Em entrevista à CARAS Brasil, Alexandre Barillari comemora novo vilão em filme inspirado em obra de Walcyr Carrasco, que aborda encarnação e reencarnação
Publicado em 10/09/2024, às 08h00 - Atualizado às 10h53
O ator Alexandre Barillari (50) – o icônico Guto da novela Alma Gêmea, grande sucesso da TV Globo – se prepara para viver um novo vilão em sua carreira. Desta vez, ele será o carrasco Andrés, responsável pelas mortes de vários personagens no filme Juntos para Sempre, baseado no livro homônimo de Walcyr Carrasco (72), o mesmo autor da trama de 2005, atualmente no ar, no Vale a Pena Ver De Novo. Em entrevista à CARAS Brasil, o artista comemora o novo personagem da história que aborda os temas encarnação e reencarnação. "Meus desejos têm sido atendidos", diz.
Barillari inicia destacando a curiosidade de estar vivendo mais um personagem criado por Walcyr. “O que tenho achado mais curioso é uma certa sincronicidade da vida de juntar o que antes não era unido. Quer dizer, a ideia da novela está sendo reprisada – um fenômeno de novo, como foi há vinte anos – e surgir um novo projeto com o Walcyr, um novo personagem, agora, um carrasco medieval, numa história que aborda também um pouco dos temas da novela, para mim são dessas coisas que me deixam surpreendidos com essas epifanias que a vida nos oferece”, reflete.
“A história é a do livro Juntos para Sempre, não é nenhum spoiler. É de um advogado que tem problemas, enfim, atormentado por alguns sonhos e acaba sendo surpreendido com a ideia de que poderia solucionar alguns desses problemas com uma regressão. E nessa regressão, ele visita outras vidas, outras encarnações, enfim, e me encontra nesse medievo, onde eu faço um carrasco medieval e tal, que é um personagem que vai mover essa mola, essa engrenagem das encarnações. Quer dizer, para uma nova encarnação é preciso morrer naquela e assim por diante. Então, o Andrés é esse cara que bota literalmente o fogo na fogueira, é um torturador, é um inquisidor”, completa o ator.
O artista destaca ainda que o tirano não fica atrás de Guto. “Gosto de sempre, quando me atribuo à pecha de vilão, que ele seja de fato um vilão clássico, ou seja, aquele que ousa atingir a tragédia; assim como o Guto, que talvez seja o maior de todos que eu já tenha feito, mas o Andrés também não fica atrás porque também é um torturador dos piores e, mais do que isso, ele tem até um certo prazer nisso”, salienta.
Para o longa, com direção de Adolpho Knauthe e produção de Jackeline Barroso, Barillari precisou raspar a cabeça. E como as gravações estão sendo realizadas em Campos do Jordão, no interior de São Paulo, o ator revela curiosidades, principalmente por conta do frio: “Estamos no inverno e a mais de dois mil metros de altura. Eis que de repente, o diretor sugere para que eu raspasse a cabeça; cheio de mesuras, muito tato (...) Achei a ideia maravilhosa, aceitei de pronto. Ele até se surpreendeu um tanto com isso, mas adoro me irreconhecer nos personagens. Nunca tinha feito uma mudança tão drástica assim”.
“Raspei a cabeça. No dia seguinte, aqui, em um hotel incrível em Campos do Jordão, onde há um espelho muito grande no quarto, acordo e aconteceu, literalmente, de eu me surpreender de achar que não era eu (risos). Quando acordei, abri os olhos e me vi diante do espelho pela primeira vez (...) Isso foi incrível! Porque já estou de saco cheio da minha cara, são 50 anos me vendo (risos). De maneira que, quando os personagens demandam essas mudanças, acho incrível. Aceitei imediatamente, e acho que foi incrível para o personagem”, emenda.
E Barillari continua revelando curiosidades sobre o novo visual. “Voltando à história de estarmos a dois mil metros, no inverno de Campos de Jordão, é porque eu não imaginava que fizesse tanto frio na cabeça. E a gente tem locações nos pontos mais altos da cidade, onde a temperatura relativa chega na madrugada a menos 8, menos 10 graus. E aí é que tem sido o problema, porque esse frio corta a cabeça, queima a cabeça e os miolos (risos). Mas a sorte é que estamos todos juntos”, fala o ator, se referindo a toda equipe do filme, cujo roteiro é assinado por Regiana Antonini e Fausto Galvão.
