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Publicidade / Fashion Tendências

Saiba mais do trabalho de um estilista com os looks no cinema

Há décadas, estilistas e diretores de cinema trabalham juntos para surpreender e encantar as plateias. E, cada vez mais, essa relação ultrapassa fronteiras e influencia as tendências que ganham as passarelas e as ruas

Juliana Cazarine Publicado em 22/04/2013, às 17h40 - Atualizado em 10/05/2019, às 11h20

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Miuccia Prada e a figurinista Catherine Martin escolheram e adaptaram 40 vestidos da Prada e da Miu Miu para a nova versão de O Grande Gatsby - Warner Bros. Pictures
Miuccia Prada e a figurinista Catherine Martin escolheram e adaptaram 40 vestidos da Prada e da Miu Miu para a nova versão de O Grande Gatsby - Warner Bros. Pictures

Um filme fashion não é, necessariamente, um filme sobre história da moda. Mas tem informação de moda. O figurino, na maioria dos casos, leva a assinatura de um estilista consagrado ou uma grife famosa. A trama O Grande Gatsby – sexta versão cinematográfica do romance de F. Scott Fitzgerald, que será lançada em junho deste ano – é um exemplo. O cenário é a cidade de Nova York, nos Estados Unidos, na glamourosa década de 1920. A trilha sonora, o jazz. E o protagonista é um milionário que ama o luxo e adora festejar. Pompa e sofisticação não faltam à história. Está aí o apelo fashion e a deixa para o diretor Baz Luhrmann anunciar a colaboração de Miuccia Prada, designer da Prada e da Miu Miu, no figurino do filme.

A estilista italiana, ao lado da figurinista Catherine Martin, adaptou para a época em que a história é contada 40 modelos de vestidos que já fez para Prada e Miu Miu. Ela tem nas mãos – talvez indiretamente – a tarefa de fazer um figurino tão aclamado quanto foi o de Robert Redford, que interpretou Jay Gatsby na versão de 1974 de O Grande Gatsby. O personagem – ou melhor, seu visual – “lançou” Ralph Lauren para o estrelato fashion. “Foi o momento do estilista ficar conhecido mundialmente”, afirma Jorge Wakabara, editor de moda e pesquisador. E não poderia deixar de ser, já que seu vestuário se tornou um ícone. Em uma cena, Daisy – cobiçada pelo protagonista – vê a coleção de camisas de Gatsby e suspira: “Nunca vi camisas tão lindas!”. As roupas de Ralph Lauren também conquistaram o público feminino. O estilista vestiu a personagem de Diane Keaton em Noivo Neurótico, Noiva Nervosa (1977), de Woody Allen, e lançou o “estilo Annie Hall”, que não demorou para conquistar as fashionistas. No filme, Annie, a personagem principal, usa peças dos guarda-roupas masculino e feminino para compor um visual moderno que leva o toque clássico da alfaiataria. Calças largas, camisas, coletes e até gravatas passaram a fazer parte – com maior intensidade – da moda para mulheres.

A explicação para a fama conquistada por Lauren e para a curiosidade que o figurino assinado por Miuccia tem despertado é simples: “o figurino de um estilista é um espetáculo à parte em um filme”, diz Wakabara. A história de grandes designers de moda no cinema é longa. Mas a estreia não foi tão bem- sucedida. Coco Chanel foi a precursora. Em 1931, ela foi convidada pelo lendário produtor de cinema Samuel Goldwyn, da MGM, para assinar o figurino de três filmes. Entre eles, o de Esta Noite ou Nunca. O destaque era o guarda-roupa de Nella Vago, personagem principal interpretado por Gloria Swanson, uma das atrizes mais famosas na época.

Goldwyn tinha interesse na informação de moda da Chanel. Um filme pode levar anos para ser produzido e é grande o risco de que, quando ele chegue às telas, os figurinos estejam ultrapassados. Até hoje, quando um diretor procura um estilista, ele quer agregar a criatividade daquele profissional ao seu filme e garantir que as peças mostradas estejam atuais, além de lindas. Chanel recebeu um milhão de dólares pelo trabalho. Mas o dinheiro – que a ajudou a manter a maison aberta após o crash da bolsa de Nova York em 1929 – foi o único bom resultado do trabalho. O figurino foi criticado porque não tinha glamour suficiente para as telonas. Funcionava para uma mulher da vida real, não para Hollywood. Mas Chanel e os estilistas que a sucederam aprenderam com a experiência.

