Após 11 anos em Milão, onde trabalhou para a grife Dolce &Gabbana, o arquiteto Fabio Matiolli volta a São Paulo. A seguir, ele ensina a decorar com personalidade e critica a parceria moda-decoração. Confira!
Depois de trabalhar 11 anos em Milão, o arquiteto Fabio Matiolli está de volta a São Paulo para se dedicar a novas empreitadas, como a fundação de seu próprio studio de design. Especialista na criação de conceitos para marcas de moda e gastronomia, durante sua temporada italiana ele desenhou e desenvolveu espaços comerciais, ‘shop in shop stores’ e ‘corners’ para a dupla Domenico Dolce e Stefano Gabbana. Matiolli também é responsável pela loja da badalada designer brasileira Paula Cademartori em Milão, que é sucesso na Europa com suas bolsas. Além disso, em 2010, assessorou Matteo De Ponti e Laura Macagno no projeto da Colé Itália, acompanhando e dirigindo o lançamento da nova marca no Salone Internazionale del Mobile de 2011. Foi munido dessa valiosa bagagem que o arquiteto conversou com Caras Decoração a respeito da parceria entre moda e decoração. Abaixo, ele ainda dá dicas para decorar com elegância, e fala de suas apostas para 2014.
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Como vê a interação entre moda e decoração, com as grifes de luxo produzindo móveis e peças de homewear?
Não sou muito fã dessa tendência. Inclusive tenho uma certa dificuldade em entender o porquê desse casamento forçado. Acho que poucas marcas de moda são capazes de reproduzir no mercado de design uma imagem coerente com a imagem da “casa madre” que é especializada em confecção e acessórios. As demais acabam virando operações de co-branding com um desequilíbrio nítido. Isso acontece porque as casas de moda, que não possuem uma indústria capacitada para produzir os próprios móveis, acabam concedendo a utilização da marca a um produtor de mobiliário que, por sua vez, não entende nada de moda. O design das peças muitas vezes é feito por uma equipe que não é capaz de traduzir em produtos de decoração o mesmo conceito e “glamour” do mundo fashion.
Então por que as pessoas mostram cada vez mais interesse por essa parceria?
A moda é um mercado velocíssimo onde as tendências refletem imediatamente o momento em que vivemos e, com a mesma rapidez, mudam de direção na próxima estação. Acho isso fantástico e é o motivo pelo qual as pessoas se interessam tanto pelo assunto. A moda é capaz de mudar completamente de estilo a cada seis meses. Em contrapartida, a indústria moveleira e do design não consegue respeitar os tempos da moda e também não é suscetível a essas mudanças bruscas de tendências. Para se lançar um produto ou uma linha de móveis são necessários investimentos mais altos, tempo de desenvolvimento maior e, muitas vezes, a espera pela evolução de novas tecnologias, o que não permite que o setor mude de direção de um momento para o outro. Claro que existem casos de sucesso, como a parceria equilibrada que a Diesel fez com três produtoras líderes em seus respectivos setores no mercado Italiano e mundial: a Moroso para sofás e móveis de design, a Foscarini com as peças de iluminação e a
Scavolini para as cozinhas. Essa, sim, me parece ser uma operação inteligente e equilibrada onde a marca “fashion” e os seus fornecedores saem ganhando.
Como você define uma decoração elegante?
A verdadeira elegância está em deixar que a sua casa reflita quem é você e qual é a sua vida. Arrumar a própria casa, antes de mais nada, deve ser algo prazeroso. Às vezes pode-se levar anos para se achar aquela peça que vai dar um toque especial no seu espaço e que seja do seu gosto. Decorar uma casa é um processo contínuo, acho que não termina nunca. À medida que o tempo vai passando, a casa tende a mudar junto com o seu proprietário; as coisas que eram importantes em algum momento deixam de ser e novas necessidades e até mesmo “estilos” surgem com a maturidade ou com a chegada dos filhos. Uma pessoa elegante deve seguir seus instintos e não ter pressa.
Qual é o segredo de decorar com personalidade?
As pessoas podem fazer isso de duas formas: primeiro contratando um arquiteto/decorador competente para auxiliá-las nesse processo, caso não se sintam seguras para fazê-lo sozinhas. A outra forma é se aventurar individualmente e, se esse for o caso, sugiro que comecem com uma pesquisa do que existe no mercado e um exercício de auto-observação para tentar identificar o que realmente gostam. Hoje em dia o mercado oferece
possibilidades infinitas de produtos e acabamentos. Vejo que normalmente as pessoas têm dificuldade em fazer uma seleção coerente dentro dessa gama de possibilidades que podem refletir o gosto de cada um. Sou da opinião que uma residência deve espelhar a personalidade de quem mora nela; para mim essas são as casas mais bonitas e ao mesmo tempo as mais interessantes.
Qual é o erro mais comum em decorações residenciais?
É comprar um pacote pronto que foi feito e pensado para uma outra pessoa e implementá-lo no seu próprio espaço. Fica superartificial e qualquer um vai perceber que a sua casa não reflete quem você é.
Do seu ponto de vista, qual foi a maior inovação ocorrida no setor da decoração nos últimos anos?
Sem dúvida foi a evolução dos programas para computador utilizados na fase de projeto, o
desenvolvimento das tecnologias de automação e a difusão da iluminação por meio do LED, que mudou completamente o desenho das luminárias, peças fundamentais em um projeto de sucesso. A impressão 3D é outra tecnologia que promete revolucionar tudo novamente.
Tem um designer preferido, algum ‘mestre’ que o inspire?
Não posso deixar de citar o Ferruccio Laviani, com quem colaborei por nove dos 11 anos que passei em Milão. É um profissional que estimo e admiro e que para mim representa a figura do “Maestro” no modelo da cultura italiana. Com ele aprendi muita coisa e tive a oportunidade de participar de projetos magníficos ao redor do mundo. Também admiro o Achille Castiglioni, seus projetos são até hoje supercontemporâneos e ele criou alguns dos ícones mais importantes do design do século passado. E visto que o Laviani colaborou com o Castiglioni por vários anos, gosto de pensar que de uma certa forma bebi da mesma fonte e faço parte de uma árvore genealógica do design italiano. No Brasil, acompanho o trabalho do Isay Weinfeld e do Marcio Kogan. Gosto do modo como eles usam os materiais e como têm uma preocupação pela resolução de detalhes importantes dentro de um projeto.
Quais são suas apostas para 2014?
Cada vez mais as pessoas se interessam por móveis e peças de design assinados e aos poucos vão deixando as “cópias” de lado. Isso é muito bacana, porque gera um ciclo de trabalho sustentável para muito mais pessoas do que o ciclo da cópia. Acho que essa é a grande tendência para os próximos anos, e não só para 2014.