Com o amado, João Baptista, e dois dos filhos, ela narra um enredo de superação e conquistas
A história de Cássia Kis Magro (56) se confunde com a narrativa de muitos brasileiros. De origem simples, ela nunca fez das dificuldades que a vida lhe impôs uma barreira para seguir seus sonhos. Pelo contrário, as usou como força para superar obstáculos. “Sou uma mulher que enfrenta os problemas e que amadurece à medida que cada um deles aparece. Eu não fujo da realidade, a encaro de frente”, afirma a atriz, que deu provas de sua autenticidade ao falar abertamente sobre a descoberta, em 2013, do diagnóstico errôneo de transtorno bipolar que recebera oito anos atrás. “Tomei remédios errados por muito tempo. Ainda tomo alguns, pois não é fácil tirar tudo de uma vez. Mas logo quero estar zerada. Sou uma pessoa preocupada com a vida e medicação não é o caminho”, diz ela, que encontrou ajuda na meditação. “Substitui qualquer medicação”, avisa, convicta.
Sua personalidade forte é confirmada pelo amado, o psicanalista João Baptista Magro (63), com quem esta casada há sete anos. “Cássia é a típica mulher brasileira, que trabalha, estuda, se dedica à família e à sua arte. É uma mulher que dirige a sua vida, que está sempre com os pés nos chão. Ela não gosta de sapatos entre ela e a terra”, metaforiza ele, durante estada do casal no Castelo de CARAS, em NY, com Joaquim (19) e Pedro Gabriel (12), de relações anteriores da atriz, que ainda tem Maria Cândida (17) e Miguel (10).
Tornar-se protagonista da própria vida não foi tarefa fácil, mas Cássia não abriu mão deste caminho. Em 1989, por exemplo, quebrou tabus ao mostrar os seios no horário nobre da TV em uma campanha contra o câncer de mama. “Ator tem uma responsabilidade social”, argumenta.
Sem falar que, entre seus inúmeros papéis, parou o país ao interpretar Leila, a assassina da personagem Odete Roitman, em Vale Tudo. Diante de tanta intensidade, ainda assim, ela pondera ao falar do passado. “Queria refazer algumas etapas. Se pudesse, pegaria minha história e apagaria várias coisas com a borracha. Já fiz um monte de bobagem, mas você paga um preço por tudo e aprende com o tempo”, diz a atriz, de férias da TV desde o fim do remake global de O Rebu.
Quando o assunto é a maternidade, esqueça o estereótipo de mãe superprotetora. “Já fui brava, exigente, mas hoje respeito o espaço deles. Quero que descubram seu próprio caminho. Acho as mães, de um modo geral, chatas! São pegajosas. Dou as dicas, dou o exemplo, o resto é com eles”, garante ela, que conta com a presença de João na educação dos filhos. “Brinco bastante com eles. A brincadeira é uma espécie de conversa na qual diz muito”, garante o psicanalista, que compôs uma música para cada um dos herdeiros da eleita e, claro, uma para ela. “A maior lição que aprendi com João ao longo dos anos foi o cuidar. Cuidar da família, dos amigos e de quem está próximo”, assegura Cássia.
Quais caminhos buscou ao descobrir o diagnóstico errado?
Cássia – Qualquer pessoa que queira parar de tomar medicamentos pesados, de beber, de fumar ou usar drogas deve controlar a cabeça, por isso, faço meditação.
As crianças perceberam a sua transformação?
Cássia – Na verdade, nunca abri mão das minhas responbilidades de mãe. O que ocorre é que preciso ajudá-los e, para isso, tenho de ter domínio da minha vida.
Qual é o segredo da relação?
Cássia – A diferença é que faz dar certo. São nas diferenças que nascem os diálogos.
João – Tem de desenvolver o perdão e sonhar. É preciso sonhar e planejar as coisas juntos.
E quais são essas diferenças?
João – O tempo. Ela é paulista, eu sou mineiro! Cássia é direta, rápida, eu tenho um tempo maior. Entre uma palavra e outra, acho que é necessário respirar.
Os filhos têm veia artística?
Cássia – Os quatro têm veia artística boa, mas não forço a barra. Gosto que eles vejam o que eu faço para ter referência.
Quais valores passa a eles?
Cássia – Cobro disciplina, porque não se constrói nada à base da bagunça. Minha preocupação é que, se cuidar de mim e fizer as coisas bem feitas, talvez consiga ser um exemplo para os quatro.
E como é esse ‘se cuidar’?
Cássia – Além da meditação, quero falar cada vez menos. Fazer mais e falar menos para não correr o risco de ferir ninguém, nem a mim, nem a minha família.
Você começou a escrever sua biografia. Como ela está?
Cássia – Está pronta, mas só vou lançar quando chegar o momento. E ele vai chegar.
Qual é o capítulo decisivo?
Cássia – A vida como um todo. Tenho satisfação da minha trajetória, porque foi batalhada. Gosto de estar na vida e nunca me confundi com uma celebridade, sempre quis ser uma mulher comum. Sou convicta de que quero morrer direito. A construção da minha vida vai resultar na qualidade da minha morte. Hoje, me preocupo em me preparar para as minhas últimas décadas de vida.
E o seu melhor capítulo ainda deve ser escrito?
Cássia – Acredito que sim. Ainda erro muito, mas vai chegar a hora em que não vou pensar nem no erro, nem no acerto, esse será o melhor momento. Na hora que a morte chegar é que vai ser o grande barato. Gosto da vida e, se gosto dela, gosto da morte também. Nunca tive medo de morrer.
Nem de envelhecer?
Cássia – Pelo contrário. Gosto de ver o tempo passar, ver o que ele provoca. Tem dias que fico olhando no espelho para ver o que mais apareceu, é interessante.
São quase 40 anos carreira. Que balanço faz da trajetória?
Cássia – Há pouco tempo me convenci que sou atriz. Você se pergunta: Será que sou mesmo? Percebi que não há fim para o ator, vou sempre estar treinando a minha profissão.