ALÉM DO SORRISO, BRUNO HERDA DE FAGUNDES A PAIXÃO PELA RIBALTA
JOVEM AJUDA NA PRODUÇÃO DE MONÓLOGO DO PAI E SE INSPIRA NA DEVOÇÃO DO NOTÁVEL ATOR À PROFISSÃO PARA NORTEAR A CARREIRA
Redação Publicado em 11/08/2009, às 12h58 - Atualizado às 13h16
Faiscantes, os olhos grandes e amendoados que Bruno Fagundes (20) herdou do pai, o admirável ator, diretor e produtor teatral Antônio Fagundes (60), se enchem de luz ao falar de seus dois grandes amores: a família e o teatro. Filho do ator com a ex Mara Carvalho (45), atriz, escritora e diretora, o jovem guia os passos da carreira pelo exemplo que tem em casa. "Minha escola são meus pais. Olho para a história deles e vejo que sou capaz de conseguir tudo o que quero. Eu me miro no modelo de caráter e profissionalismo dos dois, meus ídolos", conta o assistente de produção da peça que marca a volta do pai ao teatro em seu 16º espetáculo - três anos após As Mulheres da Minha Vida -, o monólogo Restos, do americano Neil LaBute (46). "Bruno tem garra e força de vontade, está correndo atrás de seus sonhos. Trabalhar com ele está sendo maravilhoso", diz o veterano, orgulhoso do caçula e pai ainda da empresária Dinah (29), do publicitário Antônio (28) e de Diana (27), formada em Rádio e TV, da primeira união, com a atriz Clarisse Abujamra (61).
Bruno descobriu o amor pelo teatro aos 14 anos e já atuou nas peças A Lua Sobre o Tapete, de Olair Coan (1959-2007), Gente que Faz e Pã, escritas e dirigidas pela mãe; no longa Fim da Linha, de Gustavo Steinberg (36); e contracenou com o pai em participação na série global Carga Pesada. "Ao final da minha primeira apresentação, quando voltei ao palco para agradecer, tive a certeza de que era isso o que queria fazer pelo resto da vida. Escolhi começar no teatro, pois é onde você consegue se aperfeiçoar graças à resposta imediata do público; é onde você pode mostrar seu trabalho na íntegra. Não tem 'errou, corta, faz de novo'", diz o jovem.
Ciente das agruras de início de carreira, o rapaz, que está cursando o terceiro ano da faculdade de relações públicas, arregaçou as mangas e pilota a própria produtora. "Não desanimo com os 'nãos' que se leva no começo. Procurei entender de produção para ter a autonomia de viabilizar minhas próprias peças e atuar", explica. Em meio aos preparativos para a estreia do monólogo do pai, no dia 20, Bruno recebeu CARAS no que agora se transformou em sua segunda casa, o escritório que era dos pais, nos Jardins. Em seguida, nos levou ao Teatro Faap, onde ajuda o pai nos ensaios. Juntos, Bruno, solteiro, e Fagundes, namorado da bela atriz Alexandra Martins (29), falaram do seu esforço conjunto para a viabilização do projeto e sobre como a relação de amizade, confiança e amor se fortaleceu com esta convivência mais estreita.
- Como é a relação de vocês?Bruno - Meu pai sempre foi incrível, carinhoso, não há do que reclamar. Ele é observador. Se reprovava algum comportamento, dava só uma olhada e eu já engolia seco. Não escolhemos ser pai e filho; escolhemos amigo. Relação se constrói aos poucos. Demora, mas, quando vem, é verdadeira.
Fagundes - Não sou de altas reprimendas. Prefiro sentar e conversar. Sempre tentei passar aos filhos que o importante é ter integridade, senso ético e honestidade, que, além de faltarem hoje em dia, são base da boa personalidade. Bruno tem maturidade especial para a idade e lida bem com isso. Nunca deixa de ser jovem, tem uma alegria extraordinária, mas, ao mesmo tempo, sabe se posicionar se necessário. Isso é bonito, forma um caráter bastante completo. Ele tem excelente temperamento, a gente sempre se deu bem.
- Trabalhar juntos está sendo uma experiência positiva?Fagundes - É uma relação que nunca tivemos; é a primeira vez que trabalhamos efetivamente juntos. É maravilhoso passar mais tempo com ele. Sempre peço suas opiniões no processo de ensaio. Confio no que diz, não por ser filho, mas por saber que, pela sua maturidade, será sincero.
Bruno - Fico emocionado por darmos juntos esse passo. Creio que, como uma família de artistas, temos mais é de unir forças mesmo. Conto nos dedos os dias para ver a reação do público na estreia. É gratificante ter participado disso desde o primeiro momento.
- Como reagiu quando Bruno decidiu seguir a carreira de ator?Fagundes - Confesso que recebi a notícia entre a dor e a delícia, pois a profissão às vezes é tão ingrata e a gente nunca quer que filho sofra. A gente vive apreensivo. Sabemos como o mercado é muito limitado, o que nos exige um esforço contínuo. Ao mesmo tempo, fiquei muito feliz com a escolha.
Bruno - Meu pai falou em tom de surpresa: 'Tem certeza?' Tentou me mostrar prós e contras. Já minha mãe se posicionou menos. Eles dizem que ficaram assustados, mas acho que já sabiam, pois as coisas aconteceram naturalmente. Eu comecei a fazer uma peça aqui, outra ali e, quando percebi, já estávamos todos envolvidos.
- Ter pais que são referência na profissão ajuda ou atrapalha?Bruno - Ajuda no sentido de ter em quem me espelhar, mas, como tudo na vida, há o lado ruim: a expectativa de que meu trabalho seja como o deles. Isso não existe, cada um constrói sua história. Nunca deixei de trabalhar e nunca consegui trabalho pelo sobrenome. Sei que de nada adianta se eu não me dedicar. Meus pais acompanham minha evolução e isso é um presente para mim. Eles são as pessoas mais importantes na minha vida, meus ídolos, meus heróis.
Fagundes - Ser filho de atores não muda em nada. Sem talento, não há sucesso. Ao mesmo tempo, não atrapalha, pois nada podemos fazer para impedi-lo. Está nas mãos dele encontrar o seu caminho; o que fazemos é torcer muito. Mas, é claro, se ele quisesse ser dentista, eu torceria da mesma maneira.