Relações amorosas podem curar possíveis dificuldades emocionais
por <b>Solange Rosset</b>* Publicado em 14/11/2009, às 15h31
Problemas que trazemos da família de origem, da relação com nossos pais ou mesmo da relação entre nossos pais interferem nos nossos relacionamentos - em maior ou menor grau. E estar numa relação a dois é justamente uma das formas de perceber melhor essas questões emocionais, assim como de trabalhá-las em nosso íntimo.
O apaixonamento pode ser curativo. Pessoas que têm dificuldades para se entregar, que estão sempre no controle, que não acreditam em mudanças por causa de um encontro amoroso não sabem o que estão deixando de usufruir em termos de aprendizado e de crescimento. Ousar mergulhar na emoção e na energia do outro pode trazer melhoras para a qualidade de vida, acrescentando leveza ao cotidiano e também a possibilidade de descobrir capacidades para os relacionamentos em geral. Por outro lado, aqueles que se apaixonam rotineiramente têm a chance de refletir sobre o que estão compulsivamente buscando no outro. Olhando os padrões de repetição poderão desenvolver autocontrole sobre suas carências e procurar relações mais maduras.
Na convivência de um casal aparece o melhor e o pior de cada um. É a relação de maior intimidade que pode haver. Permite que um desenvolva habilidade para enxergar os pontos fracos do outro e aprenda as maneiras de atingi-lo. É como ter sempre uma carta na manga. Os dois ficam vulneráveis. Razão pela qual, paradoxalmente, a relação amorosa acaba se tornando ambiente propício para o desenvolvimento de sentimentos e características humanas positivas: paciência, perdão, compaixão, respeito. Aprender a enxergar e qualificar o que o outro tem de bom é um exercício de humildade e gratidão.
Se alguém quer realmente aprender e mudar deve prestar atenção no que seu parceiro lhe diz, pois é quem melhor vê suas dificuldades. Pessoas com maior discernimento enxergam o melhor e o pior de seu par e sabem lhe mostrar isso, delicadamente. Já aquelas com muitas dificuldades emocionais só vão perceber o pior do outro e terão maneiras inadequadas, agressivas ou desagradáveis de mostrar.
Num casal que está junto para crescer, um pode usar o que o outro aponta como um roteiro para sua aprendizagem, refletindo sobre seu comportamento e suas reações. Ao mesmo tempo, exercitar-se para trazer à tona o melhor do outro é um movimento útil para aumentar o envolvimento do casal, trazendo à vida harmonia e bem-estar.
Alguns autores usam a expressão "casal como terapeuta do indivíduo", significando que a vida a dois pode realmente ajudar as pessoas a superarem suas dificuldades afetivas e relacionais. É comum que um tenha o que falta ao outro, o que ele precisa aprender. Então, em lugar de criticar o que o parceiro apresenta de diferente, vale a pena observar o que ele pode ensinar com o seu jeito de ser. Muitas vezes, a pessoa carrega sequelas das dores das relações que teve, e, ao iniciar uma nova, fica muito focada em sentir os mínimos sinais que possam desencadear os mesmos sofrimentos. Este comportamento pode impedir que novos afetos se estabeleçam. Se os parceiros puderem falar das antigas dores, ao contrário, conseguirão sair dos préconceitos relacionais e um ajudará a curar os medos do outro, abrindo a possibilidade de que descubram formas mais íntimas e muito mais felizes de se relacionar.