Em entrevista à CARAS Brasil, a atriz Evelyn Castro fala sobre a sua nova protagonista no cinema e o que ela representa, e celebra parceria com o cantor Belo
A atriz, cantora e humorista Evelyn Castro (43) se prepara para estrelar o filme Caindo na Real - uma comédia com participação especial do cantor Belo (50), que chegará aos cinemas em 24 de outubro. Em entrevista à CARAS Brasil, a artista fala sobre a produção, dirigida por André Pellenz (Minha mãe é uma peça e Detetives do prédio azul) e que também traz nomes como Maria Clara Gueiros (59), Victor Lamoglia (31), Maurício Manfrini (54) e Carlos Moreno (70). No bate-papo, ela ainda reflete sobre a importância de sua primeira protagonista no cinema: uma rainha. "Minha criancinha fica feliz", exalta.
Logo de cara, Evelyn responde uma curiosidade: como foi atuar com Belo, considerado uma das principais vozes do pagode nos anos 1990 e 2000 e um dos grandes nomes da música brasileira. Além disso, ela faz questão de pontuar que o longa, com produção e distribuição da Elo Studios, não é uma comédia romântica. “Na realidade, não é exatamente um par romântico. A gente começa o filme com ele querendo ser o par romântico da Tina; fica meio implícito isso, na realidade. Só engata um par romântico no final do filme. Não é exatamente um par romântico, até porque não é uma comédia romântica, mas entendo que a gente tem que sempre cair para esse lugar. Interessante isso e até importante a gente falar sobre isso”, destaca a atriz.
E continua: “Porque é engraçado a gente falar sobre uma monarquia quando a grande piada do filme é sobre esse País virar uma monarquia diante de uma mulher que é uma minoria, que fala sobre uma minoria no Brasil, que na realidade é a maioria no Brasil. Bom, vamos ter que falar sobre isso. Falar da rainha, que é a rainha que tem o seu rei, ou do príncipe. Mas atuar com o Belo foi uma grande e grata surpresa enquanto ator. Acho que ele merece todos os aplausos, porque ele realmente foi ótimo, vocês vão ver isso na tela. Acho que um grande cantor como ele é e intérprete, não tem como deixar a desejar enquanto ator. Belo é um maravilhoso intérprete e não tem como não entregar na interpretação também”.
Evelyn revela que já tinha uma certa intimidade com o cantor e com a família dele, antes de rodar o filme. “Já tinha conhecido a Gracyanne, por exemplo, já vinha trabalhando com ela há uns cinco anos, pelo menos, quando eles estavam juntos; então, já conhecia o Marcelo. Foi muito legal poder trabalhar com ele e também vê-lo se jogando, porque ele se joga na interpretação. Foi muito bom poder conviver com ele, vê-lo se jogando nessa nova área na vida dele. Sei que ele veio lá de um trabalho com o pessoal do Afroreggae, já soube também que ele arrebentou nesse trabalho, então foi muito bom vê-lo se jogando na comédia”, ressalta.
“Ele é um parceiro incrível, um parceiro que está aberto. Já sabia que ele é um cara extremamente humilde, extremamente gente boa, essa é a palavra. O Belo é gente boa, ele é gente da gente. Acho que isso conta muito. A gente teve uma troca incrível e sempre terá. E eu, enquanto cantora também, foi uma honra ter o Belo enquanto cantor e poder trocar com ele”, emenda a atriz.
Evelyn relembra fase em que costumava ouvir as canções de Belo, quando ele ainda era vocalista do grupo Soweto. “Sou fã do Belo e eu tenho uma amiga que não é fã do Belo, ela é alucinada por ele. Então, a minha adolescência é marcada pelo Belo e o Soweto; é óbvio. E tem uma história muito curiosa – a gente fala que ela pegou isso de uma loja de CD – a gente fala: ‘Você roubou isso de uma loja de CD’, mas é mentira, ela não fez isso, claro que não. Uma loja de CD estava se desfazendo de um totem dele em tamanho real, da banda Soweto, e ela pediu para ficar com o totem. Então, a gente tinha o totem do Belo no quarto dela e ele participou de todas as festas nossas de adolescência, o Belo. Ele estava em todas as festas e em todas as fotos de grupo, da nossa de galera”, entrega.
