por Deonísio da Silva* Publicado em 29/10/2010, às 18h45
Anfitrião: do grego Amphytryon, nome de um mítico chefe guerreiro de Tebas, de quem Zeus toma a forma para engravidar a esposa, enquanto Hermes - Mercúrio, em Roma - torna-se idêntico ao escravo Sósia, montando guarda à porta, pois o marido está viajando. Mas foi do francês amphitryon, palavra dicionarizada em 1752, quase um século depois da peça Amphitryon, de Jean-Baptiste Poquelin, mais conhecido pelo pseudônimo de Molière (1622-1752), que ela veio para outras línguas. Antes do célebre dramaturgo, porém, outros autores deram a peças suas o mesmo título, como é o caso de Plauto (254-184 a.C.) em Amphytrio, e Luís de Camões (1524-1580) em Anfatriões, escrito também Enfatriões, mas sem que as palavras entrassem para a língua designando o dono da casa que recebe convivas ou aquele que paga as despesas de banquetes ou refeições. A escala no francês foi decisiva para dar a anfitrião e a sósia os significados que hoje têm. Antes de designar o gesto tão nobre e generoso, indicou originalmente, então, o marido da adúltera.
Preparar: do latim praeparare, derivado de parare, aparelhar, dispor, com o sentido de esforçar-se para obter algo, antecedido de prae, antes, preferencialmente. Consolidou-se com o sentido de fazer algo com antecedência, visando a outras ações. Assim, o cozinheiro prepara o prato; o aluno preparase para o exame; para dar a má notícia, o psicólogo prepara o ouvinte; e o profissional prepara-se para executar uma ação. Todos os sentidos apontam para ações que devem ser feitas antes. Na culinária, um dos primeiros textos em que o verbo preparar aparece como ação indispensável ao bom prato é Hedypatheia, Tratado dos Prazeres, atribuído a Arkhestratos (350 a.C.). Inventor da palavra gastronomia, ele ensinava técnicas de preparo de peixes e recomendava que as pessoas procurassem alimentos puros e respeitassem as "leis do estômago". Foi baseado nele que Joseph de Berchoux (1762-1838) escreveu o poema La Gastronomie ou L'Homme des Champs à la Table (A Gastronomia ou o Homem dos Campos à Mesa), poema de 1000 versos alexandrinos. Foi a partir dele que o cozinheiro ganhou certa aura social.
Servir: do latim servire, ligado a servus, servo, escravo, do mesmo étimo de servitium, serviço, e de serventuário, serventia. As tarefas de servir à mesa foram originalmente da responsabilidade de servos e escravos, mas com o tempo, por força da ligação desses trabalhos com ofícios sacerdotais, em que eram oferecidos sacrifícios em forma de iguarias aos deuses, as profissões ligadas ao ato de comer - preparar, cozinhar, servir - adquiriram relevância social. Vários autores, sobretudo franceses, destacaram-se nessa redenção. Um deles foi Georges Auguste Escoffier (1846-1935), que popularizou e modernizou os métodos tradicionais da culinária francesa. Onde havia desordem, bebedeira e comilança, levou organização, disciplina, sobriedade e moderação. Foi ele também quem substituiu a prática do serviço à moda francesa (todos os pratos servidos de uma vez) pelo serviço à moda russa (um prato por vez, na ordem disposta no menu).
Taoísmo: do chinês tao, origem de tudo, de acordo com doutrina formulada no século VI a.C. por Lao-tsé (cerca de 570-490 a.C.). Ensina que há uma integração do ser humano à realidade cósmica primordial, o tao, escrito também tau. Prescreve uma existência natural, espontânea e serena, de caráter contemplativo, opondo-se ao racionalismo pragmático que caracteriza os ensinamentos de Confúcio (551-479 a.C.). O viajante, médico e naturalista francês Raimundo Henrique des Genettes, que visitou uma tribo de índios em 1836, perto das nascentes do rio Manhuaçu, no trajeto do Rio de Janeiro para Minas Gerais, ouviu ali de uma criança coropó a palavra tao para designar Deus. Eis o registro que fez: "Três letras me puseram fora de mim. Tao, em ecualdunak (dialeto basco de origem sânscrita), é o nome venerado de Deus". Luiz Ernesto Wanke e Marcos Luís Wanke, no livro Brasil Chinês (Editora Lewi), oferecem ao leitor outros exemplos desta provável presença. Vários autores sustentam que os descobridores chegaram pelo Pacífico, não pelo Atlântico. Há semelhanças entre o quíchua, falado pelos incas, e o sânscrito, a língua sagrada da antiga Índia. Na Universidade Federal do Pará há outras evidências da presença chinesa no Brasil na era pré-cabraliana.
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