Os homens não foram feitos para ser monógamos.” A frase é do norte-americano Dan Savage (47), que escreve sobre relacionamentos e sexo no semanário The Stranger, de Seattle, Estados Unidos. Ele defende a ideia de que algumas pessoas precisam de mais de um parceiro sexual, e que o discurso sobre monogamia é desonesto. Sua proposta: um acordo aberto entre o casal, permitindo traições, para salvar a relação.
A ideia não é nova. Desde a década de 1970 há propostas para acabar com a monogamia: a relação aberta, na qual cada parceiro pode ficar com outras pessoas e relatar ou não as escapadas, a depender do que foi combinado; o swing ou troca de casais, em que a traição é permitida desde que ambos sejam infiéis na mesma hora, no mesmo local, com parceiros preestabelecidos e às vistas um do outro; o poliamor, cujos adeptos estão autorizados a pular de galho em galho acumulando vários romances paralelos, desde que todos os envolvidos estejam a par da situação e sejam informados quando um novo membro passa a fazer parte do grupo. E entre uma e outra categoria ainda existem subclasses como “amizade colorida”, “ficantes” e “sex delivery”.
A julgar pelo número de alternativas criadas para acabar com monogamia, podemos supor que isso não é tarefa fácil. De fato, apesar das promessas de prazer sem culpas, relacionamentos intensos, experiências maduras e libertadoras e a oportunidade de passar o resto da vida sem privar-se de seduzir, encantar e se apaixonar, a monogamia continua firme, ainda que gere culpa e repressão.
Se relações abertas são tão bacanas, por que todos não aderem de uma vez? A resposta está nas palavras do sociólogo polonês Zygmunt Bauman (86). Ele afirma que há dois valores indispensáveis para uma vida feliz: segurança e liberdade. Juntos, porque, no limite, segurança sem liberdade é escravidão, e liberdade sem segurança é o caos. Mas é difícil ter as duas coisas ao mesmo tempo. Quando nos sentimos seguros nossa liberdade fica comprometida. E liberdade plena acaba causando insegurança.
Para Bauman, o homem passa a vida tentando equilibrar esses dois polos. E, caro leitor, se isso é difícil para qualquer pessoa, imagine para quem está amando!
Em qualquer relação existe o risco da perda. Quanto mais aberta ela for, maior esse risco, pois cresce a chance de um dos dois se apaixonar por um terceiro. Além disso, sempre há a possibilidade de algo abalar o poder de sedução dos cônjuges (quilos a mais ou a menos, falta de dinheiro para se cuidar, gravidez). A insegurança por não estar atraente e o medo de perder o outro transformam a balança da liberdade/ segurança numa gangorra.
É por isso que na monogamia parte-se do pressuposto de que, se um está contente com o outro, melhor não procurar. É por isso que relações abertas podem ser tensas e com data curta de validade. É por isso, enfim, que a maioria prefere não arriscar. Esclarecimento: um leitor considerou simplista a forma como abordei a infidelidade na edição 943. Esclareço que é muito difícil esgotar assunto tão complexo no espaço da coluna, razão pela qual decidi abordá-lo em quatro textos. O da edição 943 foi o primeiro, este é o segundo e haverá mais dois. Além disso, minha intenção é sempre provocar reflexões e não dar a última palavra.