Namoro pela Internet é mais um recurso. E não deve ser descartado
Nahman Armony Publicado em 10/02/2006, às 16h32
A tecnologia avança a passos de gigante e, em geral, os mais velhos têm dificuldade de usar os novos instrumentos de comunicação. Eles se intimidam diante desses "monstros eletrônicos". Resistem até a utilizar computadores de forma primária, como simples máquinas de escrever. Expor-se, então, em orkuts, blogs e sites de busca, nem pensar. E não se trata apenas de resistir ao ET invasor de velhos hábitos. Significa também enfrentar o demolidor de estruturas de personalidades apoiadas em sólidos valores tradicionais. Falo de pessoas que vieram de uma época em que o recato era uma qualidade muito prezada. Mais para mulheres do que para homens. Mesmo estes, embora devessem ser ousados, precisariam sê-lo de forma discreta, respeitosa, não exibida. O exibicionismo e mesmo a exibição eram malvistos e comprometiam a credibilidade da pessoa. Anunciar-se nos meios de comunicação como se fosse um produto a ser comprado era de mau-gosto. Ai de quem fosse apanhado nessas práticas. Cairia na boca do povo e se desmoralizaria.
Para as novas gerações, tudo é diferente. Freqüentar os sites de relacionamento é algo tão natural quanto freqüentar shoppings, bares, cinemas e boates. Também os valores são outros. Exibicionismo e exibição fazem parte da cultura atual. A participação em blogs, orkuts e cadastros amorosos flui como ar sendo respirado por todos. A vida de cada um é diário aberto à visitação pública. Nada de vergonha, recato, privacidade. Tudo é dito para todos. São novos tempos, que assustam e chocam as gerações mais antigas. Gerações que, à diferença da atual, têm dificuldade de se adaptar a mudanças. Os jovens de hoje são seres mutantes e têm de sê-lo, pois tudo se transforma rapidamente. Quanto mais distantes da juventude, mais dificuldades temos em nos transformar para incorporar novas tecnologias e valores. Mas seria recompensador aderir à nova onda. Uma queixa constante de pessoas não tão jovens, mas não tão velhas é a solidão. Quando sugiro o recurso da Internet, incluindo a forma de cadastramento amoroso, parece que vêem em mim um ser diabólico disposto a fazê-los vender a alma à nova mídia. E, no entanto, essa é uma oportunidade oferecida pela nova tecnologia aos tímidos, aos retraídos, aos que se isolam.
É verdade que o anonimato possibilitado pela Internet pode levar a decepções. A beleza física é também importante para o impulso amoroso. E por algum tempo se estará falando com um ser vaporoso, um fantasma sem corpo, uma pura escrita. O encontro com a pessoa real poderá ser decepcionante. Mas riscos existem em todas as situações. Um casal que se apaixone à primeira vista pelos atributos físicos e pela comunicação expressiva facial e corporal corre também o perigo de, ao aprofundar a relação, descobrir diferenças que a incompatibilizem. Nesse caso, pode até ser que o namoro virtual seja vantajoso; por mais que uma pessoa transmita dados falsos a respeito de si mesma, uma coisa não poderá deixar de ser verdadeira: o modo de se relacionar, de lidar com os sentimentos alheios, a delicadeza em relação à sensibilidade do outro.
O amor à primeira vista tem a ver com a premência de apaixonamento, pulando a etapa de um conhecimento recíproco. Quando o casal se dá conta das incompatibilidades, os fortes laços estabelecidos tornam difícil a separação. Na Internet, pela própria natureza do meio de comunicação, a paixão mais facilmente fica em compasso de espera, só se manifestando quando certo conhecimento mútuo foi adquirido. Quem sabe se nessas circunstâncias as possibilidades de acerto não são maiores? Não estou fazendo apologia do namoro pela Internet. Apenas sugiro que é mais um recurso, entre outros. Um recurso que não deve ser descartado por preconceito ou medo.
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