Redação Publicado em 16/01/2009, às 16h48 - Atualizado em 11/01/2013, às 15h28
Tudo começou em 1952 com o anúncio de jornal "Procura-se um galã para Nicette Bruno". Recém-chegada a SP, a atriz nascida em Niterói, RJ, há 76 anos, precisava de um parceiro para a peça Senhorita Minha Mãe. Paulo Goulart (76) fez o teste e não só conquistou o papel como o coração da mocinha. "Foi um encontro curioso. Ela fumava, usava boina. Achei bonitinha. Todo homem grande tem atração por mulher pequena. Um amigo, Abelardo Figueiredo, foi nosso Cupido. Falei que gostaria de namorar Nicette e ele foi contar para ela", recorda o ator, na Ilha de CARAS. "Abelardo me disse que Paulo estava apaixonado. Na estreia da peça, dançamos juntos. Naquela época, namoro era conversar e andar de mãos dadas", avisa ela. Dois anos depois, Nicette e Paulo se casaram e construíram uma história vitoriosa. "O amor fundamenta tudo", assegura ela. Os dois, somados, participaram de 114 peças e 79 novelas, e tiveram três filhos, a atriz e diretora Bárbara Bruno (52), a atriz Beth Goulart (47) e o ator, coreógrafo e bailarino Paulo Goulart Filho (43); além dos netos Vanessa (33), Leonardo (24) e Eduardo (30), herdeiros de Bárbara; Clarissa (24), Luana (22) e Paula (20), de Paulo, e João Gabriel (26), de Beth; e as bisnetas Bruna (6) e Beatriz (2).
- Há algum segredo para manter um casamento por 55 anos?Paulo - É uma adequação. Cabe a cada um achar a forma de respeitar a individualidade do outro e ver o que pode melhorar. A vida é um aprendizado permanente. Se não exercitar a paciência, o entendimento, se briga por bobagem.
Nicette - Tudo na nossa vida não tem segredo. Somos pessoas diferentes, de formas distintas, mas nossas essências são parecidas. Isso faz com que se crie uma sintonia.
- Hoje, muitos casais não resistem a uma união duradoura...Paulo - São outras gerações. Nossos três filhos são separados. Nos últimos 50 anos, as mudanças foram galopantes por causa da liberdade da mulher, por exemplo. E hoje, mesmo com pais separados, casais educam filhos juntos, sem cortar relações, como antes. Viver não faz sentido sem evolução.
- O amor muda com o tempo?Paulo - Nosso sentimento hoje não é forte apenas, tem raízes mais profundas em tudo que construímos e nas coisas que foram conquistadas com muito trabalho.
Nicette - Também acredito que o sentimento vai se solidificando, ficando mais consistente.
- Como um vê o outro?Paulo - Nicette é minha esposa, amante, companheira, amiga. Hoje é minha mãe também.
Nicette - Tive outros namorados, mas Paulo foi meu primeiro amor. Não consigo me ver sem ele. Encontrei minha outra metade. Nosso fundamento religioso e filosófico se baseia no espiritismo. Acreditamos em Deus, no processo reencarnatório e que vivemos um reencontro. Talvez em outra vida tenhamos nos desencontrado ou tido empecilhos para ficarmos juntos. Mas isso muito hipoteticamente. Quero aproveitar esse momento para atingirmos o ponto máximo dessa relação.
- Enfrentaram crises?Paulo - Não. Já tivemos discordâncias sobre determinados assuntos. Temos maneiras de pensar diferentes e somos teimosos. Mas nossas decisões sempre foram tomadas em conjunto. Tivemos briguinhas de cada um dormir para um lado da cama, mas no dia seguinte os dois pediam desculpas.
Nicette - A separação nunca passou pela minha cabeça. Ao contrário, a cada filho que surgia, era um renascer de união e aprendizado.
- Vocês são românticos?Paulo - Nicette é. Claro que tenho uma dose também, mas não sei definir isso.
Nicette - Ele é também, à maneira dele. Paulo é muito bonitinho, traz flores. Às vezes, também me traz café na cama ou vai para a cozinha. Vivemos um pouco o século passado (risos). É muito gostoso. Atenção e surpresas são fundamentais para renovar a relação.
- E vocês têm ciúmes?Paulo - Claro. Imagina se gosto de ver alguém beijando minha mulher? Sei que é profissional. Mas você tem que saber diferenciar. E se você está bem abastecido, é outra história. Não vamos misturar alhos com bugalhos (risos).
Nicette - É um ciúme saudável. Nunca brigamos, discutimos e não damos motivos. Sempre fui expansiva. Tratava todo mundo como "meu querido", beijava meus colegas. Paulo achava estranho. Então, fizemos um pacto: se o sentimento acabasse, o outro seria o primeiro a saber. Isso nos deu confiança. Sabíamos que o sentimento maior era nosso. Com os outros, era amizade, amor fraterno, que a gente conserva até hoje. Tanto que somos uma família agregadora.
- Há diferenças entre vocês?Paulo - Acham que somos iguais. Mas não é assim. Temos as mesmas essências e valores, mas a maneira de interpretá- los e vivenciá- los é diferente. Digo que o macho da casa é ela. Sempre que saio, falo onde vou e o que farei. Ela, não. É temperamento. Se você começar a cercear, a pessoa não gosta.
- Além do amor pela atuação, o que gostam de fazer?Paulo - Gosto de escrever. Sou escritor bissexto. Já tenho quatro ou cinco peças. Uma delas, La Ultima Noche, fiz com o Stepan Nercessian. Também comecei a fazer crônicas. A acomodação é o princípio da aposentadoria. E quem para de trabalhar, começa realmente a envelhecer. Quero morrer como árvore: de pé.
Como é trabalhar juntos?Paulo - É ótimo. De modo geral, atuamos muito no teatro e pouco em TV, talvez pelo fato de sermos um casal óbvio. No palco, podemos comandar nossos projetos. Voltamos a encenar O Homem Inesperado, em São Paulo, e devemos levar a peça para Portugal. No segundo semestre, produziremos outro espetáculo, Retratos de Vida.
Nicette - A gente se entende. Pela energia e pelo olhar.
- Como lidam com o sucesso?Paulo - Não nos colocamos como pessoas célebres. Temos uma fama. A celebridade sofre mais. Eu vou a supermercado e não tenho problemas em me relacionar com as pessoas, de tirar uma foto.
Nicette - Não se pode deixar o sucesso subir à cabeça, senão você perde o rumo, deixa de ter consciência de que tudo é efêmero
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