Casos de leishmaniose visceral, uma doença grave, aumentam no Brasil
por Francis Albert Fujii* Publicado em 21/10/2008, às 20h29 - Atualizado em 05/07/2010, às 12h12
Nos últimos anos, aumentou de modo preocupante o número de casos de leishmaniose visceral no Brasil. Essa doença grave é causada pela leishmania donovani, protozoário passado de cães para o homem pelo mosquitopalha. Em 2006, por exemplo, de acordo com números oficiais, houve 3651 casos da doença, enquanto só no primeiro semestre de 2007 - últimos dados disponíveis - se registraram 3505. Isso foi decisivo para que os ministérios da Saúde e da Agricultura baixassem, em 11 de julho último, a Portaria 1426, que proíbe o tratamento de cães doentes. O objetivo é eliminá-los e evitar que continuem a contaminar a população. O tratamento dos cães era feito com os mesmos remédios usados em seres humanos e não se sabe se o protozoário desaparece do corpo do animal, nem se ele pára de espalhar a doença.
No passado, a leishmaniose visceral era uma moléstia de ambientes silvestres e rurais. A leishmania sobrevivia, então, basicamente em raposas. A partir dos anos 1980, com a crescente urbanização, aumentou a incidência nas cidades e o cão sobretudo da periferia passou a ocupar o lugar da raposa como hospedeiro do protozoário.
O Brasil teve o primeiro caso em 1934. Segundo o Ministério da Saúde, hoje é endêmica em 20 Estados do Norte, do Nordeste, do Centro-Oeste e do Sudeste. É uma doença de notificação compulsória, ou seja, todo caso em animais e humanos tem de ser comunicado às entidades de saúde. No corpo humano, o protozoário pode causar logo a doença, em especial em indivíduos imunodeprimidos, ou ficar incubado durante anos e só então se manifestar. Os sintomas básicos são: febre diária, apatia, falta de apetite, fraqueza, aumento do volume abdominal com perda de gordura, ou seja, emagrecimento.
Quando cai na corrente sanguínea, a leishmania se aloja na medula óssea, no fígado e no baço. Ela se multiplica no interior do fígado e do baço e os inflama. Os dois órgãos tentam neutralizar a ação do protozoário e, nesse esforço, crescem a ponto de se tornar gigantescos. Sempre deixa seqüelas. Na medula, interfere na multiplicação das células sanguíneas, levando a uma queda na produção de sangue e, pois, à anemia. Por volta de 80% dos casos graves da doença ocorrem em crianças menores de 10 anos, sobretudo pobres e desnutridas. Ela mata 10% dos portadores por anemia, insuficiência do baço e do fígado, hemorragia, diarréia e outras complicações.
Donos de cães, sobretudo nas áreas de risco, que suspeitem que seu animal possa estar doente devem comunicar imediatamente o fato à Secretaria de Vigilância Sanitária para as devidas providências. Pessoas com sintomas também precisam ser levadas logo a um Posto de Saúde ou pronto-socorro. Os sintomas de leishmaniose visceral, infelizmente, se confundem com os de muitas doenças tropicais, mas é possível identificá-la com exame de sangue e outros. O inconveniente é que são feitos apenas nos laboratórios de referência, como Adolfo Lutz, em São Paulo, e Oswaldo Cruz, no Rio.
A doença tem tratamento, mas os remédios podem provocar efeitos colaterais, felizmente contornáveis. Na última década, aumentou a letalidade por leishmaniose visceral, o que levou o Ministério da Saúde a criar um manual de normas e condutas para o tratamento dos casos graves. O documento, que enumera também especialistas e centros de referência na doença, está disponível no site do ministério.