Solidéu, do latim Soli Deo, só a Deus, é a peça côncava, de tecido,...
...que os clérigos usam na cabeça. Sob ele, no passado, sempre havia uma pequena alopecia, do grego alopekía, falta de cabelos. É que a Igreja determinava o corte dos fios em área circular no alto do crânio.
Deonísio da Silva Publicado em 06/07/2006, às 12h40
Alopecia: do grego alopekía, alopecia, designa a queda ou a falta de cabelos, sobrancelhas, barbas ou qualquer outro pêlo do corpo. Para os gregos, quem perdesse pêlos ou cabelos ficaria parecido com a alópex, raposa, animal astuto, mas sujeito à perda dos pêlos. Uma pequena alopecia foi durante muito tempo imposta pela Igreja aos clérigos, que precisavam cortar rente parte do cabelo no alto da cabeça, formando a coroa ou tonsura. A palavra veio da agropecuária, pois no latim tonsura designava o ato de tosquiar as ovelhas e de ceifar o trigo, deixando pelados os animais e a roça. Veio de tonsus, particípio de tondere, cortar, ceifar, tosquiar. A tonsura é imposta pelo bispo ao seminarista quando este dá o primeiro passo para tornar-se clérigo. Indica submissão, prestação de serviços à comunidade, numa comparação com os frutos da terra ou a lã das ovelhas, só que no plano espiritual. Os alopécicos, vulgarmente chamados carecas, obviamente eram dispensados da tonsura. Estes, quando a condição não tem razões religiosas, usam boinas ou bonés para atenuar os rigores do frio. O que teria originado a crendice popular de que os carecas são mais inteligentes teria sido a alopecia da raposa e foi celebrada na marchinha Nós, os Carecas, de Arlindo Marques Júnior (1913-1968) e Roberto Roberti (91), gravada pelos Anjos do Inferno em 1942: "Nós, os carecas/ com as mulheres,/ Somos maiorais/ Pois na hora do aperto/ É dos carecas/ Que elas gostam mais/ Não precisa ter vergonha/ Pode tirar o seu chapéu/ Pra que cabelo?/ Pra que, seu Queirós?/ Se agora a coisa está pra nós."Mitra: do grego mitra, pelo latim mitra, turbante, diadema, faixa para a cabeça, depois transformado em chapéu indicativo de poder ou distinção social, utilizado por antigos persas, assírios e egípcios. A Igreja aproveitou o símbolo, constituindo-o em paramento eclesiástico de uso restrito na hierarquia católica: apenas o papa, os cardeais, os arcebispos e os bispos adotam a mitra, que evoluiu na forma e hoje se parece mais com um chapéu de cozinheiro, pois é alto e largo e se afina na ponta. A Inquisição, tendo condenado à fogueira muitos clérigos, transformou o símbolo de dignidade em deboche, pondo mitras nos condenados. Na origem do nome pode ter havido influência do grego Mithras, o deus Sol dos persas, que conservou a mesma denominação em latim.
Solidéu: da expressão latina Soli Deo, somente a Deus, designando peça do paramento eclesiástico, menor do que uma boina, utilizada pelo papa, por cardeais, bispos e padres para cobrir o cocuruto dacabeça, inspirado no quipá dos judeus, do hebraico kipá. Recebeu tal denominação porque, embora o bispo o mantenha sempre, os padres podem retirá-lo quando, em missa solene, o Evangelho é cantado. Antes, é invocado um dos mais belos cantos da liturgia católica, aquele que proclama que a inteligência vem do Alto: "Veni, Creator Spiritus/ mentes tuorum visita,/ imple superna gratia/ quae tu creasti pectora" ("Vem, Espírito Criador,/ visita as mentes dos teus,/ preenche da graça do Alto/ os corações que criaste"). Se estão de solidéu, os padres devem tirá-lo quando abençoam o povo com o ostensório, onde exibem a hóstia consagrada, ou com uma relíquia da cruz em que Jesus Cristo foi crucificado. O primeiro registro do significado dessa palavra aparece em latim nas Obras Poéticas de Pedro António Joaquim Correia Garção (1724- 1772): "Amigo Frei Joaquim, assim.../Tragas veste, calção de linha Oufana,/ Por Soli-Deo na tola huma bandeja". No português do século XVIII, veste designava a roupa do sacerdote, tola era cabeça e calção, calça. O autor desses versos, que durante alguns anos foi editor da Gazeta de Lisboa, era membro da Arcádia Lusitana, associação de escritores fundada alguns meses após o terremoto de Lisboa, ocorrido em 1755, por três bacharéis de Direito. Eles faziam oficinas de leitura para criticar textos literários. Daí o tom anticlerical de sua produção poética, pois Portugal já vivia sob as luzes de Sebastião José de Carvalho, o Marquês de Pombal (1699-1782), o todo-poderoso ministro do rei português Dom José I (1714-1777) que expulsou os padres jesuítas de todo o reino, incluindo o Brasil.
Trouxa: do espanhol troja, carga que se leva às costas, talvez radicado no latim torsa, torcida, do verbo torquere, torcer, pelo modo como se punha a carga nas costas de homens ou de animais, reunidas em primitiva embalagem, as sarcinae, plural de sarcina, volume, embrulho, pacote, saca. No latim, as sarcinaria jumenta eram os animais que transportavam os materiais bélicos. Fazer alguém de trouxa é tratá-lo como a esses animais, enganando-os no pasto, oferecendo alimento para que possam ser capturados e depois receberem trouxas sobre o lombo. O trouxa também pode ter sido assim chamado por vestir a roupa tirada da trouxa, amarrotada.
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