A cavidade uterina de todas as mulheres que estão em idade fértil deve ser revestida de células endometriais. Sob a ação dos hormônios femininos, como a progesterona e o estrógeno, mensalmente elas produzem o tecido endometrial, nos quais, em caso de gravidez, o embrião se implantará. Quando isso não ocorre, o endométrio é renovado pelo processo de descamação, exteriorizando-se sob a forma de menstruação.
Caracteriza-se a endometriose quando se forma um tecido semelhante ao do endométrio fora do útero. Essa doença pode ocorrer em todos os órgãos femininos, como no nariz, na cavidade abdominal, nos pulmões e até mesmo no cérebro, porém cerca de 94% dos casos se manifestam na área da pelve (mais conhecida popularmente como bacia), onde se encontram as trompas, os ovários, os intestinos, o ureter, a bexiga e a vagina.
A presença do tecido endometrial fora da cavidade uterina provoca uma reação inflamatória intensa, causando aderências de tecidos, distorções na anatomia e tecidos cicatriciais (fibroses). A doença pode manifestar-se de diversas formas, desde a mais leve ou superficial, até a mais grave e profunda, ou infiltrativa.
O tratamento inadequado da endometriose pode levar à esterilidade e prejudicar enormemente a qualidade de vida das mulheres na melhor fase de sua existência. O tratamento mais indicado para as endometrioses profundas é o cirúrgico. Consiste na retirada de todo o tecido que esteja comprometido pela endometriose, preservando os órgãos da reprodução. O principal problema deste tratamento, hoje, são as recorrências da doença, que estão em torno de 10% ao ano, ou 50% em cinco anos. Isso se deve a fatores pré-operatórios, como a demora no diagnóstico, pela não valorização dos sinais e sintomas clínicos da doença, como dor para menstruar (dismenorreia), dor na atividade sexual (dispaurenia), alteração dos hábitos intestinais (disquesia) e dificuldade para engravidar; pelo mapeamento inadequado da doença; pela não realização de todos os exames de imagem específicos; por fatores operatórios, como as limitações técnicas induzidas pela deficiência em equipamentos cirúrgicos de imagem; e pelo risco de se provocar sequelas quando a endometriose se forma em órgãos nobres ou nos nervos pélvicos, que não podem ser ressecados.
Felizmente, hoje contamos com mais um aliado importante no tratamento da endometriose profunda. Trata-se da cirurgia auxiliada por robô e com visão em 3D, que deixa o cirurgião muito mais seguro na identificação dos planos de dissecção e com pinças que imitam as mãos humanas, possibilitando movimentos e procedimentos antes impossíveis. Além disso, o cirurgião trabalha sentado, em posição ergonômica, fica muito menos cansado e o tremor fino de suas mãos é anulado pelo robô. Consequentemente, os resultados tendem a ser melhores e menos agressivos, possibilitando ressecções que antes seriam impossíveis e com uma preservação bem maior dos órgãos reprodutores, abrindo uma esperança para o tratamento definitivo desta doença que incomoda muitas mulheres.