Etimologia
por Deonísio da Silva* Publicado em 09/06/2010, às 20h29 - Atualizado às 20h30
Boné: do latim abonnis, tira de pano sobre a cabeça, pelo francês bonnet, gorro, barrete. Veio a designar espécie de chapéu sem abas ao redor de todo o cocoruto, apenas na frente, para proteger os olhos. Tornou-se parte do uniforme de muitos trabalhadores e há várias décadas é utilizado como instrumento de divulgação de empresas e entidades, de que é exemplo o boné do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST). O primeiro sem-terra não usava boné. Foi o rei inglês João Sem Terra (1167-1216), irmão do rei Ricardo Coração de Leão (1157-1199) e filho de Henrique II (1133-1189), que não lhe deixou terra alguma, daí o apelido. O monarca acabou por ensejar a primeira Constituição do mundo, a Carta Magna, exigida pela nobreza britânica em 1215. Botar o boné no marido é traí-lo. Pedir o boné é demitir-se. Segundo nos informa o cartunista e cronista catarinense Dante Mendonça (61) no livro Serra Abaixo Serra Acima (Bernúncia Editora), a cidade de Apucarana (PR) é a capital nacional do boné, título que lhe foi conferido em 2009 pela Assembleia Legislativa. E acrescenta: "Agora, procura-se um deputado para achar um prefeito disposto a receber o título de Capital do Chapéu na Mão". Ele informa também que o primeiro edifício de Camboriú (SC), Capital dos Aposentados do Paraná, chamou-se Londrina: "De faro fino, os vendedores de imóveis percorriam o norte e o sudoeste do Paraná no encalço de fazendeiros endinheirados para lhes vender lotes no paraíso à beira-mar".
Coreografia: de coreo, do grego khoreía, pelo latim chorea, dança, e grafia, do grego graphês, escrita, descrição, designando movimentos de dança. Jogadores de todo o mundo, principalmente africanos e brasileiros, têm inventado novas formas de celebrar os gols que marcam. Edson Arantes de Nascimento, o Pelé (69), inventou o soco no ar. José Reinaldo de Lima, o Reinaldo (53), não corria nem pulava: erguia um dos braços, parado. Jogadores de diversos times criaram outros modos de comemorar os gols e têm alegrado os estádios com danças que lembram o reboleixon, pronúncia debochada de suposto inglês rebolation. Essa modalidade de dança surgiu nas reives, do inglês rave party, festa de arromba, locais em que vinham sendo oferecidos vários tipos de música e dança. A reboleixon, por exemplo, espalhou- se do carnaval baiano deste ano para todo o Brasil, mas está ganhando novas expressões nos campos de futebol. Feldspato: do alemão Feldspat, pela junção de Feld, campo, e Spat, rocha, nome genérico de mineral utilizado em vidros e cerâmica, porcelanas, esmaltes, polidores, sabão, prótese dentária, construção civil e sinalização de estradas. Conquanto rara, a palavra está na boca de muitos, designando algum material usado na recuperação dos dentes. O grupo mineral ao qual pertence o feldspato está presente em 60% da crosta terrestre. No Brasil, as reservas são estimadas em 79,3 milhões de toneladas e estão localizadas em Minas Gerais, São Paulo, Nordeste, Rio de Janeiro e Santa Catarina.
Pelourinho: do latim pilorium, pilar, sinônimo de columna, coluna, pelo francês pilori, designando marco alto, de pedra ou de madeira, onde eram amarrados, exibidos e castigados os criminosos. A influência da pronúncia francesa prevaleceu no português. No latim dizia-se "pilórium", mas no francês era dito "pilorí". O Largo do Pelourinho, em Salvador, é o principal patrimônio arquitetônico da Bahia.
Seleção: do latim selectione, declinação e selectio, seleção. No latim, este "t" tem som de "s", como no português. A ideia é de escolha, presente no verbo seligere, escolher, optar, preferir. A variante legere, em latim, é ajuntar, reunir, colher, como se faz na colheita, e é o mesmo étimo de ler, do latim legere. Quando, em 11 de maio, o técnico da seleção, Carlos Caetano Bledorn Verri, o Dunga (47), fechou a lista de convocados para a Copa da África do Sul, decepcionou a muitos e agradou a outros tantos. A maioria deles não joga no Brasil. Para explicar a ausência de jogadores fantásticos como Neymar (18) e Ganso (20), do Santos, o técnico disse que privilegiou a experiência. Vicente Ítalo Feola (1909-1975) e Aymoré Moreira (192-1998), campeão e bicampeão em 1958 e 1962, respectivamente, não pensavam assim e levaram Pelé (69) e Amarildo (71), o primeiro com 17 anos, o segundo com 23. E os dois jovens marcaram os gols decisivos nas duas Copas.