Bugre: do latim medieval bulgarus, búlgaro, herético, sodomita, pelo francês bougre, com iguais significados, mas aplicados aos índios brasileiros, tidos como semelhantes aos membros búlgaros da Igrega Greco-Ortodoxa, então vistos com desconfiança pelos católicos. Passou a ter também o significado de arredio, desconfiado, inculto, por morar na selva, longe da civilização. O Hino do Guarani, de Campinas (SP), diz em seus versos “Avante, avante, meu Bugre/ Que nós vibramos por ti/ Na vitória ou na derrota/ Hoje e sempre, Guarani.”
Guarani: de goa, senhor, dono, e hi, terra, étimos do guarani, língua geral da costa brasileira e também da Bolívia e do Paraguai, falada por povos indígenas de mesmo nome. Os paraguaios designam guarani também a moeda, forma de reforçar a celebração do passado indígena de que tanto se orgulham, a ponto de serem bilíngues até hoje: falam espanhol e guarani. Para garantir a posse da terra, era necessário lutar e guarani tem também o significado de guerreiro.
Macaca de auditório: de macaca, feminino de macaco, do banto makako, pequeno símio, dito também makaku em outras línguas africanas, e auditório, do latim auditorium, lugar em que muitos se reúnem para ouvir alguém falar ou cantar. Entretanto, macaca de auditório não vem do feminino de macaco, mas de expressão de um dialeto africano para designar os esgares da mulher que ameaça entrar em transe, faz caras e bocas em ritos de feitiçaria ou de cultos do sincretismo religioso. Foi nesses trejeitos, e não nos da macaca, que o cronista e compositor Nestor de Hollanda (1921-1970) se inspirou para designar as fãs exaltadas das cantoras do rádio, na Rádio Nacional, do Rio de Janeiro, nos programas de auditório, nos anos 1950.
Piquenique: de origem controversa. Os franceses dizem que veio do inglês picnic, escrito também pic nic, e os ingleses dão como origem o francês pique-nique, formado de expressão onomatopaica pic, picar, golpear, e o latim nihil, nada. O alemão registra simplesmente Picknick. A raiz remota é provavelmente o latim picca, pega, ave que come qualquer coisa. Ou ainda o latim piccare, picar, tendo também o sentido de dividir algo em mais unidades ou pedaços, e nihil, nada. No interior, há resquício de tal significado na expressão “vende-se cigarro picado”, isto é, a quem não pode ou não quer comprar o maço inteiro, de 20 cigarros, vendem-se cinco, três ou mesmo um cigarro apenas. Por piquenique entendemos passeio ao ar livre, seja no campo, seja na praia, em que cada participante contribui para uma refeição comum, levando alimentos, frutas e bebidas a serem partilhados por todos. O mais famoso dos piqueniques nunca existiu: é Le Déjeneur sur L’Herbe, traduzido como O Almoço sobre a Relva, mas também como O Piquenique no Bosque, do pintor francês Edouard Manet (1832-1883). Exibido pela primeira vez em Paris, em 1863, no Salão dos Recusados, que reuniu as obras rejeitadas em exposição oficial, sofreu diversos ataques, inclusive do imperador e da imperatriz franceses, mas inaugurou o Impressionismo. Nele aparecem sentados num piquenique uma mulher nua e dois homens vestidos socialmente.
Tintureiro: de tintura, do latim tinctura, ato de tingere, tingir. O sufixo “eiro”, presente na formação de tantas palavras, e no caso deste substantivo, indica ofício, como em padeiro, ferreiro, marceneiro, joalheiro, donde tinturaria, padaria, ferraria, marcenaria, joalheria. Começou designando quem tingia panos, mas depois se consolidou para indicar o profissional que lava, passa e tira manchas de roupas. O Dia do Tintuteiro é 3 de agosto.
Xumbrega: do sobrenome do general alemão Frederico Hermann Schönberg (1615-1690), que serviu às tropas portuguesas nas guerras travadas contra a Espanha no século XVII. Dono de vasto bigode, muito gordo, comilão e beberrão, ele tinha comportamento extravagante. Seu sobrenome serviu ainda de apelido ao incompetente administrador colonial português Jerônimo Mendonça Furtado (século XVII), detestado pelos pernambucanos, que usava bigodes tufados como ele. Nenhum dos dois fez boa coisa em seus ofícios e xumbrega veio a designar coisa malfeita, sem qualidade. É escrito também chumbrega.