Incerteza gera medo e reações impulsivas que afastam o amor
por <b>Paulo Sternick</b>* Publicado em 26/10/2009, às 18h34 - Atualizado em 29/10/2009, às 12h22
Aqueles que procuram alguém para uma vida afetiva autêntica e leal experimentam hoje um desafio adicional: o medo. Nunca antes na história da cultura humana o amor foi cercado por tantos riscos e incertezas. A esfera amorosa reflete o clima de ameaça que se vive em outros setores, como o do trabalho, o das finanças, o das ruas. A possibilidade de cair nas mãos de pessoas com egos exagerados, personalidades desorientadas ou exibicionistas, com sonhos criados pela mídia e desejos egoístas realmente existe e assombra mais do que nunca os corações.
Há quem chegue a desistir de se relacionar, por sentir que o cenário não é apropriado para a expressão do amor. Até mesmo pessoas que já vivem uma relação se sentem ameaçadas. O fato é comprovado por pesquisas experimentais: diante de situações de risco e incerteza - um atraso, uma ligação no celular que não é atendida, a página da internet fechada presumidamente às pressas, um suposto olhar interessado para outra pessoa -, os suspeitosos pombinhos já começam a produzir avaliações e adotar posturas nem sempre pautadas pelo equilíbrio e pelo bom senso. Não raro, acabam agindo de maneira impulsiva e desastrada. É oportuno que tomem consciência e pensem no assunto. Caso contrário, ficarão expostos a complicações emocionais capazes de prejudicar relações que poderiam dar certo.
Se Arthur Schopenhauer (1788-1860) estava certo quando disse que a espécie exerce um direito prévio sobre o indivíduo, então todos estamos sujeitos à mesma disposição mental - avessa ao risco e especialmente, diria eu, ao risco do amor. O que instiga, porém, é que o risco também seduz, por quebrar o tédio. A boa notícia é que, estando conscientes de uma coisa e de outra, a pessoa pode tentar evitar a reação impensada, dialogar e manter o equilíbrio para enfrentar com serenidade as situações que se apresentam.
Mas isso não é tão simples. Afinal, estudiosos do comportamento humano, munidos de evidências fornecidas por imagens de ressonância magnética funcional, já comprovaram que as reações diante do risco provêm de um circuito cerebral importante tanto nos processos da emoção quanto da motivação. É por isso que nessas situações, quando mais se precisaria parar e pensar antes de agir, prevalece a tendência de se perder o controle racional e se deixar guiar pela emoção.
Na relação amorosa, mais do em qualquer outra, a expectativa é de reciprocidade, por isso mesmo a traição é mais temida. Ainda mais hoje, quando vigoram os desfrutes descartáveis. Mas ninguém pode vigiar o parceiro o tempo todo, ou prever os destinos de seu amor, ou garantir a incolumidade da relação.
O que a ressonância magnética nos informa é que, diante da incerteza, ativamos a região cerebral ligada às emoções e ao medo. Ou seja, pensamos menos e sentimos mais. Não há dúvida de que a emoção joga seu papel no pensamento, sendo essencial à razão. Um sem o outro é manco. Mas a emoção pura não é boa conselheira. Ela pode ser a mãe de todos os desastres amorosos. Assim, o desafio que se nos coloca não é simples: o amor implica risco e incerteza e, diante disso, há forte tendência a se agir irracionalmente - o que ameaça a construção da relação. O jeito é mantermo-nos alertas para temperar toda essa emoção com um pouco de raciocínio.
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