pelo esforço pela paz no Oriente Médio. “É uma honra e um privilégio estar com um Prêmio Nobel da Paz. Ele é muito simpático, tem o dom da palavra e diz coisas lindas. Enfim, tudo correu bem. Estava nervoso; não tinha como não estar”, diz o Rei.
Roberto retribuiu a gentileza, dizendo, em hebraico: “Shalom aleinu veal kol haolam” (“Paz para todos nós e para todo o mundo”). Apesar do clima de superprodução, o Rei conta ainda que nunca pensara em cantar para um público como o dali, formado por brasileiros, em maioria, mas também judeus, cristãos e muçulmanos. “Quando cantei pela primeira vez na rádio de Cachoeiro de Itapemirim, a minha cidade, aos 9 anos, jamais imaginei que faria um show aqui”, diz ele sobre a apresentação, que em breve será transformada em DVD.