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O amor, o sexo e a sensualidade não são mais monopólios da juventude

Redação Publicado em 27/09/2011, às 10h18 - Atualizado em 08/08/2019, às 15h43

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O pensador francês Charles Fourier (1772-1837), famoso no início do século XIX por bem-humoradas ideias feministas e contra a monogamia, dizia que todo sexagenário exalta e sente saudade dos prazeres da juventude, ao passo que nenhum rapaz trocaria seus amores pelas distrações dos idosos. Em muitos casos, pode ser, mas nem sempre. Basta olhar em volta para constatar: quantos senhores e senhoras não estão mantendo a energia da juventude e prolongando suas vivências afetivas e sexuais para além dos limites convencionados no passado?

Mesmo nesta época de culto ao físico e à jovialidade, pode-se dizer que a inveja entre gerações está se tornando mais equilibrada. Sim, porque os jovens continuam tendo muita energia, porém pouca experiência e parcos recursos financeiros, mas muitos dos mais maduros, além da experiência e dos recursos angariados ao longo de sua existência, ainda estão conseguindo manter a energia da juventude por mais tempo.

Não estamos falando de nenhuma revolução nas etapas da vida, todos temos de passar por elas, mas é fato que a “ditadura” da juventude vem sendo abalada pela reabilitação do amor, da sensualidade e do prazer de viver em idades mais avançadas. Não se extinguiram, claro, os idosos mal-humorados, que já entregaram os pontos e olham com desdém e inveja para os contemporâneos mais animadinhos. “Safados”, pensam. Os menos rígidos, porém, se estão insatisfeitos, podem tomá-los como exemplo para repensar sua estagnação. Hoje, medicamentos já resgatam a virilidade e psicanalistas podem ajudar a recuperar o desejo e o bom humor — mas também o bom senso, afinal o tempo passou e não se pode retornar à juventude tal qual ela foi.

É certo que muitos chegam à conclusão de que a sexualidade é escravidão, que é melhor se livrar dela. Assim pensava o grego Sófocles (496-406 a.C.), o rei da tragédia: a se acreditar em Platão (427-347 a.C.), Sófocles comemorou sua chegada aos 80 e a abolição da submissão ao desejo. Eu também tive uma amiga que torcia para chegar à velhice e, serenamente, livre do jugo sexual, ler todos os livros que quisesse. Já Sigmund Freud (1856-1939), o criador da Psicanálise, por volta dos 40 anos comentou que quando se livrasse da sexualidade escreveria uma história sexual da Humanidade!

Pois hoje as idades perderam as rígidas significações anteriores. É preciso rever o que quer dizer ter 50, 60, 70 anos, e assim por diante. Como bem diz o ensaísta e romancista francês Pascal Bruckner (62), “alguma coisa fundamental se modificou em nossa relação com o tempo, ganhamos duas décadas de vida suplementares, prolongaram-se para todos os encantos da capacidade de desejar”. De fato, estendemos nossa vida com mais cuidados, remédios, vitaminas ou apurados exames. E também estamos mudando nossa mentalidade. A meu ver, Sófocles e Freud estavam enganados neste detalhe: o desejo não tem a ver só com o tempo, a idade, o corpo — ter a ver também com a alma, suas ânsias e frustrações, suas carências atemporais.

A festa foi estendida, sim, mas ninguém recebeu passe livre para a imortalidade. Não dá para negar o envelhecimento, o que é possível é estender o viço e diminuir as amarguras que sempre cercaram os que vão deixando a juventude — porque ela simplesmente não detém mais o monopólio do amor e da felicidade.