É difícil, porém não impossível, encontrar um amor no carnaval
por <b>Célia Horta</b>* Publicado em 07/02/2010, às 16h14 - Atualizado em 11/02/2010, às 17h36
Nesta época, muitos se entregam ao espírito de liberdade típico da folia carnavalesca sem se preocupar com a continuidade de eventuais aventuras amorosas. Mas há também quem sonhe em encontrar um grande amor entre confetes e serpentinas. Alguns experimentam um sentimento misto: o desejo de viver uma louca paixão e a esperança de que ela se transforme em amor sereno, confiável. Mas será que é possível experimentar os prazeres do corpo nesses parcos quatro dias e ainda gerar um encontro de almas que possa se revelar também um amor duradouro?
A boa notícia é que alguns casais testemunham que sim, é possível. A má é que eles são poucos. Em primeiro lugar porque, cada vez mais, muitos já se preparam para o que os jovens chamam de "pegação", ou seja, para o efêmero. Saem dispostos a se relacionar com qualquer um, dois ou até mais. Nesse contexto, os casais se formam aleatoriamente, sem que se conheçam nem mesmo um pouquinho. Além disso, na escolha apressada, a estética conta mais do que o conteúdo. E, para completar, as máscaras ultrapassam o plano concreto, da vestimenta. A avaliação fica prejudicada e fantasiosa e os defeitos são encobertos ou minimizados em nome do desejo de aproveitar a ocasião. A festa proporciona o cenário ideal para que as diferenças se atenuem e até a hierarquia social seja quebrada, especialmente nos carnavais de rua. Quando, literal e simbolicamente, as máscaras caem, o que resta é amargar um período de quaresma um tanto decepcionante.
Mas por que, então, alguns poucos casais formados nessas circunstâncias perduram após a quarta-feira de cinzas? Pura sorte? Pode ser. Porém, o mais provável é que eles se componham de pessoas com um estilo diferente de iniciar contatos amorosos. Pessoas mais criteriosas, que procuram conhecer um pouco mais o outro antes de partir para o contato físico, que são mais atentas para captar no candidato a parceiro defeitos importantes e diferenças impeditivas para suas necessidades relacionais amorosas. Gente assim acaba demorando um pouco mais para se entregar. Numa competição, talvez perca na quantidade de parceiros, mas ganha na qualidade do vínculo, pois tende a ser mais racional e menos impulsiva - o que, é bom deixar claro, não impede ninguém de viver grandes e prazerosas paixões.
A própria história do carnaval pode ilustrar bem o que estamos falando aqui. Pense no triângulo amoroso formado por Arlequim, Pierrot e Colombina. Arlequim é o fanfarrão, bon-vivant, perseguidor da luxúria. Já Pierrot idealiza o amor puro, inocente, romântico. Colombina, por fim, quer os dois, representa o conflito gerado pela necessidade de escolher entre a paixão fortuita e o amor verdadeiro.
Portanto, meu caro folião, para encontrar paixão e amor no carnaval, além de boa dose de sorte, você precisa equilibrar bem esse triângulo que simbolicamente existe dentro de cada um de nós durante o ano todo. É importante sonhar com o amor, a exemplo de Pierrot, desde que o sonho não comprometa a capacidade crítica. E é válido brincar e se divertir, como Arlequim, desde que não se exagere na dose. Sua parte Colombina agradecerá se puder encontrar em uma só pessoa os dois lados: carnal e espiritual. Boa sorte!
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