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Etimologia

A palavra alcobaça, lenço grande de algodão e também nome de cidade em Portugal, tem origem incerta. Pode ter se formado da junção dos nomes dos rios portugueses Alcoa e Baça. Traída, por seu lado, vem do tupi tare’ira, peixe. É ainda sinônimo de traidor.

por Deonísio da Silva* Publicado em 15/06/2010, às 13h16 - Atualizado às 13h17

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Baça, rios que banham a cidade de Alcobaça, no distrito de Leiria, em Portugal. Alcoa veio do árabe al- qoâ, força, vigor, impetuosidade, e Baça, do árabe bas'lâ, pelo espanhol Baza, conjunto de cartas que o vencedor do jogo recolhe, no baralho. No português, alcobaça designa lenço grande de algodão, em geral vermelho, muito usado em Portugal. Em seu livro de estreia, Alguma Poesia, o poeta mineiro Carlos Drummond de Andrade (1902-1987) lembra em Papai Noel às Avessas a cor do lenço do bom velhinho: "Os meninos dormiam sonhando outros natais muito mais lindos/ mas os sapatos deles estavam cheinhos de brinquedos/ soldados mulheres elefantes navios/ e um presidente de república de celuloide./ Papai Noel agachou-se e recolheu aquilo tudo/ no interminável lenço vermelho de alcobaça". Loteca: do mesmo étimo de loteria, do italiano lotteria e lotto, radicados no francês lot, parte, hlot para os antigos francos. Mesmo quem não gosta de futebol joga na loteca, designação popular da Loteria Esportiva. No livro A Vaca e o Hipogrifo, o poeta e cronista gaúcho Mario Quintana (1906- 1994) diz: "A loteria - ou o jogo do bicho, seu filho natural - jamais engana. Porque a gente não compra bilhete: compra esperança." O jornalista Antonio Goulart, seu colega de trabalho por muitos anos, conta-nos o seguinte: o poeta, "todas as quintasfeiras à noite, ao encerrar seu expediente, passava pelo setor de esportes do antigo Correio do Povo para participar do 'bolão' que o editor Paulo Moura e eu organizávamos. Era o apostador mais assíduo e pontual. Chegava sempre com a cota certa na mão: uma nota de dez. Às vezes, contrariando a regra, tinha que revirar os bolsos à procura do dinheiro, tirando para fora vários papéis com rabiscos, endereços, cartas amassadas, rascunhos de poemas, mil coisas". O futebol foi, por vias transversas, generoso com o genial escritor que a Academia Brasileira de Letras recusou três vezes: despejado do apartamento onde morou de 1968 a 1984, no Hotel Majestic, em Porto Alegre, foi acolhido pelo jogador da seleção brasileira, o catarinense Paulo Roberto Falcão (56), que lhe cedeu, de graça, um dos quartos de seu hotel para morar. Em Apontamentos de História Sobrenatural, o poeta dirá: "Rádios. Tevês. Gooooooooooooooooooooooooooolo!!! (O domingo é um cachorro escondido debaixo da cama)". E em Porta Giratória, ele, avesso a esportes, diz: "O único esporte que pratico é a luta livre com o meu Anjo da Guarda". Mica: do latim mica, pedaço, do mesmo étimo de migalha, esta trocando o "c" pelo "g". Por influência do latim micare, cintilar, veio a designar o mineral, cujos pedaços laminados brilham na escuridão. Mica aparece em Interpretação de Dezembro, de Carlos Drummond de Andrade, mineiro de Itabira, a cidade de ferro: "Usura da pedra/ em lento solilóquio./ A mina de mica/ e esse caramujo./ A noite natural/ e não encantada./ Algo irredutível/ ao sopro das lendas/ mas incorporado". Pretor: do latim praetor, pretor, pela formação latina prae-itor, aquele que vai na frente (da tropa), designando também o magistrado que tinha o comando supremo do exército. Quando os cônsules deixaram de ter funções judiciais, o pretor tornou-se juiz. O praetor urbanus atuava na cidade; o praetor peregrinus, como o nome indica, peregrinava por várias localidades, administrando a Justiça. A cidade de Pretória, na África do Sul, sede de importantes jogos da Copa do Mundo, deve seu nome ao proprietário das terras onde foi edificada, Martinho Praetorius (1819-1901). O topônimo já era homenagem a seu ai, Andress Praetorius (1798-1842), presidente da antiga República do Transval, segundo nos informa José Pedro Machado (1914-2005) no Dicionário Onomástico Etimológico da Língua Portuguesa. Traíra: do tupi tare'ira, peixe, pronunciado traíra pelos portugueses, conhecido também como cipó-de-viúva, dormedorme, jeju, maturaqué e taraíra. A semelhança fonética com trair e vocábulos do mesmo étimo, dado que a traíra tem dentes fortes, com quatro incisivos afiados, capazes de ferir com gravidade o pescador, fez com que designasse também o o traidor. E nesse sentido apareceu na frase ofensiva que Carlos Caetano Bledorn Verri, o Dunga (46), então capião e hoje técnico da seleção, dirigiu aos fotógrafos brasileiros, ao erguer a taça do tetra, em 1994, nos Estados Unidos, irritado com as críticas que recebera da imprensa: "Essa taça é para vocês, bando de traíras".