Em entrevista à CARAS Brasil, Claudia Leitte revela que descobriu TDAH durante a pandemia. Cantora desabafa sobre momento difícil após diagnóstico
Após cantar para milhares de pessoas no carnaval de Salvador, Claudia Leitte vive uma nova fase. Na última terça-feira, 9, a cantora gravou o DVD intitulado Intemporal, em São Paulo. Diferente das músicas agitadas que costuma cantar, o projeto marca uma era mais intimista. Em entrevista à CARAS Brasil, a artista relembra o período em que ficou impedida de cantar e ter contato com os fãs após o diagnostico de Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH).
"Eu sou TDAH, eu nasci TDAH, a pessoa nasce, é uma condição, mas eu nunca soube porque isso é uma coisa que tá mais em evidência agora, as pessoas estão falando mais sobre esse assunto e tem muita gente descobrindo assim como eu depois dos 40 anos. Na pandemia eu pifei emocionalmente porque foi a primeira vez na minha vida que eu fiquei sem o palco, quando eu digo [isso] é que fiquei sem gente, sem o carinho no camarim, sem o olho no olho, sem ver os meus fãs, sem ver o meu público ali na minha frente porque eu faço música para as pessoas, eu canto horas e meu hiperfoco ele é ativado quando eu tô num trio elétrico, no palco, exatamente porque eu nasci para servir aquelas pessoas que estão ali", desabafa.
Assim como outros artistas, Claudia Leitte se apresentou em lives para os fãs. O novo jeito de se comunicar foi uma maneira encontrada pelas pessoas para respeitar as restrições contra a covid-19. Apesar de cantar e conversar com os admiradores, ela diz que o contato físico e a presença no palco tornou a descoberta do TDAH ainda mais difícil.
"Foi muito esquisito, eu trabalhei muito na pandemia, foi um momento onde eu fazia muitos vídeos, muitas lives, mas eu não tinha o que me movimenta. Eu faço música pelas pessoas então comecei a me questionar e aí veio um turbilhão de questionamentos que eu considero bem puxados e que poderiam ter me desequilibrado se eu não tivesse pessoas ao meu lado que foram sempre muito importantes para minha vida. Sempre valorizei gente, hoje valorizo ainda mais porque foi bem complicado", relembra.
Com o conhecimento da condição, Leitte diz que sua qualidade de vida teve um salto positivo, uma vez que se conhece mais ainda. "Melhorou tudo na minha vida porque eu acho que o princípio de tudo é você saber quem você é independente de ser neurotípico ou neuroatípico, fato. E aí eu descobri quem eu era muito cedo, eu descobri minhas vocações muito cedo, eu fui trabalhar muito cedo, só que eu fui muito desafiada e eu não sabia porque que eu me comportava de tal maneira, aí quando isso era considerado importante, ruim ou inadequado para o público eu falava: 'Mas por que eu sou assim?'. E aí eu descobri quando você descobre: 'Por que você é assim? Por que você não é igual às outras pessoas? Por que você não consegue gesticular menos ou ficar com menos pensamos, menos expectativas? É muito legal e libertador'", diz.
O fato de o tema ainda ser pouco discutido na sociedade faz com que muitas pessoas sejam diagnosticadas de forma tardia. Com a influência conquistada com seu trabalho na música, Claudia quer cada vez mais levar conhecimento sobre o TDAH e mostrar a importância do respeito.
"Eu tive um diagnóstico tardio, tá tudo se encaixando assim meio que enzima e proteína. Eu descobri que sou uma Ferrari, descobri que tenho um cérebro maravilhoso, tô apaixonada pelo meu cérebro e antes eu o condenava. É o primeiro amor, é a libertação. O TDH não é uma coisa fácil, acho muito legal falar sobre isso que tô vivenciando, experimentando, então sai muito naturalmente. Tem a história do hiperfoco, eu vivo muito isso então é natural que eu fale sobre isso e falo no intuito de levar essa mesma libertação pra alguém. As pessoas têm naturezas diferentes, eu tenho a minha personalidade, eu sou uma pessoa então não adianta etiquetar: 'Eu sou TDAH, eu sou igual a Claudia Leitte'. Cada um tem a sua onda, tratamento psicológico, psiquiátrico é sempre individual, é autoconhecimento, acho que sempre vale ressaltar isso", afirma.
A cantora de coração baiano diz ser uma pessoa que gosta de ter tarefas, mas que não se descuida do autocuidado. O mesmo a intérprete de Largadinho indica para o próximo: cuidado com a saúde física e intelectual.
"Eu indico para todo mundo se cuidar independente de ser ou não neurotípico. Tem que ter acompanhamento, tem que ter gente boa do lado, tem que pedir ajuda, é muito importante. Isso tá me ajudando muito nesse processo de conhecer que preciso de ajuda porque eu tenho essa natureza de fazer tudo", conclui.
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