“Então, essa minha amiga era alucinada nele e é claro que eu, enquanto cantora, como não ser fã desse cantor, com esse timbre? Falo que o timbre do Belo é muito maravilhoso e eu sou muito fã do timbre dele. Timbre é uma coisa que se nasce, não se aprende. E sim, sou muito fã dele enquanto cantor, enquanto intérprete e artista, porque ele tem um carisma único também. Ele tem uma coisa única de chegar no público; acho isso superimportante. E a minha reação ao saber que iria contracenar com ele foi muito curiosa, porque primeiro eu fiquei: Ué, o Belo? Mas por que? Não vou mentir, achei curioso. Já contracenei com a Gracyanne, agora vai ser o Belo, fiquei meio sem graça e é estranho; mas depois foi tranquilo, foi super tranquilo, estava tudo em casa, tudo em família porque ele também se tornou um grande amigo”, completa a artista.
Evelyn ainda destaca uma curiosidade, muito divertida, dos bastidores de Caindo na Real: “Tem vários fatos curiosos, porque o Belo parece mais um Erê, ele é uma criança. E teve uma gravação que estávamos todos em cena, era uma das últimas gravações, e ele tinha um aplicativo que simulava um barulho de peido. Então, ele simplesmente simulou um barulho de peido e a gente achou que ele peidou na gravação onde estávamos todos em cena. E a gente falou: ‘Meu Deus, é isso mesmo? O Belo peidou em cena com todos nós aqui? É isso? Eu vou espalhar isso para todo mundo, que o Belo peidou em cena. Agora você vê, o cara que vai lá, romântico, faz todo mundo chorar, que todos nós temos canções com a voz, o timbre aveludado dele, e ele vem aqui e peida em cena!”.
“E ele ficou rindo. Eu falei: Você estragou a minha cena porque você peidou. E ele ficou rindo e depois tentando avisar: ‘É um aplicativo’. E eu falava: É mentira, vou falar para todo mundo que você peidou. Ele é uma criança, um cara muito divertido, anima qualquer ambiente que ele esteja. A produtora dele, Roberta, maravilhosa também. Isso tem que ser dito. Eram duas pessoas muito incríveis de estar no ambiente e tornava qualquer ambiente alegre. Ele foi necessário nesse processo todo com a gente”, acrescenta.
PROTAGONISTA
A atriz dá mais detalhes sobre Tina, de Caindo na Real. "É uma mulher extremamente brasileira, periférica, honesta, simples, daquelas mulheres fortes que o único desejo delas é crescer ali no nicho delas e poder – acredito eu, que eu montei isso em camadas na minha cabeça – ser gerente da lanchonete dela para poder pagar uma faculdade e poder ajudar as pessoas ali do ambiente dela, do bairro dela, da família dela. Acho que a Tina é uma mulher que se preocupa, se preocupa com o meio dela, em como ela vai afetar aquele meio dela. Acho que é isso. É uma mulher que se preocupa com as ações dela”, diz.
“Eu procurei trazê-la bem mais assentadinha. Eu falo que a Tina é chão. E a gente é parecida nisso também. É uma personagem querida. Eu, a Evelyn, a minha criancinha fica muito feliz em me ver com uma coroa, a possibilidade disso. Espero que as crianças me vejam como referência de que isso é possível - assim como já veem em Encantados. Que eu possa ser referência para isso também”, fala.
POLÍTICA SEM FALAR DE POLÍTICA
Na trama, a heroína Tina leva uma vida atribulada atrás da chapa de uma lanchonete e sem tempo até mesmo para namorar - para desespero de Barão, um eterno romântico que não se cansa de fazer serenatas para sua rainha (interpretado por Belo). Mas o que ninguém poderia imaginar é que Tina é uma rainha de verdade: depois de um golpe que restaura a monarquia no Brasil, ela troca as chapas e lanches pelo comando de uma nação, enfrentando desafios inesperados enquanto tenta governar o país e fugir das artimanhas do conselheiro real, Alaor (Maurício Manfrini).
Apesar de ser comédia, Caindo na Real tem um fundo político: “É superinteressante, pois a gente fala de política não querendo falar exatamente de política. É leve, é um humor leve. A gente fala do Brasil, a gente fala dessas pessoas que, quantas vezes nós estamos – falo de "nós" porque estou incluída, fala de mim, fala da minha família Silva, fala dos Silva – à margem e é essa família que vira a monarquia do Brasil. E que sim, a Tina que é uma mulher honesta e é uma mulher, a gente fala da quebra do patriarcado, de uma mulher que se sente capaz. Nós, mulheres, a gente dá conta, sim, dessas funções, e a gente pode estar no poder, a gente pode dar conta de muitas coisas. Então, a gente fala muito de todas essas questões”.
