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Da madeira à arte

Como a marcenaria transforma toras em peças que duram décadas e encantam por sua sofisticação

Redação Publicado em 30/10/2012, às 09h07 - Atualizado em 02/11/2012, às 10h29

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Da madeira à arte - Marco Pinto
Da madeira à arte - Marco Pinto

O cheiro de madeira é forte, mas uma delícia. O barulho não chega a ser ensurdecedor, mas é bastante alto. Quase tudo parece ter a mesma cor, exceção do verde do maquinário e do azul do macacão dos marceneiros. Nas paredes, rolos de lixas amarelas e avermelhadas e serras dos modelos e tamanhos mais variados. O ateliê da Marcenaria Baraúna é assim. E chega a ser engraçado pensar que desse “caos” nascem peças de design simples, porém sofisticado, e de aparência leve. Do lado de fora do galpão, não se imagina o que acontece lá dentro. Prova de que a arte secular de se trabalhar com madeira tem sim um toque de mágica.

A Baraúna nasceu em 1986 como um braço do escritório de arquitetura de Marcelo Ferraz e Francisco Fanucci. E, assim, a dupla passou a desenhar, além de casas e lojas, móveis. Hoje, trabalham mais com madeira maciça de demolição, reflorestamento ou manejo. Mas, há 30 anos, chegaram a usar mogno, liberado na época e hoje proibido por lei. O que nunca mudou foi o olhar de arquiteto. “Ele é mais racional e busca a honestidade dos materiais”, diz Ferraz. Quando utilizam o compensado naval – um multilaminado que usa cola preta – os veios são deixados aparentes.

Segundo Ferraz, “a madeira maciça é considerada até hoje um material nobre porque é viva, insubstituível”. Além disso, seu uso é ecológico, porque são peças feitas para durar 50, 100 anos. O que ainda pode ser considerado um problema é o seu corte. Por isso há uma grande preocupação em só comprar de fornecedores certificados por órgãos nacionais e internacionais. Outro detalhe que enobrece as peças de madeira é a dificuldade de se trabalhar com ela. “Na marcenaria, um pequeno erro no começo vai ficando cada vez mais evidente”, diz. É necessário precisão milimétrica, intuição geométrica e extrema capacidade manual.

Os cerca de 20 funcionários que trabalham ali começaram do zero. E hoje sabe-se exatamente quem é melhor para cada situação. A mão e o olhar deles fazem toda a diferença. Tudo ainda é muito primitivo. A máquina não faz, apenas ajuda. E a grande diferença entre construir uma casa e um móvel está no tempo. “Eu me sinto realizado de saber que um pedaço de madeira que a gente não dá valor, depois de trabalhado, se transforma em um belo móvel”, diz Dieres Barreto Sodré, marceneiro. Por serem – arquitetura e marcenaria – muito ‘intrometidas’, interferindo na vida das pessoas de forma significativa, não podem ser um estorvo estético ou físico. Responsabilidade e capricho são fundamentais.

Fotos Marco Pinto, texto Camila Carvas