Vacina contra o tétano deve ser repetida sempre a cada 10 anos
Ricardo Tapajos Publicado em 15/03/2006, às 18h08
Embora possa ser evitado com vacina, o tétano continua endêmico no país, isto é, todos os anos ocorrem casos. Os últimos números disponíveis no Anuário Estatístico de Saúde do Brasil, do Ministério da Saúde, são de 2001. Nesse ano, houve 513 casos de tétano acidental no país- excluída a incidência em recém-nascidos -, sendo 70 na Região Norte; 216 no Nordeste; 99 no Sudeste; 89 no Sul; e 39 no Centro-Oeste.
Já o site do Centro de Vigilância Epidemiológica, da Secretaria da Saúde de São Paulo, tem números desde 1979. Nesse ano, por exemplo, houve no Estado 188 casos de tétano acidental, com 39,4% de mortes. Quando o Ministério da Saúde começou a vacinar idosos contra a gripe e passou a oferecer, junto, a vacina antitetânica, a incidência caiu bastante no Estado. No ano passado, houve 30 casos, com 40% de letalidade. O tétano, como se vê, é grave. Todo caso precisa ser informado às entidades de saúde. Mas é óbvio que, pelas dificuldades inerentes a um país continental, isso nem sempre ocorre. A incidência, pois, deve ser maior em especial nas regiões mais carentes, como Norte, Nordeste e Centro-Oeste.
O tétano é causado pela bactéria Clostridium tetani. Ela é muito sensível às condições climáticas - como frio e calor -, por isso seca e fica na natureza numa "forma de resistência" chamada esporo. Então se torna extremamente resistente; não é fácil neutralizá-la. Os esporos estão por toda parte: nos tapetes, nos vasos de plantas, no adubo orgânico que se usa no jardim, nas fezes de grandes animais, na madeira, nas pastagens.
O clostrídio entra em humanos por ferimentos. Desenvolve-se melhor nos pouco oxigenados - o gás é tóxico para ele - como os que têm necrose, restos de terra e madeira, infecção e pus. Os ferimentos mais temidos pelos médicos são, entre outros, os causados por rojões, as queimaduras, as fraturas expostas, as mordeduras de animais e os abortos feitos com objetos não esterilizados.
O problema não é a bactéria e sim a toxina que produz: a tetanospasmina. O "veneno" circula de duas formas no organismo: pela corrente sanguínea ou sugado pelos nervos. Ao atingir o sistema nervoso central (inclui a medula espinhal), interfere na ação de parte dos neurônios (um tipo de célula). O sistema nervoso se torna difícil de ser modulado, o que leva à rigidez de toda a musculatura do doente. Isso ocorre sete a 10 dias após a bactéria penetrar no organismo. A rigidez em geral começa nos músculos das faces que controlam a abertura e o fechamento da boca. A pessoa não consegue abri-la. Em seguida todo o rosto fica rígido, depois a nuca, a coluna, os braços e as pernas. Se não for combatida, a doença evolui para espasmos, com três conseqüências graves: a pessoa não consegue respirar; as contrações da musculatura podem até quebrar ossos e romper tendões e outros ligamentos; e, finalmente, tem cãibras com dores terríveis. Se o portador não é socorrido, às vezes morre.
Prevenção, claro, é a melhor alternativa. Evita-se o tétano com vacina. Pode ser tomada de graça nas unidades básicas de saúde e até nas clínicas particulares de imunização (só cobram a aplicação). Bebês devem tomá-la no segundo, quarto e sexto mês de vida, além de um reforço - aliás, faz parte da vacina tríplice bacteriana, que inclui a de coqueluche e a de difteria. Mas protege só por 10 anos; assim, todos precisam repetir a dose, junto com a de difteria (vacina dupla do adulto), a cada década. Quem não sabe se se vacinou nos últimos 10 anos pode fazê-lo que não há problema em repetir a vacina.
Quem se feriu ou foi mordido por animal deve lavar o local só com água e sabão. Não com água oxigenada, pois piora o ferimento. Se não tomou ou não sabe se tomou a vacina, deve ir logo ao médico. Receberá vacina e soro ou imunoglobulina antitetânica - a vacina faz o organismo produzir anticorpos, o que demora um pouco; já o soro, que só pode ser indicado por médico, é constituído dos próprios anticorpos e protege imediatamente do tétano. Quem tem o sintoma inicial da doença - rigidez no músculo da boca - deve ser internado. Só no hospital é possível contornar os problemas e livrá-lo do óbito.
Este site utiliza cookies e outras tecnologias para melhorar sua experiência. Ao continuar navegando, você aceita as condições de nossa Política de Privacidade