Em entrevista à CARAS Brasil, o diretor e ator Thiago Carvalho comenta sobre o cenário do cinema nacional e revela expectativas para o Oscar
Publicado em 31/12/2024, às 08h00
Thiago Carvalho, ator e cineasta que tem se destacado como expoente brasileiro nos Estados Unidos em produções independentes, não alivia para o mercado de audiovisual nacional e faz severas críticas ao modelo atual. Com 17 anos de carreira, Thiago acumula a função de dirigir suas produções com seu trabalho como empreendedor e diretor do Conservatório de Artes Performáticas de Los Angeles. Em entrevista à CARAS Brasil, ele fala sobre 2025 ser o ano de mudança no cinema brasileiro: "Momento certo", declara.
Formado como ator, Thiago encontrou na direção uma resposta à escassez de oportunidades no Brasil. “Me formei ator e me vi na necessidade de virar cineasta. Existem poucos trabalhos para atores e poucas oportunidades, eu virei cineasta para poder produzir as histórias que eu queria contar como ator”, compartilha. Essa transição se mostrou essencial para sua evolução artística, unindo o olhar criativo de ambas as funções.
A decisão de migrar para o mercado internacional foi moldada por desafios e aprendizados. Após ter seu primeiro grande trabalho como ator na HBO, canal internacional responsável por produções de grande sucesso como Succession e Game of Thrones, Thiago conheceu um outro lado do audiovisual. "Na bolha das novelas e produções, eu até então não havia tido espaço como ator. Trabalhar para um grande canal internacional é, na carreira de alguém que só fez trabalhos independentes, vivenciar uma realidade inimaginável", relembra.
Em 2016, o diretor foi para os Estados Unidos pela primeira vez, mas, sem uma estratégia sólida, precisou voltar ao Brasil. Dez anos depois, sua organização e determinação o levaram a Los Angeles de forma definitiva: "No Brasil, faço 3 testes por ano, nos Estados Unidos faço 10 testes por semana. Mas a maior dificuldade em ir para fora é o dólar. Demorei 10 anos para me organizar de uma forma solida para estar lá".
Thiago é enfático ao apontar as fragilidades do mercado audiovisual brasileiro. Segundo ele, a falta de investimento privado e a dependência de recursos públicos tornam o setor frágil e limitado. “Entender o cinema como indústria seria o primeiro ponto. Nos Estados Unidos, investidores entendem o cinema assim e investem milhões porque sabem que tem retorno. Aqui não há investimento privado. É muito raro. E o dinheiro público vem de maneira falha”, destaca.
"São milhões investidos em filmes que não dão retorno, nem resultado econômico, nem prestígio em festivais. O dinheiro vai para quem melhor preenche planilhas e segue um Frankenstein de regras e não há um plano de desenvolvimento do audiovisual como houve na Coreia, por exemplo", desabafa.
Apesar de reconhecer o potencial do Brasil, ele lamenta o impacto de políticas que desmantelaram avanços conquistados nas últimas décadas: "A dependência do governo faz com que o mercado seja frágil e os avanços do nosso cinema, que atingimos com a lei do audiovisual, foram completamente destruídos durante os governos Temer e Bolsonaro".
Produzir no mercado independente, especialmente no exterior, exige resiliência e uma forte rede de apoio. “Você precisa de uma comunidade que acredite na sua visão. Não se faz cinema sem dinheiro, e mais ainda sozinho”, explica Thiago. Ele também enfatiza a importância de construir relevância ao longo do tempo: “As pessoas precisam confiar em você e ganhar essa confiança e relevância leva muito tempo”.
Sobre o Oscar, Thiago expressa torcida pelo cinema brasileiro, mas não demonstra muito otimismo. “O filme do Walter Salles, com sorte, leva alguma estatueta. Seria muito importante para o nosso mercado isso acontecer. Se for a Fernanda Torres a levar, melhor ainda. É o momento certo da indústria para isso acontecer”, comenta.
Quanto aos seus próprios projetos, o cineasta compartilha um sonho especial: uma cinebiografia sobre o streamer Alexandre "Gaulês", um dos grandes nomes no mundo dos games. “Me considero da 'tribo', sua comunidade online. Meu sonho seria interpretar ele em uma cinebiografia de sua história. Até hoje é uma bússola para mim. Seria uma honra. Alô, Gau Gau, topa essa?”, brinca.
Além disso, Thiago planeja rodar dois longas-metragens independentes em parceria com a Otzi Group e sua comunidade artística. "Eu, meus amigos e parceiros da Otzi Group, produtora de cinema, juntamente com meus alunos e membros da minha comunidade de artistas do Conservatório Internacional das Artes, onde sou o fundador e diretor artístico", conclui.
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