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Desejo e carência provocam “ilusão de ótica” que confunde os amantes

Redação Publicado em 14/05/2013, às 11h16 - Atualizado em 10/05/2019, às 11h20

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Para ter sucesso no amor e evitar decepções, uma condição simples, mas nem sempre respeitada, é a de saber escolher com quem se relacionar. Vamos combinar que sentir tremores ou palpitações e corar à presença dele ou dela não podem ser os únicos critérios para se concluir que a tal pessoa é o tesouro da sua vida. Esses indícios são, digamos, uma “primeira instância” de avaliação. É necessária uma segunda, que inclui saber melhor quem é o outro, como é seu caráter, quais são suas intenções e sua capacidade de entrosamento.

Muita gente — e não apenas adolescentes —, no entanto, se deixa levar pelo “efeito aura”, a aplicação daquela impressão inicial a  todos os traços da pessoadesejada. Se ele é “fofo”, ou ela é “linda e gostosa”, e há uma forte atração, pronto!, é como se o resto só pudesse ser “tudo de bom”. A idealização fantasiosa, a serviço do desejo, se espraia por todo o objeto amado, antes mesmo da convivência que permitiria conhecê-lo. Assim, cega-se o olhar para detalhes que amanhã poderão ser decisivos no êxito ou no fracasso da relação.

A ilusão do “efeito aura” ocorre porque a mente humana tende a buscar coerência nos fatos da vida, em especial para atender aos desejos: se uma pessoa atrai sexualmente, ela deve ser superior. Mas e o canto da sereia?

O termo aura tem parentesco com auréola e diz respeito à ilusão de ótica que faz com que se veja um círculo luminoso quando olhamos para o Sol ou qualquer fonte de luz forte. Isso também ocorre quando nos sentimos atraídos por alguém: sofremos uma ilusão de ótica! Se quisermos exagerar: uma alucinação! Com sorte, o outro pode se revelar uma grata surpresa e confirmar a expectativa. Mas também ocorre de ir se mostrando muito diferente daquela impressão inicial, até finalmente se transformar num sapo. Aí é o caso de se “juntar o nome à pessoa” — ou a pessoa ao corpo — e cair fora.

Convém estar atento a esse fenômeno: não é porque alguém é rico que todas as suas qualidades são boas; um professor inteligente pode não ter escrúpulos; a espetacular loura não está livre de ser burra. Buscamos coerência, mas os seres são heterogêneos!

Os exemplos se multiplicam, revelando a necessidade ingênua daqueles que procuram um amor de se utilizar de simplificações e reduções nas análises a respeito de suas “presas”. Deixam-se influenciar pelo lugar onde elas moram, pelo nome de suas famílias, pelas pessoas com as quais já namoraram, ou até mesmo pelo fato de serem célebres. Ora,  nada disso garante queuma pessoa é bacana. Podem até ser indícios, mas são superficiais. O conhecimento verdadeiro exige tempo e paciência e pode decepcionar, claro. Uma pessoa é um ser complexo, com aspectos positivos e negativos, que só a experiência é capaz de explicitar.

Quanto mais há carência, mais o efeito aura atua, iludindo e provocando o entusiasmo precipitado. E a precipitação pode ser a mãe de todos os infortúnios. Muitas pessoas carregam o desejo de amar e acreditam que só lhes falta o personagem principal — o objeto de seu amor. Por isso, no extremo, acabam chamando “urubu de meu louro”. Há uma bonita música do compositor e cantor paraibano Zé Ramalho (63), Frevo Mulher, cuja letra traduz bem essa ânsia difusa: “É quando o tempo sacode a cabeleira, a trança toda vermelha, um olho cego vagueia procurando por um”.