Quem só gosta de seduzir nunca experimentará uma relação plena
por Marcos Ribeiro* Publicado em 11/04/2011, às 19h38 - Atualizado em 15/04/2011, às 17h08
No mundo corrido em que vivemos, as relações presenciais vão sendo substituídas pelos namoros virtuais e o toque físico pela webcam. A regra geral é seduzir, mas não se envolver. É como se não tivéssemos mais tempo para "aprofundar a relação". Ao sexo - e ao amor - bastam os mistérios da atração e o desejo dos olhares. Não há lugar para o afeto mais profundo.
Quem aceita viver assim alimenta-se apenas da fantasia e deixa de construir um relacionamento completo, pois sobre pilares tão frágeis nada pode se sustentar. Não é que no jogo da sedução não haja promessas de afeto. Elas existem, mas são difíceis de serem cumpridas, o que acabaria com o próprio mecanismo da sedução. Ninguém se entrega.
Recebi um e-mail que dizia isto: "Não dá certo porque desvendei os mistérios e desejos dela; é como se ela fosse parte de mim. Como sentir tesão por mim mesmo?" O que está por trás da declaração nada mais é que incapacidade de conhecer de verdade essa pessoa e se envolver com ela. Quem não se envolve não se desenvolve. Não podemos nos tornar espectadores de nossas relações. Aquele que fica de fora, só olhando e seduzindo, se perde e perde o utro.
A fantasia é fundamental, mas fica sem sentido se ambos não passam dessa etapa do relacionamento. Uma relação que se fixa na superficialidade do amor, sem o conhecimento mais inteiro do outro, logo acaba. O não envolvimento impossibilita o crescimento da relação, fazendo com que cada parceiro desenvolva um medo enorme de descobrir o que se passa na cabeça do outro. Ao "desvendar" os mistérios da outra pessoa, nós "descortinamos" sua imagem real, que pode ser diferente da fantasia que criamos. Esse processo parece perigoso - e de fato é, se considerarmos o envolvimento um perigo -, porque pode mobilizar emoções que vão além do "jogo de cena".
Quem só gosta de seduzir nunca chega a essa etapa do desenvolvimento da relação, mas quem a esta altura já percebeu que ama vai em frente, quer mais. Quer descobrir a cada dia a história e os caminhos do outro, num processo que não cansa, não satura. É essa busca que alimenta a relação, é essa (re) descoberta a cada dia que fortalece o laço de união.
Quando convivemos com uma pessoa, depois de algum tempo congelamos a sua imagem, acreditando conhecê-la por completo. Dificilmente procuramos descobrir outros ângulos dela, diferentes daqueles que já nos são familiares. Por isso é que em muitos casamentos, quando um dos dois muda, quer fazer algo novo, o outro se espanta, fica aturdido. Se a relação não for sólida, estará neste momento fadada ao ponto final, sem direito a vírgula.
A mulher em geral quer envolvimento, paixão, roteiro. O homem mais comumente quer sexo sem história. Quando seduz, morre de medo de se envolver. Quando seduzido, teme ficar "na mão" da suposta amada. Mas as coisas não são tão simples. A vivência da amorosidade nos revela que é preciso voltar, após ter chegado ao fim, para começar tudo de novo, com as descobertas do dia seguinte. É preciso descobrir a pessoa amada todos os dias. Se a relação fica "fechada" na sedução ou se um julga já ter descoberto todos os mistérios do outro, isso se torna impossível. E a felicidade a dois, também!
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