Eles sempre foram um tanto tímidos e limitados para se vestir. Mas o homem brasileiro pode estar mudando. E se agora reivindica um espaço maior no mundo fashion, que tal ajudá-lo a ocupá-lo com estilo?
A culpa dos homens brasileiros serem ‘travados’ para se vestir é... das mulheres. Quem afirma é Lula Rodrigues, jornalista e consultor de moda masculina. “Na maior parte das vezes, quem compra a roupa do homem é a mulher”, diz. Para ele, a ala feminina até gosta de ver homens se vestindo de um jeito fashion – alguém aí lembrou de David Beckham? –, mas não ousa na hora de compor o look do próprio namorado. Afinal, ter um parceiro metrossexual significa menos espaço no armário e na frente do espelho. E os homens não se importam? “Não, porque se a roupa estiver ruim, o erro é dela, não dele”, diz Lula.
O psicólogo Tiago Lupoli concorda. “É uma situação cômoda para os homens. Mas atualmente os relacionamentos tendem a ser mais igualitários, o que pressupõe que cada um assuma suas escolhas e cuide da sua individualidade, o que inclui o guarda-roupa”, afirma. Infelizmente, a sociedade ocidental (incluindo as mulheres) continua sendo machista, e torce o nariz para homens que gostam de moda. Mas isso não impede que eles se interessem. Basta olhar para os ingleses e italianos. “Nesses países, o interesse é cultural e o homem tem a obrigação de estar bem-vestido”, diz Fabio Paiva, editor de moda. E não por coincidência, foi exatamente em Londres e Florença, em janeiro deste ano, que aconteceram as semanas de moda masculina mais comentadas da temporada: a London Collections e a Pitti Uomo, prestigiadas por críticos de moda, como a poderosa Suzy Menkes, do Herald Tribune.
Especialistas afirmam que o assunto nunca teve tanta visibilidade. Para se ter uma ideia, na última década, mais de 20 livros sobre moda masculina foram lançados. Este ano, pela primeira vez, uma revista de moda masculina, a Fashion for Men, chegou a 820 páginas. “A moda masculina movimenta um grande mercado. Esse filão só vem crescendo”, afirma Paiva. Dados recentes da consultoria britânica MarketLine confirmam esse cenário, inclusive no Brasil. O mercado de moda masculina no país cresceu 7% em 2012 e fechou o ano movimentando US$ 17,1 bilhões. Em 2017, a previsão é que esse número suba para US$ 23,6 bilhões, uma alta de 38% em relação a 2012. O crescimento da demanda pode ser explicado pelo aumento de referências a que o brasileiro tem acesso – com mais revistas especializadas à disposição, por exemplo –, mas também pela constante necessidade das marcas descobrirem novos nichos para comercializar novos produtos. E nada mais promissor do que o segmento masculino no Brasil.
O fato é que nos últimos anos, o mercado reconheceu que os homens também querem roupas que tornem seu guarda-roupa menos enfadonho. Ben Perdue, editor de menswear da consultoria britânica WGSN, especializada em análise de tendências, diz que os homens estão, definitivamente, mais seguros no jeito de se vestir e de comprar roupas. “Tanto a relevância comercial quanto a criatividade masculina têm criado uma efervescência no segmento”, diz. E ele aponta algumas tendências para o verão, como as peças sportswear, navy, preppy, além das calças chino coloridas, das calças cropped e das estampas camufladas. Ressalta também o retorno do punk e do grunge em peças como a calça skinny e estampas xadrezes e uma alfaiataria mais colorida, inspirada nos anos 1970. Perdue lembra que os tecidos tecnológicos, muito associados ao esporte, têm grande apelo junto ao público masculino. “O neoprene é o novo tweed”, concorda Lula Rodrigues. Este é um trunfo que pode convencer seu namorado a usar peças mais fashion: unir moda, tecnologia e esporte é uma ideia que geralmente dá certo e produz resultados interessantes. Mas, acredite, alguns homens são seduzidos por tecidos bem menos “másculos”.
A alagoana Martha Medeiros que o diga. Ela acaba de lançar sua primeira coleção masculina feita com um elemento bem feminino: a renda renascença. “Tem que ser muito macho para usar”, diz a estilista bem-humorada. Ela conta que a ideia veio de uma conversa com um cliente de Saint-Tropez, na França. E de um pedido do empresário Rico Mansur, que queria uma camisa de renda branca para usar no réveillon. “O homem é vaidoso, gosta de exclusividade”, afirma. E para quem não acredita no sucesso da coleção, Martha informa: “Mal terminou o desfile e diversos pedidos já estavam sendo feitos”.
Mesmo depois de ler tudo isso, muitas leitoras certamente ainda não conseguem imaginar o namorado usando calças na altura do tornozelo e sapato oxford sem meia, certo? Mas há maneiras de convencê-lo a ser mais fashion. Ouse nos acessórios. “E nunca pergunte a um homem se ele é vaidoso ou se gosta de moda. Ele vai travar”, afirma Lula Rodrigues. O psicólogo Tiago Lupoli aconselha a não forçar a barra. “Seja parceira, acompanhe seu namorado nas compras e peça a opinião dele. A troca torna os relacionamentos interessantes”, diz.
A verdade é que, com a internet, tudo ficou mais fácil para os homens. Mesmo sem a “consultoria” de uma mulher, sites e blogs de moda servem como fonte de informação e inspiração, como o Mr. Porter. A loja on-line de menswear global, que é um fenômeno desde 2011, traz tendências, ensina a usá-las e, principalmente, ‘salva’ diversos homens que odeiam ir aos shoppings. Referências de homens estilosos também não faltam. Exemplos como os cantores Seu Jorge e Jay-Z, os atores Johnny Depp e Rodrigo Santoro, além do jogador de futebol David Beckham e do príncipe Harry, provam que acrescentar atitude ao look não tem nada a ver com ser “afeminado”. Nas ruas brasileiras, já é possível notar que alguns homens acompanham as tendências. Mas a mudança é cultural e, por isso mesmo, lenta. Um cachecol aqui, uma calça colorida ali e pronto. Um dia acordaremos e descobriremos que, ao nosso lado, dorme um homem de alma fashionista.
Dicas para um homem fashion e másculo!
Lula Rodrigues e Fabio Paiva ensinam o que – e como – vestir para conseguir um look elegante e contemporâneo usando as últimas tendências da moda masculina
-Bolsa é, sim, coisa de homem! Prefira as do tipo carteiro ou as quadradas de mão para levar o tablet
-Aposte na calça cropped, a famosa “pula-brejo” ou “pega-siri”. Vale dobrar a barra de um jeito displicente
-A calça cargo continua na moda e a calça chino colorida está em alta!
-Nos pés: sandália flip flop de couro, sapato Oxford com ou sem meia, sapato topsider colorido e o monk strap. “É o novo Oxford”, diz Lula
-As polos são esportivas e elegantes, mas prefira as lisas
-Escolha uma alfaiataria mais justa, com tecidos leves. Equilibre a silhueta. “Adequação acima de tudo”, diz Paiva
-Nas estampas, camuflagens e xadrez madras
-Para os irreverentes, funny socks (meias coloridas)
-Ouse nos acessórios, como sapatos, cintos, gravatas e echarpes
-A gravata fina é para os mais jovens e pode ser usada com tênis e jeans. A média é para quem tem o pescoço curto. E a larga é para os altos
-Abuse dos tecidos tecnológicos
-Barba espessa é tendência, desde que bem cuidada
-Cores em alta: azul acqua e laranja ‘tangerine’