Quem não se emociona com as aventuras e dramas das mocinhas Isabel (Camila Pitanga, 35) e Laura (Marjorie Estiano, 30) em Lado a Lado? Destaque no horário das 6 da Rede Globo, a trama provoca seus telespectadores com temas como a disseminação da cultura negra no Brasil, o fim do período da escravidão, o preconceito com relação à mulher e o caráter duvidoso de uma das mais maldosas vilãs da TV na atualidade, Constância, interpretada com maestria por Patrícia Pillar (49).
Os responsáveis por essa história que desperta paixão e ódio são João Ximenes Braga (42) e Claudia Lage, que escrevem sua primeira novela como autores principais sob a supervisão de Gilberto Braga (66). “Cometemos alguns erros de marinheiro de primeira viagem que só agora estamos conseguindo avaliar, mas no geral estou muito orgulhoso do resultado”, admite João.
“Eu olho todos os personagens e atores como filhos. Quando alguém destaca um ator sobre outro, eu viro Constância”, disse João Ximenes em entrevista exclusiva à CARAS Online, referindo-se à controversa vilã da novela.
Confira o bate-papo com o autor sobre as movimentações da reta final da trama e o desfecho de alguns personagens na história que, apesar de ser de época, recebe a influência da opinião de seus telespectadores nas redes sociais e nas ruas:
- Você está se surpreendendo com a repercussão positiva de Lado a Lado?
Surpreso não é a palavra. Mas estou feliz, claro.
- As participações que estão havendo na novela, como as de Juliana Knust (31) e Rogéria (69), já estavam previstas inicialmente no roteiro?
É comum em obra aberta que a trama vá se desmembrando e surja a necessidade de novos personagens.
- Em uma novela de época também é possível sentir o público e escrever de acordo com seu feedback?
Sim, é como uma novela contemporânea, a gente vai tateando, acompanha os números, as redes sociais, ouvindo o que as pessoas nos dizem. Conversa de salão de cabeleireiro é fundamental. Sempre que uma amiga vem me dizer ‘eu fui na manicure e estavam falando da novela’ eu presto muita atenção.
- Como está sentindo o retorno dos telespectadores com relação ao fato de estar contando a maneira como se disseminou a cultura negra no Brasil?
É muito gratificante quando nos dizem que nunca viram a cultura negra tão bem representada na TV, já nos disseram que é um marco histórico na teledramaturgia brasileira. O retorno que a gente vê disso através dos amigos, dos atores e das redes sociais é tocante. Agora, você acredita que é a primeira vez que um jornalista me pergunta isso? Estou pasmo como a imprensa tem ignorado esse aspecto da novela.
- Como você pensa as cenas que envolvem capoeira, muita ação e efeitos? É um trabalho em parceria com a direção?
A gente indica o que deve acontecer. Mas quem merece os aplausos pelas cenas de capoeira é Vinicius (Coimbra, diretor-geral) e sua turma.
- Qual é o seu contato com os atores? Você costuma visitar os bastidores das gravações?
Eu sigo a escola de Gilberto Braga: ator tem que falar com o diretor, não com o autor. Acho gravação a coisa mais chata do mundo: muita repetição, horas esperando. Só nos encontramos em situações sociais, um prazer raro enquanto a novela está no ar e todo mundo trabalhando feito louco.
- Por que Laura insiste em não reatar com Edgar, sendo que isso poderia facilitar sua carreira como professora?
A resposta está na sua pergunta. Laura não quer um homem que facilite sua carreira. Ela é feminista, conseguiu sair da gaiola de ouro em que foi criada e se tornar independente, com todas as dificuldades que uma mulher da época podia enfrentar. Edgar (Thiago Fragoso, 31) cometeu um erro ao propor que ela fosse trabalhar pra ele, querendo protegê-la do mundo. Laura quer ser respeitada por si mesma, não por ter um homem ao seu lado, como era a regra da época. Por outro lado, o calcanhar de Aquiles dela é ser ciumenta - coisa que ela mesma não reconhece ser - e nesta fase ela está achando que Edgar está envolvido com Heloísa (Anna Sophia Folch, 27). Mas é claro que o amor deles vai vencer isso. Logo o imbróglio dos pseudônimos vai se desfazer, Edgar vai admirá-la como jornalista, isso vai equilibrar o relacionamento e vão ficar juntos e felizes. Thiago e Marjorie são encantadores juntos e é ótimo que o público esteja torcendo por eles, mas estamos fazendo dramaturgia, em dramaturgia os personagens têm conflitos. Acho que se algum autor chegasse pro Thiago e pra Marjorie e dissesse ‘olha, vocês vão fazer um casal apaixonado que vai ficar a novela inteira dando beijo na boca e não vai ter conflito algum’, duvido que eles iam aceitar o convite.
- Como você descreveria o caráter de Constância?
O amor dela pelos filhos e pelo marido é sincero. O amor por Elias (Cauê Campos) idem, mas doentio: é, como diz Jurema (Zezeh Barbosa, 49), o carinho do senhor pelo escravo que serve bem. Umberto (Klebber Toledo, 26) é apenas um alimento para sua vaidade nos momentos de fraqueza. Apesar de sincera e emotiva, ela é dissociada da realidade, na sua ânsia de proteger sua posição social e a família, ela não enxerga o mal que deixa pra trás. Se você perguntar pra Constância quem é a vilã da novela, ela vai dizer que é Isabel. Na cabeça de Constância, ela é a mocinha injustiçada. Ainda bem que temos uma atriz fenomenal como a Patricia pra dar conta de uma vilã tão multifacetada.
- Como acha que se saiu como autor principal de uma novela pela primeira vez?
Não vou dizer que a novela tenha sido um mar de rosas. Cometemos alguns erros de marinheiro de primeira viagem que só agora estamos conseguindo avaliar, mas no geral estou muito orgulhoso do resultado. Conseguimos manter uma relação de harmonia o tempo todo com a direção e a produção, conseguimos recuperar a audiência e estamos emocionando muita gente.
Futuro dos personagens
- Isabel vai ter o prestígio da sociedade pelo seu trabalho como dançarina e empresária teatral?
Isso ela já conseguiu, a história dela segue em torno dos conflitos pessoais, com Elias, Constância e Zé (Lázaro Ramos, 34).
- Constância, Berenice (Sheron Menezzes, 29), Catarina (Alessandra Negrini, 42) e Caniço (Marcello Melo Jr., 25) vão ser castigados?
Nem sob tortura vou revelar os desfechos deles.
- A verdade sobre o filho de Sandra (Priscila Sol, 32) será revelada?
Ela já contou a Teodoro (Daniel Dalcin, 27) sobre o homem com quem perdeu a virgindade. Um homem casado que a enganou dizendo que a mulher estava no leito de morte. Esse homem, evidentemente é o pai do Angelo, mas ele não vai aparecer. A história de "quem é o pai?" é a de Frederico (Tuca Andrada, 48), Mario (Paulo Betti, 60) e Luciano (André Arteche, 28). A história de Sandra é diferente, é o conflito familiar, não é uma história de mistério. O pai biológico já ficou pra trás.
- Albertinho (Rafael Cardoso, 27) vai abrir mão da paternidade de Elias e concedê-la a Zé Maria?
Não.
- Zé Maria vai se encontrar em alguma atividade?
Já se encontrou. A experiência dele trabalhando com a administração de estoque na Marinha o levou a pôr as finanças do jornal de Guerra (Emílio de Mello, 47) em ordem, e isso vai abrir outras portas pra ele.