por Deonísio da Silva* Publicado em 26/04/2010, às 12h48 - Atualizado às 12h48
Cubata: do quimbundo kubata, casa, da expressão kubata, em casa, designando choça, choupana coberta de folhas, comum na África lusófona. Designou também o quarto da casa grande onde dormiam as mucamas domésticas. As outras escravas dormiam na senzala. Foi esta a origem das dependências de empregada quando começou a urbanização. Uma prostituta recebe o narrador para prestar-lhe serviços sexuais numa cubata, em romance muito bem escrito, intitulado O Planalto e a Estepe, de Pepetela, pseudônimo do escritor angolano Artur Carlos Maurício Pestana dos Santos (68), cujos primeiros capítulos se passam em Angola nos tempos coloniais: "O João ficou fora da cubata, a dar pontapés nas árvores, furioso e impotente, o inútil dinheiro na mão. Esperou no entanto por mim. Demorei, porque quis mais". A menina dá estranha explicação para não receber o amigo do jovem cliente, que ali estava pela primeira vez: "Porque se um branco souber que me deitei com um negro, não vai querer se deitar mais comigo. E os brancos é que têm dinheiro".
Fritas: da redução de batatas fritas, este adjetivo plural mudou para substantivo e designa um dos pratos mais populares do Brasil. A origem remota é o taino batata, batata, que veio para o português como batata-inglesa, com o fim de diferenciá-lo da batata-doce, já consumida pelos índios brasileiros. Como é muito menor, tornou-se conhecida também como batatinha. Já fritas é plural feminino de frito, do latim frictum, particípio do verbo frigere, fritar. O inventor das fritas foi o agrônomo e alquimista francês Antoine Augustin Pamentier (1737-1813). Até então as batatas eram assadas ou cozidas, segundo nos informa Silvio Lancelotti (66) em O Livro da Cozinha Clássica - A História das Receitas Mais Famosas da História (Editora LPM). A batatinha tinha má reputação na Europa, a ponto de ter surgido em Portugal a expressão "vá plantar batatas", ordem dada aos desempregados urbanos durante reiteradas crises econômicas. Depois virou forma de xingamento.
Invejar: de inveja, do latim invidia, inveja, vontade de não ver, despeito. No latim, invidia designa também uma demônia, deusa do Mal, filha da Noite. Invejar foi causa do primeiro crime, ainda no Paraíso, levando Caim a matar Abel. Até papas invejaram muito. Bento VI (925-974) foi estrangulado a mando de Bonifácio VII (930-985), também assassinado anos depois, porque este não suportou a inveja de ver o outro e não ele elevado ao trono de São Pedro. O compositor italiano Antonio Salieri (1750-1825) envenenou o compositor austríaco Wolfgang Amadeus Mozart (1756-1791), inconformado pelo fato de um indisciplinado ser gênio musical. O filósofo inglês Bertrand Russel (1872-1970) disse que invejar "torna o invejoso infeliz" e que, "de todas as características vulgares na natureza humana, a inveja é a mais desgraçada".
Omelete: do francês omelette, fritada de ovos, palavra formada provavelmente de esdrúxula transformação de alumelle, navalha, lâmina arredondada de algumas armas, dita também alumette e alemette, por influência do latim lamella, lâmina pequena. O alimento foi comparado a uma lâmina por sua espessura fina. Existe uma lenda de que quem inventou este alimento de dois gêneros foi o médico inglês Oswald Mellet. Tendo abandonado o exercício da Medicina, abriu um restaurante onde eram servidos ovos à O. Mellet. Esta versão surgiu na Universidade de Cambridge talvez por algum professor inglês inconformado com a precedência francesa. Mas os romanos já saboreavam o prato no século I de nossa era, conforme atesta o livro De Re Coquinaria (Sobre a Culinária), de autoria de Marco Gavio Apicius (século I).
Polenta: do latim polenta, farinha de cevada torrada ao fogo, do mesmo étimo de pollen, farinha fina, pelo italiano polenta, designando comida rústica feita originalmente com farinha de trigo - frumento, em italiano - e depois com farinha de milho - frumentone, granturco, maís, em italiano, os três nomes mais comuns na Itália para designar o milho. Os antigos romanos trouxeram a polenta da Grécia, onde já era conhecida em cerca de 500 a.C. e feita de trigo também, já que o milho, nativos das Américas, só chegaria à Europa no alvorecer do século XVI.
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