MAIS CURIOSIDADES DE BASTIDORES
De acordo com o artista, além do elenco – que traz Flavio Tolezani, Rafael Zulu e Fernanda Lasevitch –, a produção conta com cerca de 200 pessoas. Ele comenta sobre a interação de todos e a aventura que todos têm passado juntos na região.
“A gente acorda pro café da manhã juntos. Outro dia, teve um café da manhã nesses menos cinco graus, que foi aterrorizante, porque ainda havia granizo nas mesas, sabe? O gelo derretendo com o começo da manhã. Mas a gente se afaga, a gente se esquenta. Foi incrível essa história de estarmos reunidos, numa cidade onde a gente toma café, almoça, janta, convive... Todo mundo junto. Porque isso nos une quase com uma colônia de férias, uma coisa meio circense, itinerante circense. Isso é delicioso!”, festeja.
“Não há, pelo que eu saiba, pelo que eu recorde, nenhuma outra dramaturgia que tenha sido feita nesse cenário. De maneira que isso empresta também um certo ineditismo à paisagem, ao locus narrativo do filme. Então, aqui tem sido incrível, apesar do frio na cabeça (risos)”, completa Barillari.
ANDRÉS E VILÕES
O ator volta a enaltecer seu novo personagem. “Como falei anteriormente, sobre esse meu interesse sempre pelos vilões clássicos, assim como o Guto, aquele que mata a protagonista no primeiro capítulo e promove talvez um dos mais emblemáticos casos de plot twist, né? De virada, de ponto de virada da história (...) O Andrés é um pouco assim, ele é um personagem que está concentrado no medievo, ou seja, nessa encarnação pretérita. E é o responsável por movimentar essa engrenagem. O Flavio Tolezani, que faz o protagonista, é o personagem que vai em busca dessa regressão e que me encontra no medievo aprontando todas. Então, é um pouquinho do que eu posso (falar). São vários golpes dramáticos e várias surpresas e viradas sobre as quais eu não posso falar tanto assim, para não dar spoiler justamente dessas surpresas, mas é um pouco sobre esse caminho”, adianta.
Sobre dar vida a personagens tão maléficos, Barillari garante que consegue se desvencilhar da carga negativa que eles provocam, assim que sai de cena. “Adoro fazer vilões, e acho que os meus desejos para que os faça têm sido atendidos. Eu já fiz alguns, uns mais vilões, outros menos vilões. Esse é um grande vilão, é um vilão medieval, é um torturador medieval. As cenas de tortura com camas de tração e outras formas de tortura são sempre muito pesadas de serem feitas. O cenário é escuro, é sombrio, é taciturno, é sorumbático. Mas, por outro lado, acho que eu me desfaço deles e dessa energia do personagem com uma certa facilidade”, explica.
E continua: “Porque, se não fosse assim, talvez não pudesse desejar um dia fazer Arthur Rimbaud, cuja vida é de todo o sofrimento. Então, os vilões carregam isso e eu tenho que ter, como ator, essa capacidade de me desvencilhar disso. E depois da cena ter valido, do ‘valeu cena’ do diretor, a gente se reunir pra jantar e celebrar o dia alegremente. Claro que a gente se veste desse personagem: doze, quatorze horas por dia”.
O artista entrega que para a sua caracterização, precisa de duas horas por dia. “Ao contrário do que eu achava: bom, careca, não vai precisar fazer nada. Ao contrário! Eu fico absolutamente duas horas por dia de preparação, e uma hora por dia de desfazimento dessa construção do personagem. Porque quando a gente raspa a cabeça, a cabeça fica mais clara. E aí, é preciso igualar isso com uma técnica fenomenal da caracterização. Tem uma cicatriz no rosto também. É um processo que demanda muito. Se a gente somar tudo isso, às vezes eu fico muito tempo dedicado ao personagem. E claro que nutrindo e me doando nessa energia soturna e sombria do personagem. Mas quando ele vai, quando deu ‘set encerrado’, a gente se despede dele até um encontro no dia seguinte e o resto da noite é feliz da vida”, finaliza Barillari.
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