Elsa Schiaparelli e Christian Dior também se lançaram – e com sucesso – como figurinistas nas décadas de 1930 e 1940. Mais tarde, depois de participar de outras cinco produções cinematográficas – foram sete no total – Chanel se consagrou na função. O guarda-roupa da personagem de Delphine Seyrig, de Ano Passado em Marienbad, de 1961, foi parar nas principais revistas de moda da época. A roupa ficou eternamente vinculada à personagem e à história. O filme ganha. O estilista e sua grife também. “Os fashionistas são convidados para dar elegância ao personagem e deixar, literalmente, sua marca na trama. Mas, em geral, hoje, o que une diretores e estilistas é um interesse comercial”, afirma Ivan Bismara, coordenador do curso de moda da FAAP. É uma via de mão dupla. E quando dá certo, podem surgir duradouras parcerias de sucesso. Jean Paul Gaultier participou de três produções de Pedro Almodóvar: Kika, de 1993, A Má Educação, de 2004, e A Pele que Habito, de 2011. Miuccia Prada, antes de participar de O Grande Gatsby, trabalhou ao lado de Baz Luhrmann em Romeu + Julieta, de 1996. Tais parcerias mostram que o interesse pode ser artístico também, e não puramente comercial, e que o filme busca – e talvez pre­cise – do “DNA” do estilista. E ele não tem, necessariamente, que criar a roupa especialmente para o filme, como já fizeram Yves Saint Laurent, em A Pantera Cor-de-Rosa, de 1964, Kate e Laura Mulleavy, as designers da Rodarte, em Cisne Negro, de 2010, e Tom Ford, em 007 Operação Skyfall, em 2012. Basta que ele “empreste” seu talento.

Hubert de Givenchy vestiu Audrey Hepburn em Sabrina, de 1954, Cinderela em Paris, de 1957, Amor na Tarde, de 1957, Bonequinha de Luxo (talvez o mais famoso filme fashion), de 1961, Charada, de 1963, Quando Paris Alucina, de 1964, e Como Roubar um Milhão de Dólares, de 1966. Mas não executou exclusivamente uma peça sequer para o filme que deu início à parceria. A responsabilidade pelo figurino de Sabrina foi da aclamada figurinista Edith Head. Mas Audrey achava que o visual da personagem pedia vestidos franceses “assinados”. Então, com autorização de Billy Wilder, diretor do filme, a atriz foi a Paris convidar Givenchy para criar as roupas de Sabrina. Ele não tinha tempo para participar da produção, mas mostrou à Audrey modelos que estavam prontos e ouviu como resposta: “é o que eu preciso”. Edith assinou sozinha o figurino e ganhou um Oscar por ele. Mas Givenchy e Audrey não perderam. Ganharam status de ícones fashion.

“O diretor, muitas vezes, precisa do olhar e da criatividade do estilista para salientar o apelo fashion de seu elenco ou personagem”, afirma Marcos Mello, fundador da Cavallaria Filmes e idealizador do São Paulo Fashion Film Festival. O look pode não ser inédito, mas ser montado e adaptado pelo estilista, ou ainda o figurinista pode “orquestrar” as peças de grife no visual dos personagens. Em O Diabo Veste Prada, de 2006, por exemplo, a figurinista Patricia Field reuniu peças de grifes como Prada, Chanel, Donna Karan, Valentino e John Galliano para dar vida ao estilo fashionista das personagens do filme. “O figurino é um pilar de expressão da cultura e o cinema espelha o desejo do ser humano. A moda e o cinema se inspiram um no outro e, com isso, refletem estereótipos”, avalia Mello.

O cinema, e a mídia em geral, exerce forte influência sobre a moda. “O figurino revela o caráter, a personalidade e a história de um personagem. Quando nos identificamos com ele, seja porque temos algo em comum ou porque queremos ter, vamos trazer elementos dele para a vida real”, afirma Warde Marx, professor da Faculdade de Letras, Artes, Comunicação e Ciências da Educação da Universidade São Judas Tadeu. Gigolô Americano, da década de 1980, ditou tendências fashion. O figurino era tão ostentado no filme que Richard Gere, o ator principal, teria perguntado à produção: “Quem está atuando nessa cena: eu ou o paletó?”. Os dois, Gere. Você não estava brilhando sozinho.