Mal se conhece e a garotada já está se beijando, trocando carinhos. Os pais ficam logo antenados para esse namoro que evolui tão rápido. Enganam-se! Não é namoro, é o “ficar”, que envolve intimidade, mas não compromisso. Em princípio, nada a opor, desde que seja vivido com responsabilidade e não resulte em corações partidos ou, pior, numa gravidez indesejada.
Como todos sabemos — afinal o comportamento não é tão recente —, o ficar funciona como uma descoberta a dois, um “treinamento” para as relações futuras. Equivale ao flerte do passado. Só que este acontecia às escondidas, com os garotos forçando um pouco a barra e as meninas negando até onde podiam. Hoje não tem nada disso. Tudo se dá às claras e não só com a permissão mas também com a iniciativa das meninas. Em princípio, ambos concordam que só o corpo namora, que não rola sentimento, mas às vezes o roteiro muda e dá uma encrenca danada. Isso acontece quando um dos dois se apaixona, frequentemente a garota, que costuma ter uma imagem mais romântica dos encontros, ou quando a intimidade ocorre sem os devidos cuidados, como o uso da camisinha, resultando numa gravidez. Imagine: eles são dois adolescentes, estão ainda sem saber o que farão de suas vidas, precisam pensar no vestibular, fazem planos para o futuro, experimentam, sonham. Se aparece uma gravidez, tudo vira de cabeça para baixo.
O mesmo casal que não se desgrudava no começo da relação, ainda que ela fosse apenas de “ficar”, e passava horas no telefone, depois de uma manhã inteira juntos na escola, quando descobre a gravidez, passa a se agredir. A relação vira um tsunami. O grude dá lugar às dúvidas e acusações: “Mas você disse que tomava pílula!”; “Como você permitiu que isso acontecesse?”; “Você disse que na hora H podia tirar e terminar fora”; “Será que esse filho é meu mesmo?”.
Mesmo que a relação seja um pouco mais estável que um simples “ficar”, é difícil que sobreviva à chegada de um filho. Afinal, os dois têm muito pouca idade, falta-lhes maturidade emocional e estrutura social e financeira para bancar os cuidados, despesas e renúncias que um filho acarreta na vida de um casal. É exatamente por isso que a chegada de um bebê (mesmo por adultos) deve ser planejada. Quando acontece na adolescência, e de maneira inesperada — ou desejada —, as coisas complicam mais e a relação tende a não ter vírgula, mas ponto final.
Sem poder montar uma casa para a vida conjunta, cada um permanece na casa de seus pais. O filho acaba sendo criado pelos avós. Nesse contexto, é quase impossível que o amor sobreviva. É preciso, portanto, que se tenha consciência, desde cedo, de que satisfazer o desejo do corpo pode ser bom, mas não é tudo. Além disso, é fundamental que se respeite a própria individualidade, de modo a não entrar numa relação sexual só para agradar o outro. Por fim, é importantíssimo ter a responsabilidade de saber que não pode haver festinha sem camisinha.
Do contrário, um comportamento sem juízo pode resultar numa relação para uma vida inteira (ainda que separados, eles sempre terão um filho juntos), e, pior, numa relação infeliz.
A adolescência é uma etapa da vida que deve ser aproveitada. Nela, embalo deve ser sinônimo de festa e não de bebê no colo.