Qualidade de quem tem ânimo firme para enfrentar perigos, coragem originou-se do francês courage, formado de coeur, coração. Ordem, palavra para a qual os dicionários registram cerca de 30 significados diferentes, veio do latim ordine, declinação de ordo.
Alaúde: do árabe al-Haud, achas de lenha, pedaços de aloés, queimados como incenso. Passou a designar instrumento de cordas dedilhadas, igualmente de origem árabe, com larga difusão na Europa no período que vai da Idade Média ao barroco. Aparece no famoso verso do poeta paulistano Mário Raul de Moraes Andrade (1893-1945): “Sou um tupi tangendo um alaúde”. E também em A Última Temporada, do poeta gaúcho Pedro Gonzaga (36): “Quase não há garotas sentimentais/ e por isso o mundo está perdido/ por isso o mundo só poderá ser salvo/ quando armados de alaúde/ voltar à Provença/ um novo exército de trovadores.” Como pano de fundo destes versos, o poeta imagina um tempo idílico, quando rapazes andavam de aldeia em aldeia cantando ou recitando versos ao som dos alaúdes e de outros instrumentos musicais que levavam consigo, lamentando perdas amorosas ou louvando as qualidades de moças casadouras, ditas também casadoiras.
Botija: do espanhol botija, tonel, odre, alteração do latim butticula, tonelzinho. Tonel em latim é buttis. A expressão nasceu entre os produtores de vinho, cachaça e outras bebidas. Os empregados apareciam bêbados, mas não se podia comprovar o deslize no trabalho, exceto quando eles eram pegos com a boca na botija, isto é, bebendo na torneirinha do tonel, por onde retorna o líquido que ali entrou, fazendo a viagem de volta, tornando ou retornando, mesmo étimo do substantivo francês tournée, viagem, passeio. Ser pego com a boca na botija tem equivalência em outras expressões, como ser pego com a mão na massa ou com as calças na mão. Para o mesmo significado, há no inglês “be caught red-handed”, isto é, “ser pego com a mão vermelha”, significando que foi flagrado praticando um crime sangrento.
Coragem: do francês courage, de coeur, coração, designando qualidade espiritual de quem tem ânimo firme para enfrentar perigos, arrostar dificuldades, praticar ações que põem em risco a própria vida, dizer e escrever o que pensa, ainda que isso tenha consequências adversas para quem os pratica. Sobre a coragem, diz o aviador e escritor francês Antoine de Saint-Éxupéry (1900-1944), em Terra dos Homens: “As tempestades, o nevoeiro, a neve, são coisas que por vezes te atrapalharão. Nessa altura, pensa em todos os que as conheceram antes de ti, e diz simplesmente: o que os outros conseguiram também eu hei-de conseguir.” O líder pacifista indiano Mahatma Gandhi (1869-1948) disse sobre coragem: “A coragem nunca foi questão de músculos. Ela é uma questão de coração. O músculo mais duro treme diante de um medo imaginário. Foi o coração que pôs o músculo a tremer.” Também Santo Agostinho (364-430) tratou da coragem: “A esperança tem duas filhas lindas, a indignação e a coragem; a indignação nos ensina a não aceitar as coisas como estão; a coragem, a mudá-las”.
Mestre-cuca: do francês maistre, pelo provençal maestre, designando aquele que não apenas sabe fazer, como sabe também mandar, ordenar, administrar, coordenar, ensinar. A origem remota é o latim magister. Já maestro, aquele que dirige orquestra, coro ou banda, procede do italiano maestro e seu feminino é maestrina. No espanhol, porém, maestro designa também o professor e não o regente da orquestra apenas. Já cuca, não no sentido de quem assusta (entidade fantástica, mulher muito feia) e de antiga moeda de 5 réis, mas como bolo, provém do alemão Kuchen, com influência do inglês cook, cozinhar. Mestre-cuca designa o bom cozinheiro.
Ordem: do latim ordine, declinação de ordo. Entre as 30 acepções de ordem registradas pelos dicionários, designa distinção atribuída por méritos, de que é exemplo a Ordem Real do Espírito Santo, criada pelo rei Henrique III (1551-1589) para distinguir os melhores cozinheiros da França.
Sorrateiro: de surrateiro, já em desuso, palavra formada provavelmente a partir do latim subreptus, enfiado por baixo, do verbo subrepere, introduzir-se por baixo, por sua vez de repere, arrastar-se, andar de rasto. Aparece nos versos de Narrativas do Coração, da poeta, professora e doutora em Linguística Soila Schreiber (58): “Entrei sorrateira debaixo da mesa/ senti o gosto doce.../ e para ti fiquei.../ Só sei que recebi um bilhete/ do meu amado/ Dizia o que todos podem prever.”