Prestes a fazer 60 anos, ela diz que o tempo só lhe deu bons presentes
O Brasil já foi às lágrimas, gargalhou, sofreu, dividiu alegrias e tristezas com Lilia Cabral (59) em cena ao longo de seus 39 anos de carreira. Mas longe da labuta, esta paulistana, que adotou o Rio como seu, revelou-se uma mulher do povo, de hábitos simples, apaixonada pela filha, Giulia (20), e pelo marido, o economista Iwan Figueiredo (67). E que, atrás das câmeras, também possui a sua lista de ídolos, como a atriz americana Meryl Streep (67). “Quem não é fã dela?”, questiona. Na Ilha de CARAS, a estrela da novela A Força do Querer divaga sobre sua trajetória de forma alegre e constata que os grandes momentos de sua vida, como a maternidade e as protagonistas que interpretou na TV, chegaram já na maturidade. “Não podemos colocar aquele ponto final na última linha do caderno. Isso em relação à família, sua afetividade, tudo. O importante é estar tranquila. Mas isso falo agora. Porque quando era jovem...”, gargalha.
– Este ano completa 60. Como lida com a passagem do tempo?
–Me ajudou bastante. Sempre falo que até os 70 anos vou bem. Quero trabalhar muito porque gosto. Lógico que preciso, mas tenho prazer em atuar. Me vejo velha produzindo.
– Ter uma jovem em casa ajuda a manter este gás?
– Bastante. Nem penso na minha idade. Falamos de igual para igual. Isso me rejuvenesce. Minha mãe me teve velha. Mas o comportamento de antigamente não é o de agora. Porém, sei que sou mais severa do que as mães mais novas. Tem hora para tudo, tem limite e disciplina. E espero também que, quando a Giulia tiver seus filhos, seja assim.
– Por que só uma filha?
– Sou apaixonada pela maternidade, mas sempre soube que iria ter uma só. Porque quando engravidei, tinha 38 anos. E o Iwan já tinha filhas. Giulia não é única porque tem as irmãs. Depois chegaram os sobrinhos. É o meu, os teus, os nossos.
– Como duas pessoas com trabalhos tão diferentes se afinam em um casamento de 23 anos?
– Nossa união é de amor, respeito e confiança. Eu acho que isso independe das profissões e, sim, dos sentimentos.
– Tem fama de workaholic. Alguma relação com a infância?
– Tem e não tem. Há tanta gente que é tão severa com os filhos e eles não estão nem aí. Acho que vai do temperamento. Meus pais, Gino e Almedina, exigiam de mim. Se tirasse 9,5 na prova, ouvia: “Porque não tirou 10?”. Era outra época. Com minha filha, entro no quarto e falo: “para de estudar”. (risos) Ela me vê me dedicando, assim como via minha mãe. Isso é uma coisa que acaba ficando na memória.
– Onde é mais exigente?
– Em cena, me cobro bastante. Não tem coisa mais gratificante do que acabar um dia de trabalho e ter 70% feito. Em casa, já fui mais exigente. Não sei se é porque minha filha cresceu. Agora cada um tem que se virar.
– Foi a vida que te ensinou, a ser tão pé no chão assim?
– Nunca tive medo de fazer as coisas. O holofote não está sempre na nossa cabeça. É preciso perceber isso. E quando virar para o lado, vou ficar desesperada? A chance é para todos.
– Tem uma vida simples...
– Gosto de andar na rua. Vou ao supermercado, ao banco. E, quando entro nos lugares, não me dou conta que as pessoas me olham. Certa vez estava em Nova York e dei de cara com Diane Keaton na Bloomingdale’s, subindo a escada rolante. Eu estava descendo e não tive dúvida em subir também. Fiquei olhando ela de longe, escolhendo as coisas, colocando na cestinha. Depois fui almoçar e vi Sidney Poitier tomando um vinho. É a vida. A última vez que estive lá fiquei em um hotel a três quadras do apartamento da Meryl Streep. Passava todo dia em frente. É um prédio normal. É nisso que acredito.
– Por isso, aos 39 anos de carreira pediu para atuar em uma novela da Gloria Perez?
– Sempre tive vontade de trabalhar com ela. Escreve sem pudor e tem uma escola que gosto de assistir. Lógico que tem novelas que a gente prefere mais, outras menos, mas isso independe do talento de um autor ou de uma autora. Então, quando acabei Império, encontrei com Gloria e falei que gostaria de fazer sua novela. Espontaneamente, humildemente. Passados dois meses, ela me mandou um e-mail e disse que já tinha meu papel. Foi um grande acontecimento em minha vida. Me senti respeitada e valorizada.
– Hoje, os capítulos da sua história seriam escritos da mesma forma que viveu?
– Acho que faria igualzinho. Estou aqui desse jeito. Tenho tantas alegrias... E tristezas, claro que tive e tenho também. Defino minha trajetória de vida como honesta. Nunca pensei no tempo, só em ser determinada. Mas minha realização só pode existir se tiver cumplicidade com o público e com a profissão que escolhi.