Chamado desse modo pelo costume de meter o nariz onde não é chamado, abelhudo vem de abelha, do latim apicula, abelhinha. Claro que muitas vezes não percebe, por isso não sente vergonha, do Latim verecundia, pudor, dito vergonça no Português arcaico.
Abelhudo: de abelha, do Latim vulgar apicula, abelhinha. O sufixo “udo” indicando abundância, excesso, está também em bicudo, cabeçudo, orelhudo, narigudo, rabudo, sortudo. O abelhudo tem o hábito de meter o nariz onde não é chamado, semelhando à abelha, que bisbilhota e se intromete em tudo à procura de pólen para fabricar seu mel, com a diferença de que ele busca fofoca para seu fel.
Bacharel: talvez de declinações e variações do Latim vulgar baccalarem, pelo Francês bachalier, jovem herdeiro de terras ou possessões, aspirante a cavaleiro ou noviço de ordem religiosa. Na Idade Média, passou a haver influência de títulos da nobreza territorial sobre as denominações universitárias, e o bacharel formava-se no campus, propriedade rural cedida à universidade, cujo reitor era o magnificus, título do dono das terras. Predominavam os cursos de Teologia e de Direito, e o título de bacharel era requisito para o de doutor. Mais tarde o núcleo de saber passou a ser Filosofia, Ciências e Letras, pois a Teologia veio a ser ministrada apenas nos domínios da Igreja.
Calipígia: do Grego kallipygos, belas nádegas. Como em caligrafia (escrita bonita): kalli, bonita, graphein, escrever; em calidoscópio, cuja variante é caleidoscópio, com três compostos gregos: kalli, belo; eidos, imagem; e skopein, ver. O étimo pygos — pygium, em Latim — designa extremidade, como em uropygium, sambiquira. Entre as várias representações de Vênus, a deusa romana do amor, há a Vênus Calipígia, exposta no Museu Nacional de Nápoles, na Itália, que aparece levantando a roupa para mostrar as nádegas, perfeitamente proporcionais. No Brasil, as mulheres mais admiradas têm seios médios ou grandes e são calipígias. Por isso, é crescente a demanda de próteses para compensar eventual parcimônia da natureza.
Decálogo: do Grego dekálogos, de déka, 10, e lógos, tratado, designando série de 10. O mais famoso dos decálogos são os Dez Mandamentos, que, segundo a tradição judaica e cristã, foram entregues por Deus ao patriarca bíblico Moisés (1391-1271 a.C.), no Monte Sinai. Enquanto o grande líder subiu para receber aquela que seria “a Lei”, seu povo, na planície, começou a adorar um bezerro de ouro. Diversos escritores fizeram humor a propósito do evento, sendo mais comum a brincadeira que supõe terem sido em maior número os mandamentos originais, mas Moisés, como bom judeu, fez uma pechincha, descendo com 10. Pechinchas com Deus não são impossíveis na Bíblia. Abraão (século XIX a.C.) negociou a destruição de Sodoma e Gomorra, usando como referencial o número de justos que ali habitariam. Começa com 50, chega a 10, mas assim mesmo Jeová destrói as duas cidades. Era mesmo durão.
Tríduo: do Latim triduum, espaço de três dias consecutivos, como as festas do Tríduo Momesco, os três dias do Carnaval, e Tríduo Pascal, a Quinta-feira Santa, a Sexta-feira Santa e o Sábado de Aleluia, que antecedem o Domingo de Páscoa. Dia 22 de abril de 1500 era domingo, oito dias depois da Páscoa. Por isso aquela primeira ponta de terra das costas da Bahia chamou-se Monte Pascoal. Naquele dia, após o desembarque, foi rezada a primeira missa, e a nova terra também teve um tríduo de nomes: Ilha de Vera Cruz, depois Terra de Santa Cruz e por fim Brasil. Quem primeiro desceu para conversar com os índios foi um judeu chamado Gaspar de Lemos (entre séculos XV e XVI), o mesmo que, dois anos depois, em janeiro, ao descobrir a Baía da Guanabara, confundiu-a com um rio, dando-lhe o nome de Rio de Janeiro.
Vergonha: do Latim verecundia, pudor, dito vergonça no Português arcaico. No plural, designa as partes íntimas, atentamente observadas pelo navegador português Pero Vaz de Caminha (1450-1500) na famosa Carta: “Ali andavam entre eles três ou quatro moças, bem moças e bem gentis, com cabelos muito pretos, compridos pelas espáduas, e suas vergonhas tão altas, tão cerradinhas e tão limpas das cabeleiras que, de as muito bem olharmos, não tínhamos nenhuma vergonha”. Quer dizer, eles também perderam a vergonha. Desde então, nas praias, palcos sensuais de nossos compridos verões e primaveras, o pudor, que já era pouco, diminuiu ainda mais, e predominou a moda chamada fio-dental em tangas, maiôs, biquínis.