A beleza pode, sim, transformar o mundo, porque tem a capacidade de nos transmitir alegria e felicidade. Quem concorda com esse meu ponto de vista é ninguém menos que o sociólogo italiano Domenico De Masi
Muita gente pode achar que estar cercado de coisas belas não faz a menor diferença na nossa vida. Mas eu acredito que é exatamente o oposto disto: a beleza pode, sim, transformar o mundo, porque tem a capacidade de nos transmitir alegria e felicidade. Quem concorda com esse meu ponto de vista é ninguém menos que o sociólogo italiano Domenico De Masi, conhecido no mundo inteiro por ser autor do livro O Ócio Criativo. De Masi esteve no Brasil participando de um congresso sobre educação. Segundo ele, a estética irá se tornar o principal fator competitivo no mercado de trabalho daqui para frente, já que as tecnologias estão cada vez mais sofisticadas, e os produtos pouco irão se diferenciar neste sentido. "Em 2020, apenas a qualidade formal dos objetos será interessante", disse. Confirmada a relevância do tema, aproveitei a passagem do sociólogo pelo Brasil para conversar com ele: Qual é a importância do design na vida das pessoas hoje e no futuro? O design tem uma importância extraordinária porque traz beleza à vida cotidiana. Antes, a beleza era só para os ricos, estava nos palácios e nas igrejas, não na casa das pessoas. O povo não tinha casas bonitas. Foi apenas na segunda metade do século XIX que a beleza se tornou mais democrática, e foi nessa mesma época que passou a ser possível fabricar coisas bonitas em grandes séries. A clássica cadeira número 11 do Thonet [o construtor de móveis austríaco Michael Thonet] foi criada em 1848 e até hoje é uma das peças mais vendidas no mundo, mesmo que um pouco modificada. Hoje, somos acordados de manhã por um rádio-relógio com um design belíssimo; depois, escovamos os dentes com uma escova desenhada pelo Phillipe Starck; depois, nos sentamos numa cadeira dos irmãos Campana e acendemos uma luminária de Caccia Dominioni. Enfim, o design é uma arte que introduz a beleza em todos os instantes da nossa vida. Então qual é a importância de termos um senso estético apurado? Ter senso estético é importante porque ele te dá alegria, felicidade - ele é a harmonia entre nós e uma coisa. Por exemplo, o seu rosto: olho para ele, que é bonito, e fico feliz. Já dizia Keats [o poeta inglês Jonh Keats]: "uma obra de arte é uma alegria que dura para sempre". Mas uma obra também é para sempre não só quando é bela. Para os gregos, uma obra de arte deveria ter equilíbrio. Para nós, dever ter um elemento surpresa. O senhor acredita que a arquitetura que vemos hoje nas cidades também tem condições de trazer mais beleza para nossas vidas? Nós temos muita sorte, porque depois do Renascimento e do Barroco, não havia mais acontecido nenhuma fase de explosão arquitetônica. Agora, ao contrário, é uma maravilha, as cidades estão se transformando completamente. Oscar Niemeyer criou uma, que é Brasília, mas ele também transformou São Paulo. Na manhã de hoje eu fui à Oca, ao Memorial da América Latina, e cada vez que venho aqui eu revejo essas obras de arte, por que são obras-primas absolutas. Gehry [Frank Gehry] transformou Bilbao. Nouvel [Jean Nouvel] transformou o skyline de Barcelona, assim como havia feito Gaudí. A arquitetura contemporânea é uma alegria extraordinária, devemos ser gratos aos grandes arquitetos. Dubai é uma obra-prima, a nova Berlim, também. Devemos ser gratos a eles porque estão deixando o mundo mais belo.