Beth Goulart encarna Clarice Lispector nos palcos; em entrevista à CARAS Brasil, a atriz fala sobre o espetáculo e relação com a maturidade
Com anos de sua vida dedicada à arte, Beth Goulart (64) celebra 50 anos de carreira. Uma data tão especial como essa não poderia passar desapercebida. Por isso, a atriz retorna aos palcos nesta sexta-feira, 14, no espetáculo Simplesmente eu, Clarice Lispector.
Mas não é só na carreira que Beth Goulart está celebrando. No começo do ano, ela completou 64 anos e menciona lidar muito bem com a maturidade e a passagem do tempo. Entrevista à CARAS Brasil, a atriz fala sobre o espetáculo e abraça nova fase: "Maturidade como atriz e mulher".
Beth Goulart, ao longo desses anos dedicados à arte, avalia que cada trabalho é aprimorador e importante em sua careira, onde acumula uma bagagem de aprendizados. No ambito pessoal, ela celebra a vida e faz um balanço.
"A maturidade nos dá essa vantagem, todos os trabalhos são acumulados em sabedoria, e cada novo trabalho serve de trampolim para um próximo", declara Beth Goulart. Abaixo, confira conversa completa com a atriz.
Beth, este retorno aos palcos celebra os seus 50 anos de carreira, como você descreveria esse período da sua carreira?
Diria que é minha maturidade como atriz e mulher. O tempo nos aprimora, nos dá uma percepção mais aguçada da vida, sem tanta ansiedade, sem tantas expectativas, acreditando no fluxo dos acontecimentos e na bagagem que adquirimos ao longo da vida. Somos uma somatória de vivencias e experiencias que nos faz (sermos) mais autênticos, mais simples, mais perto de nossa essência. Acredito que isso é o melhor de tudo, sermos quem somos, sem precisar da aprovação de ninguém, a não ser a nossa própria. Aprendemos a viver o aqui e o agora com mais intensidade, sabendo que o único tempo verdadeiro é esse que estamos vivendo. O tempo é uma abstração, uma ideia, que só existe quando damos um limite para ele, sem essa referencia, de inicio e de fim, o tempo seria a eternidade. Mas enquanto estamos vivendo essa vida, estamos nessa medida de tempo que nos compete viver e é no agora que fazemos nossas escolhas e que podemos agir, e nos melhorar sempre.
Este ano a senhora completou 64 anos, como tem lidado com o avanço do tempo e com a maturidade?
Não tenho medo da passagem do tempo e acredito que ele vem para nos melhorar em todos os sentidos. Perdemos coisas, mas ganhamos muitas outras que nos aprimoram. Temos que aprender a envelhecer bem, com saúde, com sonhos, com alegrias e entusiasmo. A vida é uma oportunidade maravilhosa de crescimento, de doação, de troca e isso só acaba quando termina. A outra alternativa é a partida e também não tenho medo desse momento, quando chegar minha hora, saberei aceitar e agradecer por tudo o que vivi.
Qual a importância de retratar Clarice Lispector nos palcos?
Clarice Lispector foi considerada pelo New York Times uma das dez escritoras mais importantes do mundo, e está sendo descoberta por muitos artistas e personalidades, muito além de nossas fronteiras. O mundo está descobrindo Clarice Lispector e ela está tão perto de nós, sua literatura fala de nosso cotidiano.
Como avalia este projeto em sua carreira?
Sou apaixonada por Clarice desde minha adolescência e sigo toda a minha vida admirada por sua escrita mágica e misteriosa, por todos os seus livros. O livro de suas entrevistas, por exemplo, no período em que foi jornalista, é incrível, é maravilhoso ler suas impressões sobre personalidades tão significativas da cultura do nosso país. Ela é única e muito especial. Fazer esse projeto é uma afirmação da minha própria criatividade, e da minha identificação com ela. Clarice me impulsionou a ser a autora que existia dentro de mim, olhar com mais atenção minhas ideias e assumir a dramaturgia com suas palavras foi um grande desafio. Clarice acreditou em meu voo, na minha liberdade de ser e criar, através desse meu olhar pude falar de uma Clarice que existe dentro de mim e que também me representa como mulher – como criadora, como cidadã, como ser humano. Esse projeto é um divisor de águas em minha carreira.
E como é este retorno com a peça?
Especial para mim, depois de 10 anos sem fazer o espetáculo, por vários motivos: a perda de meu pai, a perda de minha mãe e a pandemia. Então, é muito significativo este retorno, quando comemoro 50 anos de profissão. É uma nova geração que vai conhecer o espetáculo, o que me dá muita alegria e expectativa, porque é uma nova percepção do espetáculo. O teatro é uma arte viva, que se transforma a cada apresentação.
E quais os projetos na carreira para este ano?
Além de "Simplesmente eu, Clarice Lispector” no Rio de Janeiro e viajando pelo Brasil, tem o livro de minha autoria “O que transforma a gente”, que vai virar uma palestra. Então, vou me dedicar a isso também e ainda tem o lançamento do filme “O Advogado de Deus”, de Wagner de Assis, e outros projetos que ainda é cedo para revelar… vem coisas boas por ai.
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