MAIS UMA COMÉDIA NA TRAJETÓRIA
Evelyn Castro fez inúmeros filmes, séries e esquetes de humor ao longo de sua carreira. Destaque para as produções Tô de Graça, do Multishow, e Encantado's, do Globoplay, e o longa Tô Ryca 2, com Samantha Schmütz (45). “Mais uma comédia na minha trajetória. A Tina é uma personagem mais sóbria, ela é uma mulher que eu quis trazer mais leveza, uma coisa mais pé no chão. A Tina traz mais naturalidade, eu quis trazer mais verdade para essa mulher, quis que as pessoas se identificassem mais com essa mulher, que trabalha para caramba no dia a dia, que só quer o básico, quer ter qualidade de vida, viver bem, ela quer ser honesta, ela quer um país honesto, quer dar o mínimo de qualidade de vida para esse povo, que não tem nem o básico; ela quer o que todo mundo quer”, explica.
“Então, na realidade, quis sair um pouco até, trazer algo diferente, que é assentar mais essa personagem do que já faço, trazer uma personagem mais real mesmo, mas gente da gente para essa comédia. Trazer a Tina para uma pessoa que a gente fala: Poxa, ela é gente boa, ela é legal, ela é tão legal que é capaz de ser enganada, até. Poxa Tina, caramba”, continua.
SÉRIE ENCANTADO´S
Na coletiva de imprensa da série Encantado's, Evelyn comentou sobre o desafio de interpretar Maria Augusta e agradeceu a oportunidade de a terem tirado do estereótipo, porque, segundo a atriz, sempre foi ou a machona, ou a empregada doméstica. A artista, então, volta a falar deste tema: “Sobre a Maria Augusta, essa pergunta é muito importante e é muito bom ela chegar agora, porque estou falando da Tina, no Caindo na Real, e estou novamente entrando no processo de Encantado´s, porque a gente vai começar a gravar a terceira temporada e Maria Augusta está fervilhando. A gente tem falado muito sobre isso”.
“Sim, tenho muita vontade de fazer uma supervilã, de fazer algo sério, por exemplo. Posso até fazer uma dramédia. Quero muito fazer uma dramédia, essa supervilã que tem essa pitada desse humor ácido e tal. Quero muito fazer, mas estou vivendo um momento que, aliás, quero muito fazer. A Tina chega a beirar, não a supervilã, mas a naturalidade; e essa personagem, que está um pouco mais assentada, tem humor, mas está mais assentada. A Maria Augusta é um grande presente porque me vejo na tela – por mais que ela também tenha um humo. Porque a Maria Augusta é completamente fora da casinha, por ela querer alcançar o estrelato, ser influencer. Ela quer ser alguém. Mas tem camadas na Maria Augusta que ela vai mostrar ao longo dessas temporadas”, pontua.
“Ela já terminou a segunda temporada mostrando isso, porque teve quase o fim do casamento dela e a Maria Augusta é muito família. Apesar de ser fora da casinha, ela é muito família e ama aquela família dela. E ela é o subúrbio, apesar de ainda estar nesse processo transitório de ser uma mulher lightskin – como diz o meu amigo Digão Ribeiro. De ela ser uma mulher parda/mestiça dentro de um elenco predominantemente negro”, acrescenta Evelyn.
Ela confessa que fica muito feliz de estar inserida e ser reconhecida nesse lugar. “Fico muito feliz mesmo. E hoje mesmo, disse a frase que é muito importante (...) Porque as pessoas veem a gente na tela e falam: ‘Como somos bonitos’. O "Encantados" consegue colocar a gente na tela e as pessoas falarem assim: ‘Caramba, o subúrbio é bonito, nossa família é bonita, nossos costumes, o samba, a escola de samba, nossos sonhos são bonitos, a nossa comunidade é bonita, a nossa família é bonita’. Então, é isso que o "Encantados" traz. E ele me coloca, a Maria Augusta me coloca num pedestal ali, coloca o meu corpo livre, me coloca num pedestal, me coloca bonita. Coisa que outros personagens me colocavam, muitas vezes, ou à margem, ou me colocavam num estereótipo”, diz.
Evelyn deixa claro que não está reclamando desses outros personagens: "Não! Agradeço demais a todos os outros personagens, mas a gente consegue ver um movimento de mudança e esse movimento de mudança é muito importante de acontecer. Acho que a Tina também é uma resposta para esse movimento de mudança. Acho que no Caindo na Real, só essa história já é uma resposta para esse movimento de mudança. Essa história da Tina ser uma chapeira do subúrbio e que vira a rainha do Brasil, mas falando dessa premissa desse filme, já é uma resposta dessa mudança, desse Brasil se ver na tela e falar da possibilidade desse Brasil ser, sim, uma rainha. Então, me ver com uma coroa e ser, dessa vez, a rainha estampada num cartaz, é ver a Tiana da Disney, é ver a Ariel, é me ver nesse lugar; e isso é emocionante. Minha voz embarga neste momento”.