Atriz e campeã do UFC revela desejos e a força de sua alma feminina
Dona de um dos cinturões mais cobiçados do mundo, o de campeã do UFC, Ronda Rousey (27) não escondeu a alegria quando soube que no Brasil já conquistou um outro título também muito desejado, o de musa. “Oh, meu Deus! Amo o Brasil. Nunca tinha sido chamada de musa antes”, surpreendeu-se, modestamente, na Ilha de CARAS. Linda, delicada, simpática e feminina, ela põe a nocaute vários clichês e preconceitos atribuídos às lutadoras. E faz isso sem abrir a guarda.
Invicta no octógono, a temida arena onde os combates são realizados, a campeã dos pesos-galos não esconde buscar objetivos bem mais ambiciosos. Primeira americana a ganhar uma medalha olímpica no judô, bronze em Pequim, em 2008, Ronda também foi a primeira mulher a assinar contrato com o UFC. Mas suas proezas vão além. Estrela de Mercenários 3, ela ganhou o elogio de outros astros do filme, como Sylvester Stallone (68). A atriz, que atuou também em Velozes e Furiosos 7, já mostra toda sua determinação em conquistar outro território: Hollywood. “Preciso de novos desafios. Não faço nada para ser medíocre. Se estou em algo, quero ser a melhor. Trabalho duro, estudo, levo a sério, ser uma grande atriz virou meta”, avisa, segura de si.
Como consegue ser tão feminina sendo lutadora de MMA?
Bem, não foi sempre assim. Comecei no judô aos 11 anos por influência da minha mãe, Ann Maria DeMars, a primeira americana a vencer um mundial do esporte. E meu pai sempre quis que eu fosse menino, o Junior... O nome dele é Ron e por isso sou Ronda. Eles cortavam meu cabelo bem curtinho e as pessoas sempre achavam que eu era um garoto! Minha mãe não era do tipo que se importava com maquiagem ou arrumar o cabelo. Ela também era uma atleta. Só passei a me maquiar com 20 anos, porque comecei a trabalhar como bar tender e precisava ganhar gorjetas. Levei um tempo para me acostumar. Eu era uma lutadora antes de ser feminina. Então, agora que frequento eventos com red carpet, preciso muito da ajuda de profissionais, pois não sei me virar.
Mas é vaidosa com o corpo?
Não, cada músculo que tenho é com um propósito. Tenho uma estrutura bem balanceada, brinco que meu corpo é de sul-americana com a cor de norte-americana. (risos) Mas sempre treinei para usá-lo, não para mostrá-lo.
Você foi a primeira mulher no UFC. Sofreu preconceito?
Eles nunca me trataram com desrespeito, como se não merecesse estar lá. Pelo menos não na minha cara. (risos) Sempre quis ter o respeito de quem eu respeitava e consegui isso.
O que quer mais no UFC?
Me aposentar invicta. Nenhum campeão, homem ou mulher, conseguiu isso. Quero fazer o suficiente para ser conhecida como uma das maiores de todos os tempos, não como mulher, mas sim entre todos os lutadores. Não sei quando vou parar.
Qual é a melhor parte de ser uma lutadora?
Não tem nada que aconteça em uma luta que você não possa entender. Algumas são inesperadas, mas nunca impossíveis de compreender. Várias coisas na minha vida não são tão certas, mas a luta é o lugar onde tudo faz sentido. Você tem de focar no momento presente. Não existe 5 minutos atrás nem 5 minutos adiante, é o agora. Tudo isso me apaixona. Eu amo o que faço. Luta é uma conversa entre duas personalidades. E eu sou muito boa em ter uma conversa! (risos)
Há algo de que não goste? De se machucar, por exemplo?
Na verdade, sou grata por cada lesão. Quando machuquei meus joelhos pela primeira vez, comecei a focar nos braços e melhorei muito. Tenho problema crônico nos olhos, fiz quatro cirurgias, e já perdi a conta das outras contusões. Mas tudo que aconteceu de pior foi para o meu melhor. Quando uma coisa não está tão boa, vou lá e melhoro outra e aí vai ficando tudo bom. Então, não posso dizer que as lesões são a pior parte, e sim que são uma parte necessária. Talvez ter de ‘fazer’ peso é a parte menos legal, mas não tem nada que eu odeie. Amo lutar e faria pelo resto da minha vida. Mas sei que não dá. Por isso, comecei a atuar.
E o desejo de morar no Rio?
Vim pela primeira vez em 2007 para competir no judô e foi muito embaraçoso, porque caí no aeroporto e me machuquei. Não pude competir. Me senti mal. Então, jurei que na próxima vez que viesse ao Brasil daria a performance da minha vida. No mesmo ano, no Pan-Americano do Rio, ganhei o ouro e me apaixonei pela cidade. Como já havia competido, pude aproveitar. Passei o tempo bebendo guaraná e cachaça. E eu só dizia: ‘Amo isso! Não volto para casa de jeito nenhum!’ A Califórnia, onde nasci, é o meu lugar preferido no mundo. Depois, certamente, vem o Rio. Há algo aqui que extrai o melhor de mim. Talvez seja o clima, mas provavelmente são as pessoas. Por isso, penso, sim, em comprar uma casa na cidade.
*Beleza: Ariana Costa; Produção Chris Boller; Agradecimentos: Fleche D’or e Moikana; Jerome Favre/Getty Images