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Todo mundo quer ser amado, mas o prazer de amar é muito maior

Por <b>Nahman Armony</b>* Publicado em 23/06/2009, às 16h05 - Atualizado em 01/07/2012, às 04h16

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Quantas vezes você já ouviu lamentos como o que abre a música de Antonio Maria (1921-1964), cantada por Maysa (1936-1977): "Ninguém me ama, ninguém me quer/ Ninguém me chama de meu amor"? Muitas, não? As palavras podem até ter sido outras, mas o significado se repete: "Ah, como eu queria ser amado...". Agora, quantas vezes você ouviu alguém dizer "Ah, como gostaria de amar alguém"? Estou certo de que foram poucas. Claro que quando duas pessoas se amam torna-se problemático separar o "amar" do "ser amado". Com frequência, porém, se acredita que a felicidade está mais em receber do que em dar amor. Engano, pois as delícias de amar superam as de ser amado. Ser o foco do amor de alguém é muito bom, mas tem mais a ver com uma posição passiva, uma satisfação vaidosa, uma felicidade que vem de outro e dele depende. A alegria de ser amado não é plena, não é visceral. Já o amar é algo que nos pertence, que nasce em nossas entranhas e nos enche o peito de um júbilo transbordante, que ativa nossas moléculas em direção ao ser amado, que provoca uma alegria que nasce e mora em nós mesmos, que nos torna melhores, mais capazes de apreciar a vida, mais generosos, com disposição infinita para viver e realizar. Ser amado é um empréstimo; amar é um capital. Quando o amor pelo outro nasce de nós ele transborda para o mundo. Os versos que se seguem, de Poema do Amor Universal, de minha autoria, expressam este pensamento: "Eu amo/ E ao amar/ Posso amar mais ainda/ Posso estender meu amor em comprimento e profundidade/ Sem deixar de amar a quem amo". Quando sou amado, meu viço depende do outro. Quando amo, ele depende de mim mesmo. Não é fácil distinguir o amar do ser amado quando ocorre esta feliz conjunção de sentimentos. Se amamos e somos amados, ocorre uma retroalimentação, uma potenciação que eleva o amor aos píncaros. Ser amado estimula o amar, e vice-versa. Ao dissecar esse conjunto, porém, vemos que amar nos torna mais fortes, plenos e criativos do que ser amados. Se minha flama depende de ser amado eu a perderei quando aquele que me amou se for. Se ela depende de meu próprio amor, eu a manterei ainda que seja abandonado. Meu sofrimento não matará minha capacidade para a alegria, mesmo que a tristeza venha a ocultá-la, pois possuo uma potência dentro de mim. Já se meu amor depende do amor do outro, minha alegria vem dele, eu não a possuo, ela apenas me é concedida em usufruto, e por isso eu a perderei quando o perder. Por tudo isso, amar nos torna mais fortes que ser amados. E, quando somos correspondidos, o amor que já existe em nós se torna ainda mais pujante. É diferente de amar só por ser amado. Não havendo um núcleo de amor autônomo, o vigor murchará quando o outro se for, só restando desespero, desânimo, impotência. Portanto, amemos acima de tudo. Amemos àqueles que nos amam, mas nos lembremos disto: amar nos traz mais benefícios do que sermos amados. Não vale a pena amar quem não nos ama, mas também não é suficiente amar só porque somos amados. É preciso que o amor parta de nós. Assim, a capacidade de sermos alegres, vivermos criativamente, sentirmo-nos felizes se mantém latente. Ainda que hiberne por um período, mais cedo ou mais tarde acordará.